Olavo de
Carvalho nem sempre tem razão
Julio
Severo
“Olavo tem razão” gritam seus adeptos para tudo e para
todos. Mas é preciso agora levantar outro grito: “Olavo não é Deus.” Isso é auto-evidente.
Mas ele e seus adeptos, também chamados de olavetes, não permitem nenhum
questionamento. No Facebook, qualquer questionamento respeitoso às postagens
desrespeitosas e chulas de Olavo é bloqueado e o questionador é sumariamente
queimado na fogueira dos palavrões. A ausência ou banimento de questionamento é
característica típica das ditaduras, dos deuses e das seitas.
A seita age assim: tudo o que o líder supremo diz é
verdade absoluta e inquestionável. Quem questiona comete pecado imperdoável e
vira inimigo mortal.
Olavo tem promovido uma direita com espírito e caráter
de seita (o comportamento extremista das olavetes é prova mais que suficiente
disso) e tudo pode descambar em seita, como já é bem evidente pela forma como
tratam Olavo: “mestre.”
Olavo defende e desculpa a Inquisição (que torturava e
matava judeus e evangélicos) do jeito que um comunista ou nazista defende e
desculpa seus próprios crimes. Ele xingou Lutero e Calvino de dois “filhos da ****,”
trata a Reforma protestante como o primeiro movimento revolucionário (de linha
marxista) da história, e mesmo assim existe evangélico masoquista para lhe
lamber os pés em tudo e dizer para tudo e para todos: “Olavo tem razão.” Isso
não é ser inteligente. Isso é perfil de adepto de seita.
A questão não é apenas que ele xingou Lutero e
Calvino. A questão essencial é que xingar é errado. O hábito de xingar é sempre
desrespeito. Qualquer mau-caráter faz isso.
Xingar de longe, se valendo da distância como proteção
e simulando uma valentia que o xingador não tem frente a frente, é a atitude em
que o mau-caráter apimenta o desrespeito com a covardia. De longe, dá para
xingar qualquer um no Brasil e na China.
A atitude nobre e corajosa é prevalecer sobre a
tentação do desrespeito, mau-caratismo e covardia. É possível e correto criticar
publicamente opiniões e comportamentos públicos errados sem apelar para
baixarias.
Contudo, alguns jovens evangélicos, por causa da
influência filosófica de Olavo, não estão evitando essa tentação. Estão agora
vendo e usando a boca suja como virtude, não como comportamento próprio de banheiro
de boteco, não como comportamento a ser evitado. Boca suja, entre evangélicos
imaturos que alegam ser conservadores, está virando sinônimo de distinção. Eles
esqueceram que a boca suja é a marca registrada do mau-caráter.
Pensam que cultivando o hábito das palavras chulas
ficarão semelhantes ao Olavo, quando na verdade esse vício os torna conforme a
imagem e semelhança dos frequentadores de prostíbulos de periferia.
Esses jovens deveriam parar para pensar: Como é que
pode alguém que minimiza os horrores da Inquisição e xinga Lutero e Calvino
estar certo e honesto em outras questões?
Olavo disse
acerca da Inquisição:
“Até mesmo na imagem popular das fogueiras da Inquisição
a falsidade domina. Todo mundo acredita que os condenados ‘morriam queimados,’
entre dores horríveis. As fogueiras eram altas, mais de cinco metros de altura,
para que isso jamais acontecesse. Os condenados (menos de dez por ano em duas
dúzias de países) morriam sufocados em poucos minutos, antes que as chamas os
atingissem.”
