Novo ministro da Educação: hostil ao socialismo e Trump, amistoso com Bolsonaro e Hillary
Julio
Severo
Assim como os
evangélicos foram vitais para a eleição do presidente Donald Trump nos EUA, eles
também foram vitais para a eleição do novo presidente brasileiro Jair Bolsonaro.
Entretanto, diferentemente de Trump, que tem dado
prioridade aos seus conselheiros evangélicos e expulsou o “estrategista” Steve
Bannon (um adepto do ocultista islâmico René Guénon, a quem Trump denominou
basicamente de “oportunista”),
Bolsonaro não tem dado prioridade aos conselheiros evangélicos. Ele tem dado prioridade
a Olavo de Carvalho, um antigo propagandista de Guénon no Brasil. Bolsonaro se
recusa a ver qualquer oportunismo nele.
Silas Malafaia, um televangelista da Assembleia de
Deus que se tornou a mais proeminente personalidade evangélica do Brasil e mencionado
na mídia dos EUA como responsável por liderar evangélicos brasileiros para
apoiar Bolsonaro,
recomendou esta semana como ministro da Educação no Brasil Guilherme Schelb,
que é um evangélico e um especialista contra o marxismo e a ideologia de gênero.
Schelb também foi apoiado pela Frente Parlamentar Evangélica no Congresso Nacional.
Carvalho recomendou o colombiano Ricardo Vélez
Rodríguez.
Essa é a segunda grande recomendação de Carvalho que
Bolsonaro aceitou. A primeira foi de Ernesto
Araújo como ministro das Relações Exteriores, visto erroneamente como um
“trumpista,”
apesar de sua admiração por Trump ter como fonte o fato de ele ver
infundadamente René Guénon e suas ideias ocultistas em Trump. Ele é um trumpista
falsificado.
Vélez é também um trumpista?
Para quem, como eu, despreza o socialismo, Vélez tem
vários artigos contra o socialismo e especificamente contra o Partido dos
Trabalhadores, o partido socialista que governou o Brasil de 2003 a 2016.
Apenas algumas amostras, tiradas do blog pessoal de
Vélez Rocinante:
*
Em 2011, ele publicou seu artigo “O marxismo gramsciano, pano de fundo
ideológico da reforma educacional petista.”
*
Em 2014, ele publicou seu artigo “A mentalidade conservadora.”
*
Em 2015, ele publicou seu artigo “A tradição conservadora brasileira,” onde na
seção “Pensadores conservadores e tradicionalistas” ele menciona Olavo de
Carvalho.
*
Em 2016, ele publicou seu artigo “A esquizofrenia lulista.”
*
Em 2016, ele publicou seu artigo “A herança maldita da Dilma: é necessário
falar dela!”
*
Em 2016, ele publicou seu artigo “A queda do farsante Lula.”
A boa notícia é que o Vélez tem sido amistoso com
Bolsonaro e ele tem sido hostil a Lula e seu Partido dos Trabalhadores.
É óbvio que de 2011 a 2016 ele sistematicamente atacou
o socialismo e o Partido dos Trabalhadores, que deu ao Brasil os ex-presidentes
socialistas Luiz Inácio “Lula” da Silva, primeiramente eleito em 2002, e Dilma
Rousseff, que levou impeachment em 2016.
Então, com essa “sólida base conservadora,” é muito
estranho que em 2016 ele tenha dito, em seu artigo intitulado “O pior da
América Latina chegou aos EUA com Trump” (publicado em 4 de novembro de 2016, na
revista Amálgama) que
*
nas atuais circunstâncias, com o doido Trump falando besteiras à torta e à
direita, certamente Hillary, para os tradicionais republicanos, é um mal menor.
*
Trump é um populista irresponsável.
*
No caso da doença populista, parece que ela migrou da nossa combalida América
Latina, onde nos últimos quinze anos se refestelou nos governos populistas dos
Lulas, dos Kirchners, dos Chávez, dos Morales et caterva. Marca registrada da
doença: a verborragia irresponsável de palanque que promete mundos e fundos,
falando aos desempregados aquilo que eles querem ouvir, o oferecimento de
milhões de empregos para amanhã, sem que intermedeiem muitos esforços e
derrubando as incômodas leis de responsabilidade fiscal. Lula nisso foi mestre.
*
Trump é um populista falastrão.
*
A pregação do Trump não está isolada. A Rússia tem também o seu líder populista.
*
É provável que Hillary ganhe a eleição presidencial. Será melhor para nós, no
Brasil… Um populista na Casa Branca nos atrapalharia enormemente.
Em seu artigo intitulado Trump presidente: e agora?” publicado
em 10 de novembro de 2016 em seu blog pessoal, Vélez disse:
*
Trump presidente dos Estados Unidos: e agora?… Confesso que fiquei desapontado.
Mais um populista no horizonte, depois que o Brasil se viu livre de Lula e a
sua corja! É demais.
*
fatídica eleição de Trump.
*
o pesadelo Trump.
Desde 2016, Vélez mudou de ideia? Aparentemente, isso
não é verdade. Em seu artigo de 2018, intitulado “Neopopulismos na Contemporaneidade:
Estados Unidos, Rússia e China,” Vélez critica o neopopulismo de Trump e Putin.
Mas não entendo por que ele incluiu a China, porque na China só existe
comunismo. Nada mais.
Seu artigo dá proeminência positiva ao jornalista
anti-Trump Michael Wolff.
Vélez disse:
O
jornalista Michael Wolff… entrou na Casa Branca com a anuência do dono,
entrevistou muita gente e publicou tudo quanto viu e ouviu no explosivo livro
intitulado: Fire and Fury: Inside the Trump White House, que acaba de ser
publicado no Brasil pela editora Objetiva com o título: Fogo e fúria — Por
dentro da Casa Branca de Trump. De nada adiantaram os chiliques de Trump e a
ameaça de que barraria a distribuição do livro.
