Logo depois do encerramento da 72º sessão do Comitê de Direitos Humanos das Nações Unidas em julho de 2001, o jornalista Joe Woodard, do jornal canadense The Calgary Herald,
[43] realizou um extensa estudo sobre a verdadeira postura da ONU com relação às religiões, principalmente o Cristianismo. A posição da ONU nessa questão teria, segundo ele, um só objetivo: eliminar toda moral absoluta que não seja compatível com a nova ordem mundial.
O artigo cita diversas personalidades, como Hermina Dykxhoorn, presidente da Federação de Mulheres Unidas pela Família no Canadá. Essa federação integra um grupo que exerceu pressão a favor dos valores familiares em várias conferências da ONU. Dykxhoorn explica que na conferência de Istambul em 1996, o diretor geral da Organização Mundial da Saúde, na época o Dr. Hiroshi Nakajima, afirmou diante da imprensa que “as religiões monoteístas não são compatíveis com a nova ordem mundial”. A Sra. Dykxhoorn, que é evangélica presbiteriana, afirma que a liderança da ONU está muito incomodada com as religiões monoteístas, de modo particular o Cristianismo, o qual enfatiza a santidade da vida humana, o sexo somente dentro do casamento e a santidade da família. A ONU, porém, não demonstra preocupação com religiões como o hinduismo e o budismo, que possuem princípios morais mais flexíveis.
De que maneira age a ONU em questões de importância para o Cristianismo?
Aborto e Controle Populacional
Woodard afirma que o controle populacional e o aborto são os pontos em que os líderes da ONU se chocam com as religiões de seus países membros, onde a burocracia e as políticas globais contrariam a consciência e a fé das pessoas.
Como primeiro exemplo, o autor explica que entre as principais conclusões da sessão de direitos humanos da ONU está a orientação de que o governo da Guatemala legalize o aborto. Líderes liberais dentro da ONU sentem-se descontentes com o fato de que a constituição desse país garante o direito à vida desde o momento da concepção. Para ajudar a mudar essa situação, o governo canadense está contribuindo dois milhões de dólares para o Fundo de População da ONU (FNUAP) com o objetivo de realizar campanhas que defendam leis a favor do aborto. Mercedes Wilson, uma ex-delegada da Guatemala na ONU, afirmou em declaração para LifeSite News que “o Ocidente está tirando tudo dos países pobres. Tudo o que nos resta são nossos filhos e nossa fé. Agora o Ocidente está tirando nossa fé e nossos filhos. É algo horrível o fato de que os canadenses estejam pagando com seus impostos algo que trará muitos danos a nosso país”. O trabalho da Sra. Wilson em defesa da família é conhecido e ela costuma participar de programas de rádio do Dr. James Dobson nos EUA.
Austin Ruse, especialista em direitos humanos de Nova Iorque, explicou que as agências da ONU, como o UNICEF, o FNUAP e o Programa de Desenvolvimento (PUND), trabalham e agem como se fossem um governo mundial e interpretam os acordos da ONU de maneira radical. Não existe um acordo oficial na Assembléia Geral sobre um direito universal ao aborto, mas o UNICEF, o FNUAP e o PUND atuam como se existisse. O aborto é um direito sagrado para eles e sempre é sutilmente incluído nas conferências da ONU. Geralmente, o aborto é promovido sob o eufemismo de “serviços reprodutivos” e “saúde reprodutiva”. “Direitos reprodutivos” também envolve direito ao aborto.
