Revista americana Foreign Policy acusa que campanha de propaganda de Jair Bolsonaro, candidato à presidência do Brasil, foi inspirada diretamente de manual nazista
Julio
Severo
Em uma reportagem intitulada “Jair
Bolsonaro’s Model Isn’t Berlusconi. It’s Goebbels” (O modelo de Jair Bolsonaro não é Berlusconi. É
Goebbels), Foreign Policy, uma revista especializada dos EUA com sede em
Washington D.C., disse: “O líder brasileiro de extrema direita não é apenas
mais um populista conservador. Sua campanha de propaganda se inspirou
diretamente em manual nazista.”
Jair Bolsonaro |
Aliás, o termo “nazista” aparece surpreendentemente 34
vezes na reportagem de Foreign Policy sobre Bolsonaro. Foreign Policy disse:
No
Brasil e em outros lugares, populistas de direita estão cada vez mais agindo
como nazistas e, ao mesmo tempo, repudiando esse legado nazista ou até mesmo
culpando a esquerda por isso. Para os membros pós-fascistas do movimento
direitista alt-right, agir como um nazista e acusar seu adversário de ser isso
não é contradição. Aliás, a ideia de um nazismo esquerdista é um mito político
que tem como base direta os métodos da propaganda nazista.
Segundo
direitistas brasileiros e negadores do Holocausto, é a esquerda que ameaça
reviver o nazismo. Isto é, naturalmente, uma falsidade que vem diretamente do
manual nazista. Os fascistas sempre negam o que são e atribuem suas próprias
características e sua própria política totalitária aos seus inimigos.
Embora
Hitler tivesse acusado o judaísmo de ser o poder por trás dos Estados Unidos e
da Rússia e dissesse que os judeus queriam começar uma guerra e exterminar os
alemães, foi ele quem iniciou a Segunda Guerra Mundial e exterminou os judeus
europeus. Os fascistas sempre substituíram a realidade por fantasias
ideológicas. É por isso que Bolsonaro apresenta os líderes da esquerda como
imitadores modernos de Hitler, quando na verdade ele é o único candidato
próximo ao Führer em estilo e substância.
O que a reportagem não explicou é como Bolsonaro pode
ser nazista se ele é o único candidato que prometeu transferir a embaixada
brasileira para Jerusalém, enquanto os outros candidatos prometeram melhores
relações com os palestinos, que atacam os judeus como os nazistas atacavam.
Será que ser pró-Israel significa ser nazista? Se assim for, Bolsonaro se
encaixa nessa acusação. Eu também.
A reportagem foi escrita pelo escritor judeu Federico
Finchelstein, que tem livros publicados sobre fascismo, antissemitismo, o
Holocausto e história judaica.
Discordo da visão radical do sr. Finchelstein. Qual é
a natureza ideológica da revista Foreign Policy para publicar essa reportagem
radical?
Provavelmente neocon. Os neocons adoram bater, xingar
e atacar a Rússia e o presidente russo Vladimir Putin. Foreign Policy tem, não
por acaso, várias reportagens tratando Putin do mesmo jeito que tratou
Bolsonaro.
Em sua reportagem “Putin quer Deus (ou Pelo Menos a
Igreja) do Seu Lado,” Foreign Policy disse: “Nos últimos anos, o presidente
russo Vladimir Putin abraçou aspectos dessa ideologia imperial cristã, exigindo
que as autoridades estatais leiam alguns dos filósofos cristãos que surgiram no
crepúsculo do Império Russo.”
Foreign Policy acrescentou: “A nova defesa russa dos
chamados valores tradicionais, como a homofobia e a oposição ao feminismo e ao
secularismo, recebeu um impulso forte da Igreja Cristã Ortodoxa — e de
simpatizantes de extrema-direita no Ocidente.”
Em sua reportagem contra Bolsonaro, Foreign Policy
argumentou que ele também tem valores tradicionais, como a homofobia e a
oposição ao feminismo e ao secularismo.
Como todos os neoconservadores fazem, Foreign Policy
reclama repetidamente sobre as tentativas de Trump de fazer amizade com Putin e
a Rússia como aliados necessários contra o terrorismo islâmico.
A crítica de Foreign Policy, usando um autor judeu, a
Bolsonaro é injustificada. Se Bolsonaro é tão radical como retratam os
especialistas de Foreign Policy em Washington D.C., o que são seus inimigos?
Fernando Haddad, que enfrenta Bolsonaro nas eleições brasileiras, é membro do
Partido dos Trabalhadores, um partido socialista que arruinou o Brasil. O
ex-presidente Luiz Inácio “Lula” da Silva, estrela do Partido dos
Trabalhadores, está cumprindo uma longa pena de prisão por corrupção.
Haddad e seus companheiros socialistas buscam a
promoção do aborto, do socialismo e da homossexualidade. Aliás, Haddad é o
autor do infame “kit gay,” um material para homossexualizar crianças em idade
escolar.
Foreign Policy disse em sua reportagem anti-Bolsonaro,
“Bolsonaro, que também é conhecido como o Trump brasileiro, está sendo
aconselhado por Steve Bannon em sua campanha.”
Bannon é um católico tradicional com um profundo
interesse no misticismo e no esoterismo, especialmente em um obscuro esoterista
francês chamado René Guénon — um feiticeiro antimarxista. Em resumo, Bannon é
um adepto da Nova Era.
Embora o presidente Trump tivesse Bannon como um de seus
conselheiros, Trump o expulsou como um oportunista e traidor, e ele desenvolveu
uma profunda hostilidade para com ele, especialmente depois que Bannon
colaborou no livro
anti-Trump “Fire and Fury” (Fogo e Fúria), escrito pelo escritor de esquerda Michael
Wolff.