O contestado ensaio de Wolff já vendeu mais de 2 milhões de exemplares e
venderá ainda mais.
As
revelações de Michael Wolf são bombásticas. Como frisou na entrevista dada à
revista Veja (edição 2573 de 14 de março de 2018), de Trump pode-se esperar o
oferecimento de qualquer produto midiático. A respeito, disse Wolf: “… Trump
não lê absolutamente nada, nunca. E ele não escuta. Eis a questão: ele não
gosta de pensar. É o pacote completo. Depois de um ano na Presidência, continuo
certo de que ele não tem condições de ser presidente. Minha impressão, aliás,
só piorou nesse período… Eu penso em Trump como um vendedor nato. Ele está
tentando vender o governo dele à população, porém ninguém está querendo comprar
até agora. Inclusive no trato com os membros da equipe ele é assim: se você não
é mais útil, acaba virando apenas um produto em liquidação na prateleira do
Trump. Mas o homem é profundamente enervante. Não é inteligente o bastante, não
tem o conhecimento necessário para o cargo, nem é minimamente estável. Tudo é
possível com Trump no poder. Ele é uma pessoa maluca. O presidente não confia
em ninguém, é autodestrutivo e também não é confiável.”
Em
relação à vida privada do Presidente americano, o jornalista frisa na
entrevista: “Um dos traços centrais da vida de Trump é ser muito mulherengo e
obsessivo. Uma das coisas que fazem a vida valer a pena para o presidente é
levar mulheres de amigos para a cama.”
Então
a má notícia é que Vélez tem sido hostil a Trump, e ele tem sido amistoso com a
trapaceira Hillary Clinton.
Entre a trapaceira Hillary e Trump, não há dúvida para
mim como um evangélico conservador: Trump é a única escolha. Vélez vê
exatamente o contrário. Sua escolha de Hillary é irresponsável, porque ela
está por trás de várias guerras e sofrimentos desnecessários.
Não vejo problemas no populismo ou neopopulismo de
Trump, como condenado por Vélez. Em 2016, em seu populismo Trump condenou os
neocons e suas guerras eternas. Esse é um populismo muito positivo.
Sou hostil ao neoconservadorismo,
por causa de sua natureza belicista. Os neocons travam guerras desnecessárias não apenas
contra outras nações, mas também contra os princípios originais dos fundadores
dos EUA, que queriam que os EUA e seus militares se preocupassem apenas com as
questões particulares dos EUA. Em contraste, os neoconservadores querem a
intromissão militar dos EUA em todos os cantos do planeta, injetando guerras.
Apoiei o populismo antineocon de Trump em 2016. Essa é
a razão pela qual hoje não posso apoiar sua traição ao seu próprio discurso
antineocon de 2016.
Mas Vélez não menciona neocons ou neoconservadorismo.
Ele apenas menciona Trump em seus sentimentos hostis. Ele condenou o Trump antineocon
de 2016 e condena o Trump pró-neocon de 2018. Em resumo, ele é contra Trump em
qualquer forma e jeito. E ele obviamente tem sentimentos melhores com relação à
trapaceira Hillary Clinton, que sempre foi neocon.
Os ocultistas são muito confusos. Não sei se Vélez é ocultista,
mas ele certamente tem conexões estreitas com Carvalho, que é um ocultista
confuso.
Quando um ocultista confuso recomenda um amigo para
ser ministro, e o presidente o recebe, desprezando uma recomendação evangélica,
o que poderia resultar disso?
Bolsonaro se considera um conservador. Ele tem cerca
de 30 anos de serviço no Congresso Nacional. Mas ele é incapaz de escolher por
si mesmo conservadores para o Ministério das Relações Exteriores e o Ministério
da Educação. Ele é dependente de um imigrante brasileiro nos EUA que tem um
longo histórico de astrologia e ocultismo. O astrólogo escolheu para Bolsonaro
um colombiano que se vê como um conservador, mas não gosta de Trump e gosta de
Hillary. Esse é um “conservadorismo” muito confuso, não é?
Nenhum
conservador verdadeiro desprezaria Trump para gostar de Hillary. Mesmo assim,
Vélez se apresenta como um “católico conservador.” Carvalho confirma que ele é
isso. Bolsonaro acredita em Carvalho. E os brasileiros que votaram em Bolsonaro
acreditam nele. É uma cadeia de confiança enganosa. Eu também votei nele, mas
não sou enganado porque não votei nele para deus ou messias, e não fiz nenhum
voto de nunca criticar seus erros.
Votei
nele para ele agir como um conservador, não como um homem dependente de um Rasputin. Não votei nele para ser um mero intermediário de um
Rasputin. Se ele não se comporta como um conservador confiante, é meu dever
como um eleitor conservador fazê-lo prestar contas por suas ações.
Depois que Bolsonaro escolheu Ernesto
Araújo
e Ricardo Vélez como seus principais ministros, o jornal brasileiro O Globo disse que “Olavo de Carvalho se consolida como principal ‘mentor’
do presidente eleito Jair Bolsonaro.”
Carvalho é hoje para Bolsonaro o que Steve Bannon
tentou ser para Trump. Mas Bannon não teve sucesso porque Trump foi esperto e
viu seu oportunismo a tempo e o expulsou da Casa Branca.
Até agora, Bolsonaro não viu nada.
Versão em inglês deste artigo: New Brazilian Education Minister: Hostile
to Socialism and Trump, Friendly with Bolsonaro and Hillary
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