Entendendo a nova direita do Brasil, seu avô homossexual e seu pai ocultista
Uma análise evangélica conservadora da “nova direita brasileira” de Nick Burns
Julio Severo
O
brasilianista Nick Burns produziu um longo artigo intitulado “The
New Brazilian Right” (A Nova Direita Brasileira) em 2019, abordando as
forças que controlam o governo do presidente brasileiro Jair Bolsonaro.
Embora o
socialista Fernando
Haddad, que perdeu as eleições presidenciais brasileiras para Bolsonaro em
2018, atribuísse sua derrota aos evangélicos, desde que Bolsonaro foi empossado
em 2019, seu foco principal não foi os evangélicos, pois cargos no Ministério
da Educação, Relações Exteriores e até mesmo na embaixada brasileira nos
Estados Unidos foram entregues a um grupo extremista direitista.
Burns disse:
“Finalmente,
há uma presença evangélica, inclusive um punhado de ministros liderados por uma
pregadora visivelmente pouco carismática chamada Damares Alves, uma das duas mulheres
em ministérios governamentais. Os evangélicos, cujas fileiras aumentaram
consideravelmente nas últimas décadas nesse país historicamente católico, agora
representam cerca de 30% dos brasileiros e foram o único bloco que votou
decisivamente a favor de Bolsonaro em 2018. Há uma influente bancada evangélica
no Congresso Nacional, mas as estatísticas de evangélicos nos ministérios
governamentais não parecem ter um grande destaque nas negociações internas do
governo.”
Embora eu não
concorde com Burns em todos os pontos, seu artigo nos ajuda a entender por que
os evangélicos, que foram decisivos para a eleição de Bolsonaro, foram
amplamente ignorados depois da posse dele.
Para
compensar a fraca presença evangélica em cargos governamentais, Bolsonaro
frequentou cultos em igrejas evangélicas para receber orações como um sinal de
que ele se importa com seus eleitores evangélicos.
Contudo,
cargos, especialmente cargos em ministérios governamentais de alto nível, ele
deu ao grupo extremista. Por exemplo, antes de sua posse, Bolsonaro nomeou um
membro do grupo extremista para ministro da Educação, o qual fracassou em
alguns meses, e Bolsonaro nomeou outro membro desse grupo. Depois
que esse membro também fracassou, finalmente Bolsonaro nomeou um presbiteriano,
Milton Ribeiro. Ele nomeou evangélicos apenas quando não tinha escolha, mas
geralmente sua primeira escolha foi selecionar um membro do grupo extremista da
Nova Direita.
Talvez Bolsonaro
tenha nomeado Ribeiro como ministro da Educação por respeito aos evangélicos,
que foram seus principais eleitores em 2018. Mas parece que esse respeito não é
muito grande. Ao que tudo indica, ele não quer deixar os evangélicos
influenciarem muito o Ministério da Educação.
Logo antes de
nomear Ribeiro, Bolsonaro nomeou vários adeptos de Olavo
de Carvalho para o Conselho Nacional da Educação, a fim de garantir que a
influência de Carvalho prossiga na educação brasileira.
O Conselho Nacional de Educação é um órgão colegiado
integrante da estrutura do Ministério da Educação que atua na formulação e
avaliação da política nacional de educação. Dessa forma, o MEC estará sob
direção de um presbiteriano, mas a formulação da política nacional de educação
estará na prática sob a direção de olavistas.
A
nomeação de olavistas no Conselho Nacional da Educação pode indicar que
Bolsonaro se encontra hipnotizado pelo fascismo esotérico de Carvalho, pois todas as suas nomeações de olavistas foram um
fracasso.
Não há justificativa para continuar tais fracassos.
Não é de hoje que os
evangélicos, que foram considerados vitais para a eleição de Bolsonaro, ansiavam um cargo de ministro da Educação. Logo no
início de 2019, o televangelista
Silas Malafaia
havia recomendado o evangélico Guilherme Schelb para o Ministério da Educação,
mas sua recomendação virou pó diante da influência do guru
esotérico Olavo de Carvalho,
que indicou seu adepto Ricardo Vélez.
