Os EUA têm uma missão mundial?
Patrick J. Buchanan
Informando o
Irã de que “Os EUA estão vigiando o que vocês fazem,” a embaixadora Nikki Haley
convocou na sexta-feira uma reunião de emergência do Conselho de Segurança com
relação aos tumultos no Irã. A sessão fez com que ela e os EUA parecessem
ridículos.
O embaixador
da França deu para Haley uma aula mostrando que o modo como as nações lidam com
desordens internas não é da conta do conselho. O embaixador da Rússia sugeriu
que a ONU deveria ter inspecionado minuciosamente os confrontos do “Occupy Wall
Street” e o modo como os policiais americanos lidaram em Ferguson.
Cinquenta
anos atrás, 100 cidades americanas explodiram em chamas depois do assassinato
de Martin Luther King. Tropas federais foram convocadas. Em 1992, Los Angeles
sofreu o pior tumulto dos EUA no século XX, depois que policiais de Los Angeles
que surraram Rodney King foram inocentados em Simi Valley.
O modo como
os EUA lidaram com esses tumultos era da conta da ONU?
Os
conservadores têm exigido que a ONU não se meta nos assuntos soberanos dos EUA
desde o nascimento da ONU em 1946. Mas os EUA aceitam agora que a ONU tem
autoridade para supervisionar distúrbios internos dentro de países membros?
A sessão de
sexta-feira fracassou depois que o embaixador do Irã sugeriu que o Conselho de
Segurança poderia começar a estudar a questão palestino-israelense ou a crise
humanitária produzida pela guerra saudita apoiada pelos EUA no Iêmen.
Esse episódio
expõe uma enfermidade que faz parte da política externa dos EUA. A política
externa americana não tem compatibilidade, coerência e clareza moral, trata os
amigos e adversários por padrões separados e é reflexivamente intervencionista.
Por isso, os
EUA estão perdendo muito da admiração e respeito quase universal que gozavam no
final da Guerra Fria.
Esta geração
arrogante tem mandado tudo às favas.
Considere. O
jeito como o Irã lidou com essas desordens é mais condenável do que os milhares
de assassinatos extrajudiciais de traficantes de drogas atribuídos a Rodrigo
Duterte, aliado filipino dos EUA e a quem Trump diz que está fazendo um
“trabalho incrível”?
E dá para
comparar o que o Irã está fazendo com o que outro aliado dos EUA, o General Abdel
el-Sissi, fez em 2012? Ele derrubou de modo violento o presidente eleito do
Egito, Mohamed Morsi, e prendeu dezenas de milhares de seguidores da Irmandade
Muçulmana.
O Irã é
realmente a situação pior no Oriente Médio hoje?
Hassan
Rouhani é o presidente do Irã depois de vencer uma eleição com 57 por cento dos
votos. Em contraste, quem elegeu Mohammed bin Salman príncipe herdeiro e futuro
rei da Arábia Saudita? [Não foi o povo, pois a Arábia Saudita é uma ditadura
islâmica que, diferente do Irã, não tem eleições.]
Vladimir
Putin também é denunciado por crimes contra a democracia. Mas os aliados dos
EUA recebem salvo-conduto quando cometem os mesmos crimes.
Na Rússia, o
Cristianismo está florescendo, e os candidatos estão se declarando contra
Putin. Alguns na imprensa russa regularmente o criticam.
Como é que
está o Cristianismo na Arábia Saudita [aliada dos EUA] e no Afeganistão [sob
ocupação americana]?
Alega-se que
o governo de Putin é responsável pela morte de vários jornalistas. Mas nenhum
país do mundo tem mais jornalistas atrás das grades do que a Turquia, que é
aliada dos EUA na OTAN.
Quando é que
a Lei de Magnitsky será aplicada à Turquia?
O que o mundo
frequentemente vê é os EUA repreendendo severamente seus adversários por
pecados contra os “valores” americanos, mas concedendo total perdão de pecados
aos aliados se eles seguem a liderança americana.
Durante um
ano e meio, não se passou um único dia sem que lêssemos ou ouvíssemos acerca da
revolta das elites americanas contra o ataque do governo russo à “democracia
americana,” com o hackeamento do Partido Democrático e os e-mails de John
Podesta.
Entretanto, quantos
chegam a se lembrar da revelação em 2015 de que a China hackeou os arquivos
pessoais de milhões de funcionários do governo dos EUA, passados, presentes e
futuros?
Enquanto a
China persegue cristãos, a Rússia apoia a restauração do Cristianismo depois de
70 anos de governo leninista.
Na Rússia de
Putin, o Partido Comunista tem um candidato concorrendo contra ele. Na China, o
Partido Comunista exerce um monopólio absoluto de poder político, e ninguém
concorre contra Xi Jinping.
Sob protestos
dóceis dos EUA, a China anexou as Ilhas Paracel e Spratly e todo o Mar do Sul
da China. Em contraste, os EUA castigam incessantemente a Rússia que, sem nenhum
derramamento de sangue, recuperou a península da Crimeia que, reconhecidamente,
era território russo sob os antigos czares.
A China, que
tem uma economia e população 10 vezes maiores do que as da Rússia, representa
um desafio muito maior para a posição dos EUA como única superpotência. Por
que, então, os EUA ficam do lado da China?
Entre as
razões por que a política externa dos EUA não tem coerência e clareza moral é
que os americanos não mais concordam acerca de quais são seus interesses
vitais, quais são seus reais adversários, quais são seus valores ou como é que se
parece um país bom que respeita a Deus.
Os EUA de
John Fitzgerald Kennedy eram melhores do que os EUA de Obama?
A 2ª Guerra
Mundial e a Guerra Fria deram clareza moral aos EUA. Se você se opunha a
Hitler, ainda que você fosse moralmente um monstro como Josef Stálin, os EUA
faziam parceria com você.
Desde o
discurso de Winston Churchill sobre a Cortina de Ferro em 1946 até o fim da
Guerra Fria, se você ficava do lado dos EUA contra o “Império do Mal” conforme
a descrição de Reagan, ainda que você fosse um ditador como o General Pinochet
ou o xá do Irã, você era bem-vindo do lado dos santos.
Mas agora que
uma conversão mundial à democracia não é mais a missão dos EUA no mundo, qual é
exatamente a missão dos EUA?
“A Grã-Bretanha
perdeu um império,” disse Dean Acheson em 1962, “mas ainda não achou um papel.”
Dá para se
dizer a mesma coisa hoje dos EUA.
Pat
Buchanan é colunista do
WND e foi assessor do presidente Ronald Reagan. Ele é católico tradicionalista
pró-vida e já foi candidato republicano à presidência dos EUA.
Traduzido por Julio Severo do artigo original em
inglês do WND (WorldNetDaily): Does
America have a global mission?
Fonte: www.juliosevero.com
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3 comentários :
Lógica dos EUA:Faça o que eu mando,mas não faça o que eu faço.
Excelente texto Julio, parabéns!
Pat Buchanan , mandou muito bem ! Like 👍
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