“Esclareço: O mito da Inquisição foi A MAIS VASTA E
DURADOURA CAMPANHA DE CALÚNIA E DIFAMAÇÃO DE TODOS OS TEMPOS, DURA ATÉ HOJE,
COM FINANCIAMENTO MILIONÁRIO, E PARECE QUE NÃO VAI ACABAR NUNCA. QUEM A
INVENTOU NÃO FORAM ILUMINISTAS NEM COMUNISTAS. FORAM PROTESTANTES, QUE
CONTINUAM A PROMOVÊ-LA ATÉ AGORA, TENDO COMO CENTRO IRRADIANTE AS IGREJAS DOS
EUA. Isso é um fato histórico que nenhum historiador profissional hoje em dia
desconhece, e não tem nada a ver com ‘debates teológicos.’”
Então, será que um “mito” torturou e matou milhares de
judeus e protestantes? Geralmente, Olavo acredita que os russos criam mitos
destrutivos. Mas no caso da Inquisição, ele alega que foi criado pelos
americanos.
Ben-Zion Netanyahu, um historiador conceituado que
trabalhava na Universidade Hebraica de Jerusalém e na Universidade Cornell nos
EUA, escreveu
um livro enorme sobre a Inquisição, louvado pela A Revista
Judaica (Jewish Journal), que disse que “’As Origens da Inquisição na Espanha
do Século Quinze,’ uma obra-prima acadêmica e um tomo minucioso sobre a
Inquisição da Espanha, descreve como a Igreja Católica perseguia, e muitas
vezes executava, multidões de judeus que, sob pressão, haviam se convertido ao
catolicismo e que eram acusados de praticar secretamente o judaísmo.” Ben-Zion
Netanyahu é pai do primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu.
O Dr. D. James Kennedy, um renomado líder conservador
pró-vida, disse
sobre a Inquisição, principalmente a Inquisição espanhola: “Foi
deplorável no grau mais elevado — uma supermáquina monstruosa de brutalidade e
crueldade. Sua natureza era diabólica.”
Mesmo assim para Olavo, a Inquisição não era tão
diabólica. Não diferente de comunistas, que fazem revisionismo da história para
acobertar e minimizar seus podres, Olavo promove um revisionismo insistente da
Inquisição e seus horrores.
Se faz sentido defender a Inquisição, por que não
também defender as clínicas de aborto, que igualmente torturam e matam
inocentes? Qual é a diferença? Como não enxergar a hipocrisia disso?
Um problema comum nos brasileiros é a hipocrisia.
Durante o governo militar no Brasil, ativistas esquerdistas, que se queixavam
do capitalismo, escolheram exílio na Inglaterra, Suécia e até nos Estados
Unidos, a nação mais capitalista do mundo. Por que anticapitalistas escolheram
viver nas nações mais capitalistas do mundo?
Olavo frequentemente se queixa do protestantismo (não
o protestantismo liberal, mas todo o protestantismo), mas escolheu exílio na
nação mais protestante do mundo. Por que um homem que se queixa do
protestantismo escolhe viver na nação mais protestante do mundo?
Olavo tem razão em algumas questões (aborto, educação
em casa, vacinação de crianças, etc.). Na questão homossexual, ele acerta ao denunciar
a ameaça da agenda gay, porém erra
ao tratar o comportamento homossexual como natural. Em matéria de
coerência moral e espiritual, protestantismo, Bíblia, Evangelho e Inquisição,
OLAVO NÃO TEM RAZÃO.
Até mesmo em questões de geopolítica, Olavo comete
erros. Embora ele ostente catolicismo, os grandes sites católicos conservadores
dos EUA não publicam seus artigos. O maior site conservador americano a
publicar um artigo dele foi o WND, que pertence a um evangélico. O artigo dele
publicado pelo WND foi traduzido para o inglês pelo evangélico americano Don
Hank, a quem o Mídia Sem Máscara atacou dias atrás
com o artigo infame “Desinformação:
os mentirosos pagos e os não pagos de Vladimir Putin”.
Em defesa de Hank, publiquei internacionalmente este artigo: “Neocons,
a Inquisição, russofobia e mentiras.”