Uma boa qualidade de Vélez: ele não gostava do
socialismo. Duas péssimas qualidades dele: Ele
não gostava de Trump, mas gostava de Hillary Clinton.
Quando Vélez virou desastre no Ministério da Educação,
o
próprio Bolsonaro confessou que o havia escolhido cegamente. Ele disse:
“Errei no começo quando indiquei Ricardo Vélez como
ministro. Foi uma indicação do Olavo de Carvalho? Foi, não vou negar… Depois liguei
para ele: ‘Olavo, você conhecia o Vélez de onde?’”
Mesmo com o fracasso de Vélez, Bolsonaro deu nova
oportunidade a Carvalho, que indicou Abraham Weintraub em maio de 2019. Sem
demora, Weintraub anunciou que uma de suas prioridades seria aumentar o número
de creches. Minha reação veio no artigo “Ministro
da Educação Abraham Weintraub e seu socialismo de direita ou estatismo de
direita,”
em que eu disse:
“O conceito de creche — de afastar a criança da mãe o
mais cedo possível — é um conceito adotado, defendido e amplamente praticado no
socialismo.”
Em julho de 2019, sob Weintraub, o
MEC lançou uma campanha de astrologia para alunos na internet, mas deletou
posts logo depois de críticas de leitores de que tal campanha nasceu da
influência de Olavo de Carvalho, que tem histórico de astrólogo, no ex-ministro
da Educação.
O último problema de Weintraub foi em maio de 2020,
onde ele
foi criticado pela Embaixada de Israel no Brasil e por organizações judaicas no
Brasil e nos EUA por comparar batidas da Polícia Federal contra aliados à
perseguição nazista contra judeus.
Com Vélez e Weintraub, os
tentáculos da doutrinação ideológica de Olavo de Carvalho ameaçavam 57 milhões
de crianças e jovens nas escolas do Brasil.
Supõe-se que Bolsonaro não tenha dado a Carvalho
oportunidade de fazer uma terceira indicação (desastrosa) porque logo no ínicio
de junho de 2020, Carvalho
chamou o governo Bolsonaro de “merd*,” dizendo que pode derrubá-lo.
Em janeiro de 2020, Bolsonaro demitiu
Roberto Alvim, a principal autoridade da cultura brasileira, depois que Alvim
citou o nazista Goebbels
enquanto falava sobre arte nacionalista em um vídeo que tinha o compositor
favorito de Hitler tocando ao fundo. Alvim é um adepto fiel de Carvalho.
Para a Fundação Nacional de Arte, Bolsonaro nomeou
Dante Mantovani, um fiel adepto de Carvalho. Depois que Mantovani falou sobre o
que ele nunca deveria falar, ele foi demitido. Depois de intensa pressão de
Carvalho, ele foi reempossado e novamente demitido.
Entre declarações estúpidas de Mantovani estão:
“Terrabolistas são ótimos em fazer piadinhas acerca da
auto-evidente planicidade da superfície terrestre, mas são absolutamente
incapazes de apresentar um único argumento ou prova da delirante esfericidade
da Terra. O mais próximo que chegam de um argumento em favor da bola giratória
são as imagens de computação gráfica feitas pela agência de desinformação e
propaganda da Guerra Fria, a NASA, cujos próprios autores já vieram a público
dizer que é tudo fake.”
Olavo de Carvalho, o guru de Mantovani, Alvim e outras
autoridades do governo brasileiro, finalmente reconheceu que fez uma
recomendação errada no caso do ministro da Educação. Ele confessou que
recomendou Vélez a Bolsonaro, apesar de não ter contato com Vélez há mais de 20
anos! Essa foi a desculpa dele.
No entanto, no caso de Ernesto
Araújo, a quem ele recomendou a Bolsonaro como ministro de Relações Exteriores, ele disse que acertou na mosca. Araújo elogiou
abertamente Julius
Evola, o guru do ditador fascista italiano Benito Mussolini. Evola é autor de
vários livros de direita, antimarxistas e ocultistas. Sim, ele defendia ao mesmo tempo a ideologia
anti-marxista de direita e a bruxaria.
Tenho certeza de que ele acertou na mosca, porque
Araújo tem as mesmas preferências ocultistas que Carvalho tem.
