Principais revistas médicas acusadas de distorcer pesquisas, arrecadando milhões de dólares em “subornos” de empresas farmacêuticas
Megan Sheets
Várias das
principais revistas médicas dos EUA revelaram que estão recebendo milhões de
dólares de empresas farmacêuticas, uma prática que questiona a confiabilidade
dessas revistas.
Quase dois
terços das pesquisas médicas nos EUA são financiados pelas empresas
farmacêuticas, totalizando mais de US$ 100 bilhões por ano.
Isso é
potencialmente problemático porque as empresas têm uma participação financeira
nos resultados dos estudos e, portanto, podem ter um incentivo para
publicamente relatar resultados que as coloquem sob uma luz favorável e ocultem
resultados menos lisonjeiros.
Os relatórios
revelaram que muitas das principais revistas médicas podem ter motivações
financeiras para publicar os estudos que são injustamente distorcidos em favor
das empresas farmacêuticas, tanto por meio do pagamento das despesas de
impressão quanto do pagamento aos editores das revistas.
As revistas
que mais lucram com seus relacionamentos com as empresas farmacêuticas incluem
a revista da Associação Médica Americana (JAMA), que obtém 52% de sua receita
imprimindo estudos de empresas farmacêuticas, e a revista da Sociedade
Americana de Cardiologia (JACC), cujos 35 editores arrecadam uma quantia
estimada de US$ 15 milhões de empresas a cada ano.
Nesta semana,
o nefrologista David Fung postou um artigo descrevendo por que ter uma
indústria de pesquisa sob controle das grandes empresas farmacêuticas deveria
levar a classe médica a duvidar da medicina baseada em evidências, vista como o
padrão de ouro das pesquisas.
“Suborno” nos escalões mais elevados
Um estudo
recente revelou que muitos dos principais editores de revistas receberam dezenas
de milhares de dólares de empresas farmacêuticas, escreveu Fung, citando um
relatório de outubro de 2017 na British Medical Journal (Revista Médica
Britânica).
Os editores
são responsáveis não apenas pelos tipos de estudos publicados em suas revistas,
mas também pelos revisores de estudos.
Os
pesquisadores da Universidade de Toronto examinaram um banco de dados com
informações sobre quanto dinheiro cada editor recebeu de fontes da indústria
farmacêutica.
Constatou-se
que mais da metade dos editores das 52 revistas estudadas receberam dinheiro de
fontes da indústria farmacêutica com pagamentos em média de US$ 27.564 cada.
Esse número
não inclui os pagamentos por “pesquisas,” que são em grande parte não
regulamentados, com uma média de US$ 37.330.
Os maiores
infratores foram os 35 editores da Sociedade Americana de Cardiologia, cada um
recebendo uma média de US$ 475.000 pessoalmente e US$ 120.000 em dólares de
“pesquisas,” totalizando pouco menos de US$ 15 milhões, segundo o estudo.
Conforme
revelação, os editores da JAMA receberam em média mais de US$ 6.000 diretamente
e US$ 84.500 em dinheiro de pesquisas.
Os editores
da revista Diabetes Care receberam quase US$ 97.000 diretamente e mais de US$
212.426 em dinheiro para pesquisas.
O estudo
também revelou que apenas 37% das revistas tinham políticas de conflito de
interesse.
Renda da impressão de estudos de sucesso
Um relatório
de 2010 do Reino Unido revelou que muitas revistas obtêm uma grande parte de
sua receita de reimpressões, nas quais uma empresa farmacêutica compra centenas
de exemplares de uma revista contendo um relatório que é favorável a essa
empresa.
Como
resultado, o Dr. Fung afirma que as revistas são muito mais propensas a
publicar estudos feitos por empresas farmacêuticas, porque sabem que vai trazer
dinheiro para pagamento de reimpressões.
O relatório
revelou que 53% da receita da revista da Associação Médica Americana vem do
pagamento das despesas de reimpressão.
Da mesma
forma, a revista da Sociedade Médica de Massachusetts obtém 23% de sua renda
com reimpressões e a revista The Lancet, 41%.
Além desses
pagamentos de despesas, os estudos de grande sucesso das empresas farmacêuticas
são mais propensos a ser citados por outros autores, dando a essas revistas que
os publicam mais visibilidade.
“Resultados distorcidos em estudos patrocinados pelas grandes empresas farmacêuticas”
O maior
problema em favorecer estudos de empresas farmacêuticas é que essas empresas
têm um incentivo óbvio para publicar resultados positivos para elas, escreve o
Dr. Fung.
Os estudos
pagos pela indústria farmacêutica são 70% mais propensos a mostrar um resultado
positivo do que os estudos financiados pelo governo, de acordo com uma revisão
de 2010 feita pelo Hospital Infantil de Boston.
Isso pode ser
em parte porque os resultados são diretamente influenciados pela percepção do
pesquisador e, quando um pesquisador está sendo financiado por uma empresa, é
mais provável que ele interprete os resultados de maneira favorável a essa
empresa, consciente ou inconscientemente.
Por exemplo,
um relatório de 2008 da Universidade Estatal de Kent revelou que entre os
estudos de antidepressivos, 36 dos 37 relatórios com resultados positivos foram
publicados contra três dos 36 com resultados negativos.
Como
resultado, uma revisão abrangente das pesquisas publicadas indicaria que 94%
dos resultados foram positivos quando o número real foi de 51%.
Para colocar
isso em perspectiva, o Dr. Fung escreveu: “Suponha que você saiba que seu
corretor da bolsa publica todos os seus negócios lucrativos, mas suprime todos
os seus negócios perdedores. Você confiaria a ele seu dinheiro?”
“Mas, ainda
assim, confiamos nossas vidas à medicina baseada em evidências, ainda que que a
mesma coisa esteja acontecendo.”
O Dr. Fung
destacou a empresa farmacêutica francesa Sanofi, que completou 92 estudos em
2008, mas publicou apenas 14 deles.
Os resultados
dos estudos publicados apresentaram de forma positiva as drogas em questão, e o
Dr. Fung sugere que os estudos restantes que compuseram a maioria dos testes
feitos naquele ano provavelmente mostraram resultados menos favoráveis.
“Esse tipo de
comportamento racional acontecerá agora e não cessará no futuro. Mas sabendo
disso, por que ainda acreditamos na medicina baseada em evidências, quando a
base de evidências é completamente tendenciosa?” ele escreveu.
“Um
observador de fora, olhando apenas para todos os dados publicados, concluirá
que as drogas são muito mais eficazes do que são na realidade.
“No entanto,
se você apontar isso nos círculos acadêmicos, as pessoas rotulam você de
charlatão, que não “acredita na evidência.”
Traduzido
por Julio Severo do original em inglês do jornal britânico DailyMail: Top medical journals accused of
skewing research by raking in millions of dollars in 'bribes' from drugs firms
Fonte: www.juliosevero.com
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Um comentário :
Isso tudo não é nada mais,nada menos,do que a famosa lei do toma lá,dá cá.
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