Essas questões não estão distantes de nós. Há no Brasil grupos radicais apoiados pela ONU. Alguns anos atrás, houve uma tentativa cristã de colocar em nossa constituição nacional um artigo defendendo as crianças em gestação contra o aborto legal, mas grupos feministas financiados pela ONU conseguiram derrotar os esforços dos grupos cristãos. Assim a ONU comenta esse episódio:
No Brasil organizações não-governamentais chefiadas por mulheres contribuíram para impedir uma proposta de alteração à constituição destinada a garantir a vida desde o momento da concepção. Tal medida teria proscrito, efetivamente, o aborto. Com a ajuda de um subsídio de emergência do IWHC, esses grupos ajudaram a educar… os meios de comunicação e os legisladores acerca dos efeitos negativos que tal medida teria sobre a saúde e os direitos das mulheres.[44] A questão moral do aborto coloca em destaque o confronto entre os valores globais da ONU e os valores cristãos. Os comitês das ONU também acreditam que os hospitais evangélicos que se recusam a oferecer serviços de aborto cometem crime de discriminação contra as mulheres. [45] Na verdade, mesmo desconsiderando a tradição cristã, médicos que não realizam aborto estão apenas seguindo a antiga tradição de Hipócrates, o pai da medicina, que ensinava os médicos a defender a vida humana. Mas a ONU tem procurado transformar essa tradição médica contra o aborto em violação dos direitos humanos das mulheres.
Nas conferências da ONU há intensos debates para avançar a questão do aborto, o homossexualismo e a autonomia das crianças, afastando-as da autoridade dos pais. Para promover o homossexualismo, os grupos feministas e socialistas na ONU querem substituir a palavra “família” pela frase “família em suas várias formas”.
As atitudes da ONU nessas questões demonstram hostilidade não só contra o Cristianismo, mas também contra todos os valores morais que sustentam a família em todo o mundo.
[46]Para promover apoio religioso às políticas da ONU, há um movimento de várias religiões dentro da ONU chamado Iniciativa das Religiões Unidas (IRU). A IRU foi fundada em 1995 e trabalha em 58 países. Junto com protestantes e católicos liberais, a IRU tem como membros bruxas, druidas e membros do movimento Nova Era. A IRU mistura elementos de todas as religiões, é hostil aos valores cristãos conservadores e já declarou que pretende eliminar o “proselitismo religioso em áreas sob sua influência.” [47] Para neutralizar a oposição a seus planos, os comitês da ONU alegam que apenas querem elevar a condição das mulheres e crianças dos países pobres. Mas Concerned Women for America alerta: “As mulheres pobres nos países em desenvolvimento estão lutando para suprir suas necessidades diárias básicas — educação, saúde, nutrição, etc. As feministas radicais dos EUA e Europa tiram vantagem da situação infeliz dessas mulheres para promover direitos sexuais e reprodutivos para as mulheres e até meninas. Utilizando como pretexto os ‘direitos humanos’ e apelando em favor das necessidades das mulheres dos países pobres, as feministas insistem em que os governos devem implementar em seus países os planos da CEDAW”.[48]
O QUE PODEMOS FAZER
A Carta da ONU reconhece que cada país tem o direito de determinar suas próprias leis. Mas as tentativas de fortalecer a família e os direitos dos pais através de legislação apropriada em nosso país estão sob sério risco por causa da interpretação radical que os grupos feministas e socialistas fazem da Convenção dos Direitos da Criança e a Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres.
Além disso, quando o governo brasileiro seleciona grupos para participar das conferências da ONU, somente os socialistas e as feministas têm se colocado à disposição. Onde estão os grupos evangélicos a favor da família? É hora de os líderes evangélicos que têm interesse no bem-estar da família se apresentarem oficialmente para participar dessas conferências. Precisamos representar nosso país lá fora e ajudar a mudar as políticas globais da ONU. Precisamos ajudar o Brasil a assumir um posicionamento que
· Deixe claro para a ONU que os brasileiros são a favor do direito dos pais, principalmente de fazer decisões com relação à saúde, educação e criação religiosa de seus filhos. O Brasil deve se envolver na defesa do direito fundamental de os pais dirigirem a educação moral e espiritual de seus filhos e também deve fortalecer as leis que protegem a família.
· Não aceite a redefinição dos papéis sexuais através de termos ambíguos como gênero e orientação sexual.
· Expresse a vontade do povo brasileiro. Para isso, o Brasil deve escolher pessoas capazes para representar nossa nação nos encontros internacionais da ONU. Em recentes encontros, membros da delegação brasileira, em completa discordância com os sentimentos e opiniões da vasta maioria do povo brasileiro, tiveram a coragem de defender a prática do aborto e tiveram a ousadia de apresentar uma resolução para promover direitos especiais para o homossexualismo no mundo inteiro.[49] O Brasil merece pessoas mais capacitadas para representá-lo.