Se o ocultismo deu azar para Evola e Mussolini, como
pode representar boa sorte para o Brasil?
As perguntas
são: Por que Bolsonaro ignorou amplamente os evangélicos para cargos no governo
desde sua posse? Por que ele tem privilegiado Carvalho e sua nova direita? O artigo
de Nick Burns responde à última pergunta.
Nick Burns
afirma que Bruno Tolentino é o avô da nova direita brasileira. Essa direita,
que recebeu a maioria dos cargos iniciais no governo Bolsonaro, não deve ser
confundida com o conservadorismo evangélico, que na prática elegeu Bolsonaro.
É difícil
negar a alegação de Burns de que Tolentino é o avô da nova direita brasileira no
governo Bolsonaro, porque Olavo de Carvalho, apelidado
de Rasputin de Bolsonaro, elogiou Tolentino muitas vezes durante décadas.
No artigo “Bruno Tolentino (1940-2007),” Carvalho
confessou que passou muitas noites com Tolentino, acrescentando que “Bruno
Tolentino não perdeu nada. O Brasil perdeu,” significando que a morte de
Tolentino foi uma perda para o Brasil.
De acordo com
Burns, Tolentino, que morreu em 2007, “foi diagnosticado com AIDS em 1996.” Burns
rotula Tolentino como um “ex-presidiário bisexual.”
“Em 1964,
Tolentino partiu para a Europa depois que um golpe militar destituiu o
presidente João Goulart,” disse Burns. Só os esquerdistas deixaram o Brasil em
1964. Em seu artigo, Carvalho explica que Tolentino viveu quase 30 anos exilado
na Inglaterra. Por que ele escolheu a Inglaterra, não Cuba, é um mistério que
Carvalho não explicou.
Burns
descreve Tolentino como “um mitologizador habitual de si mesmo” —
característica totalmente herdada por Carvalho. Então o avô da Nova Direita foi
um mitologizador de si mesmo que criou em Carvalho um mitologizador de si
mesmo. Tal avô, tal pai.
Burns diz que
Tolentino teve um “caso homossexual com um jovem inglês, Simon Pringle,”
acrescentando que “Tolentino obrigou seu ‘rapaz amante em jeans apertados’ [seu
parceiro homossexual Pringle] a ajudá-lo em uma tentativa de contrabandear
haxixe do Marrocos para a Inglaterra de barco.” Burns explicou como Tolentino e
seu parceiro homossexual fizeram seu contrabando de drogas: “Pringle lembra que
Tolentino relatou os detalhes da trama por um místico irlandês para descobrir
se os presságios favoreceriam isso.”
Tolentino foi
condenado por tráfico de drogas em 1987. Ele foi condenado a onze anos de
prisão, mas cumpriu apenas treze meses.
Esse não
parece o único envolvimento de Tolentino com o ocultismo, porque Burns disse:
“Tolentino também tinha uma tendência ocultista — mas ele nunca cometeu a
indignidade de divulgá-la.” Provavelmente, ele está aludindo que enquanto Carvalho
publicou vários livros sobre suas práticas ocultistas, Tolentino nunca publicou
nada sobre suas práticas ocultistas.
Burns disse
que o exílio de Tolentino na Inglaterra terminou com deportação. Ele disse:
“Em
setembro de 1987, Tolentino foi pego em Heathrow com um quilo de cocaína na
mala. Ele foi condenado a onze anos de prisão e cumpriu cinco… antes de ser
libertado e deportado para o Brasil em 1993.”
Para os
conservadores, a vida do avô da Nova Direita no Brasil era uma contradição.
Apesar de ser considerado “profundamente católico” e casado com uma mulher, ele
teve por vários anos um parceiro homossexual na Inglaterra e acreditava na
astrologia e no candomblé e regularmente consultava um místico irlandês.
Para os
brasileiros, não é estranho, porque o catolicismo no Brasil é tradicionalmente
sincrético. Simon Pringle acabou escrevendo o livro “Das Booty — Bruno
Tolentino, candomblé, tráfico e poesia: uma história real.”