Meu desafio público foi: “Hank não é um mentiroso. Ele
é um americano conservador que ajuda cristãos em situações muito difíceis,
desmascarando seus opressores. Se Kincaid — e também Olavo de Carvalho, que
honrou o artigo difamatório de Kincaid publicando-o em português — acha que
Hank é um agente pago (ou explicitamente: um mentiroso pago), meu desafio é que
uma comissão de investigadores internacionais examine nossas contas bancárias
(minha, do Hank, do Kincaid e do Olavo) para revelar ao mundo nossas fontes
financeiras. Vamos abrir nossos registros financeiros. Vamos deixar que tal
comissão nos investigue. Só desse jeito todos saberão quem está realmente sendo
pago para mentir.”
Embora um evangélico seja seu dono, o WND tem
colunistas católicos, especialmente o Pat Buchanan, que já foi candidato
presidencial pelo Partido Republicano. Buchanan, que era assessor do presidente
conservador Ronald Reagan, é um destacado líder católico pró-vida e
pró-família, muito mais conhecido do que Olavo. Buchanan tem sustentado uma
linha de denúncia aos neocons, que demonizam a Rússia em tudo.
Enquanto Olavo segue uma linha geopolítica neocon,
Buchanan segue uma linha de combate aos neocons.
As colunas de Buchanan são publicadas na maioria dos
grandes sites católicos conservadores dos EUA. Os artigos de Olavo não são
publicados nesses grandes sites. E se fossem, receberiam contestação e
questionamento dos leitores americanos, conduta que nem católicos nem
evangélicos do Brasil parecem estar dispostos a mostrar diante do “mestre”
Olavo. E se tivessem coragem de mostrar, seriam sujeitos à Inquisição de
bloqueios e uma rajada de palavrões.
Se Olavo tivesse razão em tudo, todos os seus artigos
seriam publicados em todos os grandes sites conservadores dos EUA e até do
Vaticano. Se ele tivesse razão em tudo, ele seria um deus.
Mas com uma boca que ostenta com orgulho palavras
chulas, xingando a seu bel-prazer Lutero, Calvino e até Julio Severo, como ele
espera ser visto e respeitado como católico ou mesmo filósofo? Por que ele não
xinga a Inquisição e seus horrores? Por que não xinga os papas que criaram a
Inquisição, que torturava e matava judeus e evangélicos?
Portanto, os evangélicos que em busca de
conservadorismo se tornaram idolatras de Olavo (mais comumente chamados de
olavetes) e estão
colocando assuntos políticos acima de assuntos espirituais
deveriam lembrar: OLAVO NÃO É DEUS. Ele é mortal. Finito. Imperfeito. Humano.
Em necessidade da redenção que só Jesus Cristo pode dar. Em necessidade de
libertação e salvação. Em necessidade de oração.
O Olavo já me ajudou muito no passado, me defendendo.
Minha humilde contribuição foi atrair o público evangélico a ele e ao Mídia Sem
Máscara, onde fui o primeiro colunista evangélico. Isso foi um sucesso além do
esperado. Mas as posturas públicas dele precisam ser questionadas. O apoio
público dele à Inquisição e aos seus horrores precisa ser questionado. Os
xingamentos dele contra Lutero, Calvino e a Reforma precisam ser questionados.
Suas visões geopolíticas neocons precisam ser questionadas.
O público evangélico precisa parar de idolatrá-lo e
começar a orar por ele.
Ele e suas ideias e escritos podem ser questionados?
Sim! Podem ser questionados, rejeitados ou aproveitados, desde que devidamente
analisados em busca de real fundamento e veracidade. Mas se você não tem
conhecimento, não diga bovinamente que quem tem mais conhecimento está
automaticamente certo. Mais conhecimento não é sinônimo de conhecimento certo e
não é evidência de que quem o tem sabe usá-lo.
Se até as profecias proferidas nas igrejas devem ser
examinadas, conforme ensinou o Apóstolo Paulo em 1 Coríntios 14, por que a opinião
de um homem mortal deveria ser dispensada de exame e avaliação?
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