O fim da ideologia?
Pat Buchanan: Tradição de polos opostos em conflito deu lugar a nacionalismo
Patrick
J. Buchanan
Nos talk shows, editoriais e think
tanks americanos há uma preocupação crescente com acontecimentos no exterior, e
em geral o presidente Obama é considerado culpado pela queda do respeito
mundial pelos Estados Unidos.
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Pat Buchanan: colunista do WND e ex-assessor do presidente Ronald Reagan |
Se uma única frase pudesse
expressar a aparente indiferença da maioria silenciosa dos americanos sobre o
que acontece no exterior, poderia ser uma simples pergunta: “É problema nosso?”
Se uma bandeira russa ou ucraniana
tremula sobre a Crimeia, por que isso deveria preocupar os americanos ao ponto
de mandarem navios, armas e tropas? Se o Japão e a China brigam por ilhotas a
mais de 10.000 km de distância, lugares que poucos americanos conseguiriam
localizar no mapa, por que deveriam se envolver?
E, verdade seja dita, a resposta
das elites intelectuais não convence.
Uma das explicações para os EUA
ignorarem essas guerras é que não veem interesse vital nesses conflitos; da
Síria à Crimeia, do Afeganistão ao Iraque, do Mar da China Meridional às Ilhas
Sentaku.
Além disso, a principal motivação
que fez o país se sacrificar por meio século em uma Guerra Fria que custou
trilhões de dólares e 90.000 vidas na Coreia e no Vietnã, a convicção de que
estavam liderando forças do bem contra forças do mal que governavam o império
Russo-Chinês, não existe mais.
A grande luta ideológica do século
XX entre totalitarismo e liberdade, comunismo e capitalismo, ateísmo militante
e cristianismo acabou.
O império comunista desmoronou. Sobraram
apenas restos esquecidos, como Cuba. O marxismo-leninismo como uma ideologia
que orientava grandes potências está fadado ao fracasso. O Partido Comunista
pode governar a China, mas o capitalismo de estado gerou bilionários chineses
que não andam por aí com exemplares do Livrinho Vermelho.
Os restos mortais de Lenin podem
estar depositados na Praça Vermelha, e os de Mao na Praça da Paz Celestial, mas
são pontos turísticos e não santuários em honra a salvadores seculares nem
objetos de culto.
A única região onde a religião e a
ideologia impelem os homens a lutar e morrer para criar um mundo baseado nos
dogmas da fé é o mundo islâmico. Mesmo assim, como observou o diretor da CIA
Richard Helms, todas as três nações que adotaram a ideologia islâmica, o
Afeganistão do Talibã, o Irã dos aiatolás e o Sudão, tornaram-se estados
falidos.
Mas quando a fé ou a ideologia de
uma civilização morre, algo deve substituí-la. E parece que, pelo mundo, as
pessoas e os regimes estão se voltando para o nacionalismo.
Vladimir Putin tomou a Crimeia de
volta e se declarou protetor dos povos russos das antigas repúblicas
soviéticas.
As exigências da China ao Japão no
Mar da China Meridional têm base em mapas do século XIX e nacionalismo do
século XXI, estimuladas por um ódio nascido da brutalidade japonesa na
conquista da China entre 1931 e 1945.
A resposta do Japão não foi
reafirmar a divindade do imperador. O Primeiro-Ministro Shinzo Abe está
invocando o nacionalismo, tentando contornar a constituição pacifista imposta
ao Japão após a 2ª Guerra Mundial.
Os EUA também estão à procura de um
substituto para o anticomunismo para justificar compromissos globais que
parecem ter cada vez menos a ver com interesses nacionais vitais.
Bush pai falou em construir uma
“Nova Ordem Mundial”. A frase se tornou um epiteto. George W. Bush declarou que
a missão dos EUA era “acabar com a tirania no mundo”. A nova divindade com que
o país parecia querer converter a humanidade era o bezerro de ouro da
democracia.
Mas quando a democracia (um homem,
um voto) produziu o Hamas na Palestina e a Irmandade Islâmica no Cairo,
começaram as mudanças de opinião e as apostasias.
Ao fim da Guerra Fria, Francis
Fukuyama previu que estaríamos nos aproximando do “Fim da História”, em que a
democracia se mostraria a forma final de governança, abraçada por toda a
humanidade.
No entanto, não apenas na Rússia e
na China, mas também na Europa e no terceiro mundo, a democracia parece menos
um fim em si mesma para os povos e mais um meio para se chegar a uma causa
maior.
O apelo pelas tribos e nações
parece mais convincente. E o evangelho ocidental segundo o qual todas as
religiões, raças, nações e tribos são iguais e deveriam ser tratados
igualitariamente, embora seja uma retórica eficiente, está descreditado.
O primeiro-ministro turco, Recep
Tayyip Erdogan, chamou a democracia de um ônibus do qual você desce quando
chega à sua parada. E a parada acabou sendo um estado islâmico moderado que
obedece aos seus próprios princípios e aos do seu partido.
É compreensível que países por todo
o mundo queiram que os EUA vão lutar suas guerras. Mas embora seja interesse
deles, será ainda também dos americanos?
O império americano, o último dos
grandes impérios ocidentais, pode estar prestes a cair tão repentinamente
quanto os outros impérios do século XX.
Pat Buchanan é colunista do WND e foi assessor do
presidente Ronald Reagan.
Tradução
de Luis Gustavo Gentil do original do WND: THE
END OF IDEOLOGY?
Fonte:
www.juliosevero.com
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