Embora Burns
tenha mostrado que Olavo de Carvalho herdou de Tolentino muito de sua filosofia
direitista, ele foi incapaz de expor ou compreender outra grande influência
ocultista em Carvalho: o ocultista islâmico René Guénon — talvez porque hoje
Carvalho tenha feito um esforço extraordinário para esconder o fato de que ele
é autor de vários livros de ocultismo publicados na década de 1980.
Burns explica como a interação de Carvalho com Tolentino foi um dos fatores mais importantes para estabelecê-lo na direita. Ele disse:
“Carvalho
havia sido um crítico trotskista do regime militar, durante o qual ele se
envolveu com esoterismo e astrologia e escreveu críticas para a imprensa
convencional e alternativa. Na década de 1990, ele mudou-se para a direita e topou
com o círculo de Tolentino. Sob a influência de seu amigo, o poeta, que foi seu
hóspede durante algum tempo, Carvalho escreveu o que é considerado seu engajamento
intelectual mais aceito, O Jardim das Aflições.”
Burns mostrou
que, muito diferente dos conservadores intelectuais americanos, Carvalho
“decidiu…
afirmar que sabe tudo. Somente um autodidata poderia fazer tal afirmação…
Embora sua afirmação não tenha resultado em muito sucesso intelectual, ela foi
muito bem-sucedida politicamente. Basta olhar para o vídeo do YouTube em que
Carvalho insiste que não há ‘absolutamente nenhuma evidência’ a favor ou contra
o heliocentrismo para ver como exatamente teve sucesso.”
Os críticos
da “sabedoria” de Carvalho são tratados com crueldade e violência, disse Burns,
acrescentando:
“Todo
aquele que discorda dele é um idiota, analfabeto, deficiente mental,
microcefálico.”
Carvalho é
inflexível na ideia de que a Inquisição católica nunca matou nenhum judeu e
protestante e que é um mito e mentira criados por protestantes,
especialmente protestantes americanos. E quando você argumenta com sucesso que
ele está errado e mentindo descaradamente, seu contra-argumento “filosófico” é
insultar qualquer um que desafie seu status auto-concedido de homem que sabe
tudo sobre isso.
A esquerda, a
quem Carvalho reputa ser seu maior inimigo, não o incomoda nem ataca de forma
alguma a respeito da Inquisição. Na verdade, quem tem contestado de forma
suprema e, consequentemente, tem sido supremamente insultado por sua boca suja,
por apresentar fatos
históricos sobre a Inquisição é um conservador evangélico. Eu.
Mesmo nos
Estados Unidos, onde Carvalho vive em um exílio auto-imposto desde 2005, ele
não é atacado e colocado na lista negra como eu, apesar de ter recebido de
um hipnotizado Bolsonaro propaganda massiva.
Carvalho usa
o assunto
pró-Inquisição para agrupar católicos radicais ao seu redor.
Apesar de
Carvalho também se considerar católico, suas posturas sobre a homossexualidade
são confusas, e Burns percebeu isso. Carvalho acredita em uma homossexualidade
“natural” não condenada por Deus. Burns acha estranho que, como católico,
Carvalho não expresse claramente suas opiniões sobre a homossexualidade, mas ele
parece desconfiar da relação próxima de Carvalho com o homossexual Tolentino. Ele
disse:
“Talvez
ironicamente, a maneira como Carvalho descreve o caso intelectual entre ele e
Tolentino durante aquelas noites sem dormir em meados da década de 1990,
enquanto Carvalho escrevia O Jardim das Aflições, parece ecoar a discussão de
Sócrates sobre o amor pelo mesmo sexo no Simpósio: ‘gerar uma coisa bela por
meio do corpo e da alma.’”
Curiosamente,
Steve
Bannon, que foi influenciado por Guénon assim como Carvalho, também tem
opiniões estranhas sobre a homossexualidade. Tradicionalmente,
os ocultistas são mais propensos a abraçar, e menos a condenar, a
homossexualidade do que os cristãos conservadores.
Olavo de Carvalho e Steve Bannon |
Burns descreveu
a união de Carvalho e Tolentino:
“Dupla
improvável de um ex-astrólogo trotskista e um ex-presidiário bissexual, e a
história de como eles lideraram um punhado de descontentes beligerantes com
gostos ecléticos, biografias obscuras, poucas credenciais e nenhuma conexão
política para criar a forma mais antiga do que agora é a ideologia oficial do
governo brasileiro.”