CONCLUSÃO
A ONU se tornou instrumento dos grupos feministas e socialistas que trabalham para reestruturar totalmente a sociedade. Esses grupos, com suas interpretações radicais dos acordos da ONU, querem que as nações modifiquem suas leis nacionais.
O Brasil deve opor-se a essa interferência e trabalhar para reverter essa tendência, para o bem das famílias, mulheres e crianças. Precisamos incentivar os políticos evangélicos a avaliarem o perigo que as políticas da ONU representam para a soberania e a estabilidade do Brasil e precisamos trabalhar juntos para que os direitos das crianças e das mulheres sejam de fato protegidos.
[50]
Uma forma condensada deste artigo, escrito por mim, foi publicada na revista Defesa da Fé de julho de 2002. Copyright 2002 Julio Severo. Proibida a reprodução deste artigo sem a autorização expressa de seu autor. Julio Severo é autor do livro O Movimento Homossexual, publicado pela Editora Betânia: http://www.juliosevero.com.br/
[1] As principais agências envolvidas incluem o Escritório do Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos, o Comitê da ONU sobre os Direitos das Crianças e o Comitê da ONU sobre a Eliminação de Discriminação contra as Mulheres que trabalham nesse Escritório do Alto Comissariado, o Conselho Econômico e Social e as burocracias do Fundo Infantil da ONU, o Alto Comissariado para Refugiados, O Programa Mundial de Alimentação, o Programa de Desenvolvimento da ONU e o Programa da ONU para o Meio Ambiente.
[2] Você poderá ver muitos trechos dos relatórios desses comitês neste site: http://www.heritage.org/library/backgrounder/bg1407quotes.html.
[3] Declaração Universal dos Direitos Humanos, Artigo 16: http://ww.unhchr.ch/udhr/lang/eng.htm.
[4] Os 10 membros do Comitê da ONU sobre os Direitos das Crianças incluem “especialistas” em direitos humanos e direito internacional, justiça juvenil, assistência social, medicina, jornalismo, etc. O comitê realiza três sessões por ano. Veja: http://www.unhchr.ch/html/menu6/2/fs10.htm#ii.
[5] http://www.un.org/womenwatch/daw/cedaw/reports.htm[6] Comitê da CEDAW, Segunda Sessão. (2000), “Report on Germany,” Pará. 39.
[7] Relatório do Comitê da ONU sobre a Eliminação da Discriminação contra as Mulheres, Sessão 13, à Assembléia Geral da ONU, sessão 53 (1998), “Report on Croatia,” Document #A/53/38, Para. 109.
[8] Veja Mark Genuis, The Myth of Quality Day Care (Calgary, Alberta: National Foundation for Family Research and Education, 2000).
[9] Comitê da CEDAW, Sessão 21, (1999), “Report on Georgia,” Pará. 30.
[10] Comitê da CDC, Sessão 8, Concluding Observations of the Committee on the Rights of the Child: United Kingdom of Great Britain and Northern Ireland, CRC/C/15/Add.34, 15 de fevereiro de 1995.
[11] Declaração Universal dos Direitos Humanos, Artigo 25, Pará. 2.
[12] Acordo Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, Artigo 10.
[13] Ibid., Artigo 13.3.
[14] Veja Patrick F. Fagan, “Rising Illegitimacy: America's Social Catastrophe,” Heritage Foundation F.Y.I. No. 19/94, 29 de junho de 1994.
[15] Para conhecer literatura sobre o assunto, veja Patrick F. Fagan and Robert Rector, “The Effects of Divorce on America,” Heritage Foundation Backgrounder No. 1373, 3 de junho de 2000: http://www.heritage.org/library/backgrounder/bg1373.html.
[16] http://cwfa.org/library/nation/2000-09_pp_cedaw.shtml[17] Becker frisou esse fato, por exemplo, na principal palestra numa conferência patrocinada pela ONU em 1998 sobre a família realizada em Caracas, Venezuela.
