Fumar gera mutações genéticas, diz estudo
Pesquisadores demonstram como cigarro altera o DNA e que não apenas órgãos diretamente atingidos pela fumaça são afetados. Marcas do tabagismo podem ser detectadas até 30 anos depois.
Que fumar aumenta os riscos de pelo menos 17 tipos de
câncer – sobretudo na garganta, na boca e no pulmão – já foi provado por vários
estudos. Mas agora cientistas conseguiram demonstrar, pela primeira vez, que o
cigarro gera mudanças celulares nos tecidos dos órgãos – estejam eles expostos
direta ou indiretamente à fumaça.
Cientistas do Instituto Britânico Wellcome Trust
Sanger e do Laboratório Los Alamos, nos Estados Unidos, analisaram cinco mil
tumores, comparando o câncer de fumantes com o de não fumantes. A análise ofereceu
informações relevantes a partir dos traços genéticos encontrados nos tumores
dos pacientes fumantes.
O estudo, publicado pela revista Science, verificou
que o dano genético poderia ser causado por diferentes mecanismos. Os
pesquisadores descobriram que determinadas "impressões digitais”
moleculares, também conhecidas como "assinaturas”, eram predominantes no
DNA dos fumantes.
"Os resultados são uma mistura do esperado e
inesperado, e revelam uma imagem de efeitos diretos e indiretos", diz o
coautor Dave Phillips, professor de Carcinogênese no King's College, em
Londres.
Segundo a análise dos pesquisadores, as células que
entram em contato direto com a fumaça inalada foram as mais prejudicadas pelas
substâncias cancerígenas que diretamente causam a alteração no DNA da célula.
Isso se verificou não apenas nos pulmões, mas também na cavidade oral, faringe
e esôfago.
As marcas genéticas observadas nesses órgãos não
estavam presentes em tumores de outras partes do corpo, como o estômago ou o
ovário, no caso das mulheres. Contudo, outros órgãos foram afetados.
"Outras células do corpo sofreram apenas danos
indiretos. O tabagismo parece afetar mecanismos-chave nessas células, que por
sua vez alteram o DNA”, diz Phillips.
O estudo também revelou que há pelo menos cinco
processos diferentes de danos ao DNA devido ao tabagismo. O mais verificado foi
um processo que pareceu acelerar o relógio celular, envelhecendo e alterando de
forma prematura o material genético.
Histórico genético
De acordo com os pesquisadores, os tumores contêm
pistas genéticas sobre os caminhos que os levam a se tornar canceroso. Os
cientistas, agora, esperam se aprofundar ainda mais nesse campo.
"O genoma de cada câncer provê uma espécie de
‘registro arqueológico' no próprio código de DNA, das exposições que causaram
as mutações que causaram o câncer”, explica o professor Mike Stratton, autor
principal do estudo publicado na Science. "Nossa pesquisa indica que a
forma como o tabagismo causa câncer é mais complexa do que pensávamos."
"Na verdade, não entendemos completamente as
causas subjacentes de vários tipos de câncer e existem outras causas
conhecidas, como a obesidade, sobre a qual entendemos pouco do mecanismo
subjacente. Este estudo pode fornecer novas pistas provocantes sobre como os cânceres
se desenvolvem e, portanto, como podem ser evitados”, diz Stratton.
Duração das sequelas
Os pesquisadores descobriram que quem fuma um maço por
dia acumula 150 mutações adicionais por célula pulmonar a cada ano.
"Até então, tínhamos um grande número de
evidências epidemiológicas que ligavam o tabagismo ao câncer, mas agora podemos
realmente observar e quantificar as mudanças moleculares no DNA devido ao
fumo”, afirma Ludmil Alexandrov, do Laboratório Nacional de Los Alamos, outro
autor do estudo.
Embora os efeitos do tabagismo sobre os pulmões sejam
particularmente acentuados, o alto risco de alterações em outros órgãos é
considerado evidente a partir deste estudo.
Houve uma média estimada de 97 mutações em cada célula
da laringe, 39 mutações para a faringe, 23 mutações para a boca, 18 para a
bexiga e seis mutações em cada célula do fígado para cada ano em que o paciente
fumou um maço de cigarros por dia.
Uma pesquisa publicada em setembro mostrou que as
marcas do tabagismo podem ser detectadas até 30 anos depois que o indivíduo
parou de fumar.
Fonte:
Site
alemão DW
Divulgação:
www.juliosevero.com
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