Como prova
adicional de que a Nova Direita no governo Bolsonaro é diretamente influenciada
por Carvalho, Burns disse que Ernesto Araújo, o chanceler brasileiro escolhido
por Carvalho, “parece oferecer uma defesa conservadora não apenas da
superstição [ocultismo] popular, mas também, por procuração, da inclinação de
Carvalho para com o ocultismo.”
Araújo,
admirador declarado de Carvalho, é também admirador declarado de René Guénon,
há anos recomendado por Carvalho. Araújo também é um admirador declarado de
Julius Evola, um filósofo italiano que com seus livros que defendem o ocultismo
e a direita inspirou o fascismo e o nazismo.
Burns disse:
“Um
dos pontos baixos intelectuais de Araújo foi propor o boato ‘o nazismo era de
esquerda,’ que foi posteriormente levado em público por Bolsonaro, mesmo
durante uma visita de estado a Israel. A reação da imprensa brasileira e
internacional foi furiosa.”
Burns está
certo. Como
Araújo pode dizer que o nazismo era de esquerda se sua inspiração de direita é
Evola, a mesma inspiração de fascistas e nazistas? Araújo foi tão
contraditório quanto qualquer ocultista.
Embora para
sua eleição Bolsonaro dependesse de evangélicos, ele tem tido o cuidado de
conceder poder à Nova Direita, não a evangélicos conservadores. Burns disse:
“O
poder direto e visível que Carvalho exerce sobre o governo, desde a seleção e
escolha de ministros até o uso de sua presença nas redes sociais para semear discórdia
entre os militares e seus aliados no governo, é certamente sem precedentes.”
Como
Tolentino era muito elogiado por Carvalho, é preciso entender como os maus
hábitos do pai da Nova Direita estão influenciando o governo Bolsonaro.
Tolentino era um especialista em automitologização. De acordo com um obituário
escrito pelo estudioso literário Chris Miller, Tolentino era um personagem
“mais estranho que a ficção,” e suas afirmações sobre amizades literárias
tinham tantos exageros que tornavam muito difícil diferenciar a verdade da
ficção.
Tal é o
comportamento de um automitologizador e mitomaníaco. Isso está longe de
Carvalho, que foi influenciado por Tolentino?
Se Tolentino
é o avô da Nova Direita, Carvalho pode ser considerado o pai da Nova Direita
que colonizou o governo Bolsonaro?
“Eu sei lá o
que é a nova direita. Eu quero que ela se dane. É um bando de picaretas,” Carvalho
disse em entrevista
à Folha de S. Paulo, jornal que ele abomina como esquerdista, mas não perde uma
única oportunidade de ser entrevistado por eles. Abominar e aceitar ao mesmo
tempo é uma atitude oportunista.
Alguém tem
dúvida de que os olavistas são um bando de picaretas? A resposta de Carvalho só
confirma o que muitos já perceberam.
“Se a direita
brasileira aceita como ‘líder’ qualquer um que a grande mídia lhe apresente
como tal, o futuro da esquerda está garantido,” disse Carvalho, que a grande
mídia, inclusive a Folha de S. Paulo, apresenta como “líder” da direita
brasileira. A língua dele deu um tiro pela culatra.
Atacar e ao
mesmo tempo abraçar é um comportamento típico dos adeptos de René Guénon.
Quando o
presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, expulsou Steve Bannon, um adepto
de Guénon, da Casa Branca, ele disse:
“Steve
finge estar em guerra com a mídia, que ele chama de partido de oposição, mas
ele passava seu tempo na Casa Branca vazando informações falsas para a mídia
para se fazer parecer mais importante do que ele era. Essa é a única coisa que
ele faz bem. Steve raramente estava em uma reunião frente a frente comigo e só
finge ter tido influência para enganar algumas pessoas sem acesso e que não
entendem, pessoas a quem ele ajudou a escrever livros fajutos.”
