O herói que “traiu” o país que traiu Israel
Alexandre Nigri
Comentário de Julio Severo: O mínimo que um país pode fazer por outro com quem tem uma aliança de
amizade é lhe revelar segredos vitais para sua segurança e sobrevivência. Os
EUA da época de Ronald Reagan, o presidente mais conservador da história
recente dos EUA, tinham as duas coisas: 1. Uma aliança de amizade com
Israel. 2. Segredos vitais para a segurança e sobrevivência de Israel. Com
sua vasta de rede de espionagem e serviços de inteligência, os EUA de Reagan estavam
de posse de informações secretas sobre armas que os países vizinhos muçulmanos
de Israel tinham e como pretendiam usá-las. A obrigação moral dos EUA de Reagan
era honrar a aliança de amizade com o amigo de Israel e contar os segredos
assassinos de seus vizinhos. Mas os EUA nunca fizeram isso, de modo que um
americano de ascendência judaica chamado Johathan Pollard, que trabalhava nos
serviços americanos de inteligência e sentindo na sua consciência que não
estava certo os EUA reterem segredos vitais para a sobrevivência de Israel,
resolveu secretamente revelar para Israel o que os EUA de Reagan não revelavam.
Com essas informações, Israel pôde se defender melhor. Nesse ponto, fica a
pergunta: Quem traiu quem? Se foi errado Pollard trair os EUA, foi certo os EUA
trairem Israel, sendo-lhe infiel pelas costas? Tendo sido condenado e preso durante o governo Reagan, Pollard cumpriu
uma sentença injusta de 30 anos de prisão por ter “traído” um país que traiu a
amizade de Israel. Ele deveria ser considerado um “traidor” e “criminoso”? Na
minha opinião, ele é um herói que merece nossa admiração.
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Jonathan Pollard |
Mas
isso só foi possível porque Jonathan Pollard percebeu que muitas das
informações como fotos de satélites, mapas e informações confidenciais (assim
classificadas) e que faziam referência a centrais logísticas e de fabricação de
armas químicas e biológicas na Síria, na Líbia e, em especial, reatores
nucleares para enriquecimento de urânio no Iraque com o propósito de atacar
Israel eram vistas com distância pela política internacional do então
presidente Ronald Reagan. Tais documentos também incluíam o projeto de
armamento de míssil balístico que alcançaria Tel-Aviv e a Europa, visando
atacar alvos civis.
Apesar
dos vários acordos de cooperação assinados entre Estados Unidos e Israel, em
especial o Memorando de Entendimento – Iniciativa de Cooperação e Estratégia de
Defesa, assinado em 1981 e pelo qual o pequeno Estado passaria ser o maior
aliado dos Estados Unidos no Oriente Médio, Pollard entendia que, ao não ser
informado de tais ameaças, Israel estava sendo privado das informações
fundamentais que lhe garantiriam possibilidade de autodefesa e que poderiam
colocar milhares de vidas em risco.
Para
Pollard, um americano nascido no Texas em 1954 e de origem judaica, o dilema
estava armado. Faz-me de alguma maneira lembrar o livro A Escolha de Sofia, que
virou filme estrelado por Meryl Streep, em que uma prisioneira polonesa do
campo de concentração de Auschwitz recebe a terrível e inumama possibilidade de
escolher um “presente” dos nazistas: entre salvar o filho ou a filha, qual
deles será executado e qual deles sobreviverá? Ela escolhe o menino, que é mais
forte e tem mais chances na vida, mas nunca mais teria notícias dele.
Atormentada, Sofia acaba se matando anos depois.
Já de
posse das informações, Israel, por ordem do primeiro-ministro Menachem Begin,
guiou-se por esses dados, que incluíam mapas e fotografias de satélites, e,
cirurgicamente, atacou e destruiu instalações de um reator nuclear de 70
megawatts, localizado 28 quilômetros ao sul de Bagdá, capaz de enriquecer
urânio e produzir uma bomba equivalente à utilizada em Hiroshima. Foi o primeiro
ataque aéreo a instalações nucleares da história. Um número não revelado de
aviões F-15 e F-16 destruíram pontualmente os alvos ordenados e retornaram à
base em segurança.
Em
1985, o contrariado governo norte-americano descobriu o vazamento de documentos
pelas mãos de Pollard, e com isso armou-se uma das maiores zonas de tensão na
relação da grande aliança americana-israelense. Pollard tinha instruções do
governo sionista: se fosse descoberto, deveria buscar refúgio na embaixada de
Israel em Washington, o que ele fez imediatamente. No entanto, quando Pollard e
sua ex-mulher chegaram à embaixada, foram deliberadamente entregues ao FBI.
Israel não poderia cooperar com quem traiu seu maior aliado: “O inimigo do meu
amigo será meu inimigo”.
Pollard
nunca teve um julgamento, mas foi levado à prisão perpétua, tendo cumprido 30
anos de pena até sexta-feira passada. Durante sua defesa, alegou
insistentemente em suas petições que havia levado a seus superiores da
inteligência naval americana a necessidade de informar ao pequeno Estado aliado
o perigo iminente das armas de destruição em massa que estavam sendo
desenvolvidas ; como resposta, Pollard ouvira que “judeus se apavoravam quando
ouviam falar em gases químicos”. Ele foi submetido por nove meses ao detector de
mentiras; o FBI constatou que sua causa não era por dinheiro, mas ideológica.