Hoje, Trump não quer nada com Bannon. Então, por que
Bolsonaro quer?
Embora as acusações de Foreign Policy contra a
Bolsonaro tenham sido exageradas, na verdade existem indivíduos extremistas
entre seus seguidores. Esses extremistas
já foram denunciados por seu candidato a vice-presidente. Esses extremistas defendem
a ideia bizarra de que os crimes da Inquisição contra judeus e protestantes são
mentiras e mitos,
e que, na verdade, a
Inquisição era um tribunal de misericórdia.
Se Foreign Policy tivesse dirigido suas críticas
apenas a tais defensores da Inquisição, eu teria entendido, porque
Finchelstein, como judeu, tem todo o direito de condenar o que a Inquisição fez
aos judeus. Mas Foreign Policy não os atacou. Atacou Bolsonaro.
Embora Bolsonaro não tenha defendido essa ideia
bizarra, mesmo assim ele tem recomendado seu
mais proeminente defensor no Brasil, Olavo de Carvalho, que por sinal também é, como Bannon, um velho adepto
e promotor de René Guénon. Carvalho é o tradutor para o português de um dos
livros de Guénon, autor de vários livros ocultistas e autor de muitos
comentários contra os evangélicos, inclusive a
infame declaração: “As igrejas evangélicas fizeram mais mal ao Brasil do que a
esquerda inteira.”
Não sei se Bolsonaro vai fazer com esses dois adeptos
“católicos” de Guénon o que Trump fez com Bannon: expulsão.
Entretanto, a vitória de Bolsonaro não depende deles.
Como reconhecido até mesmo pela grande mídia americana, a maior chance de o
Bolsonaro católico conquistar a presidência do Brasil são os evangélicos.
Como o Brasil é o maior país católico do mundo, com
60% dos brasileiros se identificando como católicos, Bolsonaro deveria ser o
candidato deles e ter uma vitória muito fácil. Mas o catolicismo brasileiro está
empesteado de teologia da libertação. Por isso, cabe a uma
minoria de evangélicos brasileiros, que são esmagadoramente pentecostais e neopentecostais,
defender valores conservadores.
Bolsonaro certamente não é o melhor homem que os
evangélicos gostariam para representá-los na presidência do Brasil. Mas com um
candidato socialista pronto para persegui-los e promover o aborto, o socialismo
e a homossexualidade, nenhuma outra opção restou para os evangélicos.
Assim, os evangélicos são a melhor chance para
Bolsanaro, que eles escolheram por causa de pura falta de opção. Eu mesmo o
escolhi, por suas promessas de legalizar a educação escolar em casa
(tradicionalmente criminalizada no Brasil) e revogar as leis de controle de
armas em um Brasil cuja cultura católica sempre foi anti-armas nas mãos de
pessoas comuns. A cultura católica é tão forte que tanto Bolsonaro quanto seu
adversário socialista são católicos.
É um sinal muito bom que neocons em Washington D.C.
estejam se opondo a Bolsonaro. Mas é um péssimo sinal que ele esteja sendo
aconselhado por adeptos de Guénon. E um deles, Carvalho, é tão neocon e
anti-Rússia quanto é Foreign Policy.
Foreign Policy é apenas uma mídia neocon de notícias
falsas de Washington D.C. Foreign Policy tornou-se alvo de riso por causa de uma
reportagem judaica que não ataca o fervor pró-inquisição entre extremistas
católicos de direita no Brasil, mas rotula como “nazista” um candidato que
prometeu mudar a embaixada brasileira para Jerusalém. Afinal, quanto de “nazista”
há nessa mudança?
O que Bolsonaro vai fazer para dissipar as acusações ridículas
de que ele é “nazista”? Ele vai suavizar nas questões do aborto, socialismo e homossexualidade?
Ou ele está usando essas questões controversas apenas para atrair o poderoso
voto evangélico conservador?
Há algo que Foreign Policy não mencionou. O
nazismo estava imerso no ocultismo —
o que os evangélicos chamam de Nova Era. Nesse sentido, há algumas coisas
“nazistas” entre os seguidores de Bolsonaro, da mesma forma que havia o mesmo
problema no círculo de Trump. Contudo, Trump resolveu esse problema removendo o
esotérico e cercando-se de pregadores evangélicos e neopentecostais como seus
conselheiros.
Se Bolsonaro for inteligente, ele não vai expulsar ou suavizar
em posições conservadoras contra o aborto, o socialismo e a homossexualidade
para agradar à mídia de notícias falsas. Ele vai expulsar exatamente o que
Trump expulsou: os oportunistas e traidores.
O que posso dizer é que se Foreign Policy e Federico
Finchelstein conhecerem Bolsonaro mais de perto sem seu preconceito neocon,
eles definitivamente não condenarão a ele, mas aos adeptos dele que defendem a
Inquisição. Esses eles chamarão merecidamente de nazistas, pois tanto a
Inquisição quanto o nazismo perseguiam, torturavam e matavam judeus. E eles
elogiarão as posturas pró-Israel de Bolsonaro, inclusive sua promessa de
transferir a embaixada brasileira para Jerusalém. Não há nada mais judaico, e
nada menos nazista, do que isso.
Versão
em inglês deste artigo: Foreign Policy Magazine Charges that
Brazilian Presidential Candidate Jair Bolsonaro’s Propaganda Campaign Taken
Straight from Nazi Playbook
Leitura recomendada:
Evangélicos
do Brasil dizem que candidato presidencial de extrema direita é resposta às
suas orações
Leitura recomendada sobre a Inquisição:
2 comentários :
Julio, sempre preciso nos comentários.Já compartilhei com alguns amigos.
Como podem ver, não é somente no Brasil que a grande midia está moralmente apodrecida.
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