Os
guenonianos são oportunistas e Trump viu isso muito bem. Carvalho
e Bannon tornaram-se aliados, mas Carvalho se distanciou de Bannon assim
que Bannon
se envolveu em escândalos.
Apesar de os adeptos
de Carvalho alegarem que ele luta contra o comunismo desde a década de 1980, na
verdade, na década de 1980 Carvalho viajou para os Estados Unidos para
participar de reuniões secretas de Martin Lings, um adepto de Guénon.
Bannon
e Carvalho são os modernos Julius Evolas: convenientemente populistas,
direitistas, católicos, mas ocultistas. Nick Burns parece ter ignorado isso.
Onde
Tolentino se encaixa nisso? Ele e Carvalho estiveram juntos o tempo todo quando
Carvalho escrevia seus best-sellers — O Jardim das Aflições e O Imbecil
Coletivo — na década de 1990 que acabaram inspirando a Nova Direita brasileira.
Aliás, eles estavam tão juntos que não se sabe se Tolentino foi o verdadeiro
autor ou inspirou a maioria das ideias de Carvalho.
Assim, as
origens suspeitas da Nova Direita Brasileira — com Tolentino, Guenon e outras
influências ocultistas — forneceram os ingredientes para transformar Olavo de
Carvalho em um novo
Julius Evola, um católico sincrético que se tornou o messias da Nova
Direita que defende apaixonadamente o revisionismo da Inquisição. Tudo isso
contribuiu para tornar Carvalho o Rasputin de Bolsonaro, altamente
premiado e propagandeado por Bolsonaro.
Se tudo der
errado no governo Bolsonaro, Carvalho será o primeiro a repudiar o que ele chama
de sua própria criação. Provavelmente, ele culpará os evangélicos.
“A direita
está repleta de puros doentes mentais,” disse Carvalho, fingindo esquecer que
esses doentes mentais têm um pai doente mental, oportunista, ocultista e
enganador. Essa é a direita que ele criou inspirado em Tolentino e Guénon.
“Por isso é
que, quando me apresentam como ‘filósofo conservador,’ a única resposta que me ocorre
é: — ‘Conservador é a puta que o pariu, que conservou você na barriga por nove
meses em vez de deixá-lo cair na privada,’” disse Carvalho.
Por que Jair
Bolsonaro tem impedido os evangélicos, que o elegeram, de terem uma presença
proeminente em seu governo, mas permitiu que “doentes mentais” e “um bando de
picaretas” colonizassem com destaque seu governo é um mistério que apenas as
forças das trevas e ocultistas sabem.
Já que a
única maneira proeminente que Bolsonaro permitiu que os evangélicos contribuíssem
para seu governo foi orando ou nomeando-os somente depois de fracassos enormes
de adeptos de Carvalho que ele havia indicado em primeiro lugar, os evangélicos
deveriam usar a oração para o bem do Brasil.
Eles precisam
orar, porque o
movimento guenoniano de Bannon, sabendo muito bem que os evangélicos foram
decisivos para a vitória de Bolsonaro, pretende explorar mais os evangélicos
brasileiros em seu próprio benefício.
O legado de
um avô homossexual e um pai ocultista na Nova Direita no governo Bolsonaro é
uma maldição enorme no Brasil.
Os
evangélicos conservadores que oraram pela derrota da esquerda e pela vitória de
Bolsonaro agora têm um novo desafio: orar contra as forças das trevas e ocultistas
da Nova Direita que colonizaram proeminentemente o governo Bolsonaro.
Versão
em inglês deste artigo: Understanding Brazil’s New Right and
Its Homosexual Grandfather and Its Occult Father
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3 comentários :
Para mim que estou fora do Brasil mas que está atento ao que se passa aí as coisas parecem-me mais simples.
O Brasil , cuja população é de cerca de 60 % de negros e pardos, é governada desde tempos imemoriais por uma elite branca.
Esta elite detêm a riqueza do Brasil e vive, em democracia ou liberdade, dependente de negociatas com os diversos governos. A corrupção, o compadrio fazem parte da estrutura econômica do Brasil.
As classes médias altas e altas do Brasil são esta elite que tem as seguintes características :
São de origem europeia. Quanto mais a norte melhor. As esposas são louras. Tem os filhos em colégios privados e usam saúde privada.