Que Jonathan Pollard cometeu crime de quebra de confidencialidade por entender
que essa era a única maneira de defender Israel.
Pollard
realmente foi um idealista em sua guerra solitária. Um lobo solitário do bem.
Um herói traidor que salvaria seu filho Israel dos nazistas, mas condenaria sua
filha liberdade à prisão perpétua.
Muitos
foram os movimentos que se formaram para libertar Pollard. Presidentes como
Bill Clinton trataram de conceder perdão – neste caso, a pedido de Yitzhak
Rabin, à época primeiro-ministro de Israel. Mas, depois do assassinato de
Rabin, Clinton desistiu de sua promessa por alguma razão. Outras tentativas de
troca de prisioneiros foram esboçadas pelo sucessor de Rabin, o
primeiro-ministro Shimon Peres, mas sem sucesso.
Na
década de 2010, eu vivia nos Estados Unidos e, juntamente com alguns amigos e a
comunidade do Norte de Miami, fizemos um abaixo-assinado com mais de 10 mil
assinaturas e o enviamos à Casa Branca. Inúmeras foram as iniciativas como a
construção de sites e o envio de representantes da sociedade civil à Casa
Branca, mas nada surtiu efeito.
Em
junho de 2008, fui a Israel junto com uma comitiva de empresários que tinha
como parte da agenda uma visita à casa de Peres, então presidente de Israel.
Uma vez na sala de reuniões, acerquei-me ao presidente e fiz a seguinte
pergunta: “Sr. Peres, sendo nosso povo um povo que não se esquece de seu
passado, que respeita democraticamente todas as tradições, as crianças, as
mulheres e anciãos, mas principalmente seus heróis como Abraão, Isaac, Jacó,
Moisés e Davi, como pode ser possível que deixemos Pollard para trás?” Ele me
respondeu: “Sr. Nigri, esta questão é muito complicada para lhe explicar apenas
nesta audiência”. E assim, diante dos enfezados agentes do Mossad com cara de
ninjas prestes a atacar, retirei-me para voltar ao Estados Unidos de mãos
vazias.
Já se
foram 30 anos de prisão de Pollard e eu me pergunto se haveria agido
corretamente o ex-agente por quebrar as regras do jogo e, possivelmente, salvar
milhares de pessoas. Aristóteles, em Ética a Nicômaco, diz: “Embora ambos,
Platão e a verdade, nos sejam caros, o dever moral nos impõe preferir a
verdade”. No Evangelho de João, Jesus disse ao povo judeu: “conhecereis a
verdade, e a verdade vos libertará”. Para o filósofo e escritor irlandês Oscar
Wilde, chama-se ética o conjunto de coisas que as pessoas fazem quando todos
estão olhando. O conjunto de coisas que as pessoas fazem quando ninguém está
olhando chama-se caráter.
Para
mim, Pollard infringiu a moral individual, sim, mas em nome da ética. A ética
está acima dos indivíduos e da moral individual, é o que entendemos por bem
comum, as iniciativas que devemos ter para o bom convívio social e para o livramento
do mal em nome do bem de todos. E este é o único norte pelo qual devemos nos
guiar, é o “um por todos e todos por um”.
Israel
é considerada a única democracia no Oriente Médio, acredita na liberdade de
expressão e no amplo direto de ir e vir. Vive em constante ameaça desde sua
fundação, em 1948, e por isso a luta de cada homem faz a diferença, ainda que
seja por suas difíceis escolhas. Escolhas essas que possam custar sua própria
liberdade, mas em nome de um bem maior, do seu semelhante, do bem comum.
Alexandre
Nigri, administrador
de empresas, é CEO da MCP Realty.
Fonte: Gazeta
do Povo
Divulgação: www.juliosevero.com
Leitura recomendada:
Questões
judaicas: um esclarecimento aos cristãos sobre sua percepção dos judeus
4 comentários :
Uma pergunta a qual não se cala: Quem vai indenizar Jonathan Pollard por esta injustiça satânica? Pelo ideal, os Estados Unidos devê-lo-iam ressarcir até mesmo trilionariamente, pois ele apenas estava alertando Israel sobre instalações armamentista-nucleares no Oriente Médio. Ele sacrificou sua liberdade em prol não somente dele, mas também da paz mundial. Estados que cometem injustiças, como esta citada neste comentário, por exemplo, devem ser punidos draconianamente a ressarcimentos até mesmo trilionários.
Ele é um herói que desinteressadamente pagou um elevado preço por amor as vidas. Por outro lado se observa que os Estados Unidos não é tão bom quanto parece desde a muito. Sem dúvida Pollard merece um grande prêmio.
Me lembrei do caso de Raabe, a prostituta de Jericò.
O artigo deveria, com Justica, ser finalizado com a frase: POLLARD EH UM HOMEM DE CARATER.
Antonio.
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