[18] http://cwfa.org/library/nation/2000-09_pp_cedaw.shtml[19] Comitê da CEDAW, Sessão 21 (1999), “Report on Ireland,” Para. 193.
[20] Veja: http://www.irlgov.ie:80/taoiseach/publication/constitution/english/contents.htm[21] Comitê da CEDAW, Sessão 17 (1997), “Report on Armenia,” Para. 65.
[22] Comitê da CEDAW, Sessão 22 (1999), “Report on Belarus,” Para. 27.
[23] Os pesquisadores realizaram dados de mais de 32 mil crianças que recebem cuidados fora do lar, até mesmo creches de qualidade. Veja National Foundation for Family Research and Education (Canada), “The Myth of Quality Day Care,” April 2000.
[24] Comitê da CEDAW, Sessão 22 (2000), “Report on Germany,” Para. 27.
[25] http://cwfa.org/library/nation/2000-09_pp_cedaw.shtml[26] Declaração Universal dos Direitos Humanos, Artigo 26, No. 3.
[27] http://www.family.org/cforum/fnif/news/a0018603.htmlhttp://www.family.org/cforum/fnif/news/a0018603.html[28] http://cwfa.org/library/nation/2001-09_pp_un-conv-child.shtml[29] Convenção da ONU sobre os Direitos das Crianças, Artigos 13 e 15: http://www.unhchr.ch/html/menu3/b/k2crc.htm.
[30] Ibid, Pará. 14.
[31] Michael D. Resnick et al., “Protecting Adolescents from Harm: Findings from the National Longitudinal Study on Adolescent Health,” JAMA, Setembro de 1998, p. 830.
[32] Comitê da CDC, Sessão 8 (1995), “Report on the United Kingdom of Great Britain and Northern Ireland,” CRC/C/15/Add.34. Esse relatório não está disponível no site da CDC.
[33] http://wnd.com/news/article.asp?ARTICLE_ID=23182[34] Para conhecer as pesquisas sobre essas questões, veja Fagan, “The American Family.”
[35] David C. Reardon, “Abortion Is Four Times Deadlier Than Childbirth,” The Post-Abortion Review, Vol. 8, No. 2 (abril-junho de 2000).
[36] Comitê da CEDAW Committee, Sessão 18 (1998), “Report on Mexico,” Para. 426.
[37] Veja: http://www.un.org/womenwatch/daw/cedaw/Irl.htm (19 de setembro de 1999).
[38] Relatório do Comitê da ONU sobre a Eliminação da Discriminação contra as Mulheres, Sessão 17, à Assembléia Geral da ONU, Sessão 52 (1997), “Report on Italy,” Document #A/52/38/Rev. 1, Para. 353 and Para. 360.
[39] Carta do Dr. James Dobson, datada de agosto de 1995, p. 3.
[40] Idem.
[41] http://cwfa.org/library/nation/2001-09_pp_un-conv-child.shtml[42] http://cwfa.org/library/nation/2000-09_pp_cedaw.shtml[43] Fonte: LifeSite News Special Report, 20 de agosto de 2001.
[44] A Situação da População Mundial 1997 (Fundo de População da ONU: Nova Iorque, 1997), p. 61.
[45] Comitê da CEDAW Committee, Sessão 18 (1998) “Report on Croatia,” Pará. 109.
[46] Radhika Coomaraswamy, Reinventing International Law: Women's Rights as Human Rights in the International Community (Cambridge, Mass.: Harvard Human Rights Program, 1997).
[47] C-FAM, Volume 4, Number 42, 12 de outubro de 2001.
[48] http://cwfa.org/library/nation/2000-09_pp_cedaw.shtml[49] HLI Reports (Human Life International: Front Royal-EUA), outubro de 2001, p. 15. Veja também: http://www.lifesite.net/ldn/2003/apr/03042501.html[50] Quase metade do material usado neste artigo foi traduzido e adaptado do documento How U.N. Conventions on Women's and Children's Rights Undermine Family, Religion, and Sovereignty, de Patrick F. Fagan, The Heritage Foundation, 5 de fevereiro de 2001. As informações restantes vieram de várias outras fontes americanas.