Ideologicamente são vagamente conservadores. Desprezam, não odeiam, pobre - sempre fazendo pobrice -, negro (pardo é negro) , viado pobre ou negro, escola pública, omnibus, favela, favelado e cortiço.
Desprezam a diarista que é evangélica e dá 10 por cento ao pastor mas admiram o pastor por ser um empreendedor.
São contra a legalização do aborto mas tiram filho no hospital privado.
- Imagina o povão a poder fazer aborto....se já assim é a devassidão dos pobres imagina liberado. Nós fazemos em Miami.
Aqui não há uma verdadeira ideologia. Não são muito cultos mas conhecem o suficiente do jogo politico para se manterem à tona.
O Olavo De Carvalho na Europa é uma piada. Na elite brasileira é um "intelectual" que cita, a quem nunca leu nenhum livro, textos que eles não entendem.
É de direita logo deve ser bom.
Bolsonaro é o que os brasileiros pardos e pobres queriam ser:
Branco, mulher nova, sem medo de dizer que é racista.
Se o pardo o defender poderá vir a ser visto como branco nas elites.
Para as elites pardo, negro ou pobre é igual. Pobre a fazer pobrice.
A estratégia de Bolsonaro é simples.
Não se comprometer com nada. Passa a responsabilidade para o congresso ou os tribunais.
Vai permitir inflação o que vai lhe dar margem para aumentar a distribuição de dinheiro. Dinheiro desvalorizado mas que para o povo parece muito. Uma ou duas privatizações , a preço de saldo e paga a todo o mundo e aínda fica com o troco, tem as grandes denominações evangélicas ao lado e a grande industria e agro negócio. Os traficantes , dependentes dos evangélicos para exportar e lavar o dinheiro, vão apoiar.
Eu não quero dizer que Lula ou o PT fariam melhor ou que são inocentes.
Quero dizer é que os evangélicos como o Júlio, que até acreditam em Deus (pasme-se!), comeram gato por lebre com o Trump e o Bolsonaro.
Eles são anti gays se isso lhes der vantagem. E desprezam os dizimistas....coisas de pobre a fazer pobrice.
Os principais ministros do governo Bolsonaro não são nem olavistas e nem evangelicos. Paulo Guedes, o superministro não é nem olavista e nem evangélico, mas parece não ser criticado nem por evangelicos e nem por olavistas, apesar da pessima situação da economia brasileira. Tanto olavistas como evagelicos disseminam a ideia que o estado é algo negativo, por isso nao criticam o Ministro com seu plano de desmonte do estado brasileiro. Enquanto isso, EUA e China fazem pesados investimentos estatais para obterem a vanguarda tecnologica mundial. Os EUA ja possuem drones capazes de assassinar uma pessoa qualquer em qualquer lugar do mundo. A China ja conseguiu teletranspotar um foton para o espaço. Ja o Brasil pretende chegar onde exportando soja e minerio de ferro e dando uma renda minima para a população a fim de nao estourar uma revolta popular? A quem interessa o desmonte de nosso estado nacional para que apenas sirvamos materia prima para a China? Será que o Brasil pode-se dar ao luxo de nao ter uma política nacional e apenas importar pautas sejam liberais ou conservadoras dos EUA, que na maior parte das vezes não tem sintonia com nossa realidade?
Fico aqui pensando. O mundo jaz no maligno. Claro, não é por isso que devemos entregar tudo de bandeja para pessoas que não temem a Deus, principalmente quando a decisão destas influenciam diretamente nossa vida em sociedade.
Mas penso: será que um servo de Deus conseguiria uma posição de liderança nacional para governar e escalar uma equipe de pessoas semelhantes? Penso que não. Os governos estão contaminados, só haverá um governo justo quando O Justo governar.
Até lá, ficaremos nessa de tentar discernir "o menos pior", aquele que nos subjugará menos, aquele que instituirá menos políticas contra o povo, principalmente contra o exercício da fé cristã.
Votei no Bolsonaro e quando penso em me arrepender lembro dos candidatos concorrentes. Na verdade não me arrependi porque sabia desde o início que seria um governo de homem, o que tinha pra hoje.
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