Lutero e os judeus
Julio Severo
O
Dr. Michael Brown escreveu um excelente artigo em que ele, citando Stephen
Nichols, disse que “em 1523 Lutero estendeu a mão com bondade e humildade ao
povo judeu, denunciando como a Igreja Católica os havia tratado até então, na
esperança de que muitos se tornassem cristãos. Vinte anos depois, quando isso
não aconteceu, e quando Lutero, agora velho e doente, havia tido acesso a
literatura blasfema contra Jesus escrita por judeus em gerações passadas, ele
escreveu seu infame documento ‘Com relação aos Judeus e Suas Mentiras.’”
Lutero e a Bíblia |
Outro
artigo importante, também intitulado “Martinho Lutero era antissemita?” e
escrito pelo Dr. Eddie Hyatt, mostra que Lutero usava muitas palavras ofensivas
contra os judeus, contra os muçulmanos, contra os católicos e contra os
batistas e que eles também usavam palavras ofensivas contra ele. Você pode
conferir o artigo completo de Hyatt aqui.
Brown
explica como Adolf Hitler usou as palavras de Martinho Lutero para perseguir os
judeus. Claro que Hitler também usava a Bíblia para sustentar o nazismo. De
acordo com Ray Comfort, em seu livro “Hitler,
God and the Bible”
(Hitler, Deus e a Bíblia) Hitler fazia muito uso público da Bíblia. Mas,
enquanto Hitler precisava perverter a Bíblia, ele não precisou perverter
nenhuma palavra de Lutero contra os judeus. As próprias palavras de Lutero
contra os judeus já eram pervertidas — e indesculpáveis.
São
indesculpáveis não só porque ele foi o líder máximo da Reforma protestante, mas
também dizia ser seguidor de Jesus. “Quem declara que permanece nele também
deve andar como Ele andou.” (1 João 2:6 King James Atualizada)
Ao
criticar os judeus, Lutero fez o que toda a sociedade europeia, dominada por
antigas tradições católicas antijudaicas, já fazia há muito tempo. Aliás,
enquanto Lutero estava criticando os judeus, a Igreja Católica os estava também
criticando e os torturando, roubando e queimando nas fogueiras da Inquisição.
Apesar
de tudo, Lutero e seus seguidores não têm histórico de torturar, roubar e
queimar judeus. Eles não têm histórico de inquisição contra judeus.
Os
Estados Unidos, a maior nação protestante do mundo e a nação que mais seguiu a
orientação de Lutero de colocar a Bíblia no centro de tudo, não tem nenhum
histórico de torturar, roubar e queimar judeus. Os EUA não têm histórico de
inquisição contra judeus. Pelo contrário, como nação protestante, os EUA têm um
histórico incrível de proteção, parceria e amizade com os judeus e um histórico
invejável contra a Inquisição.
Mais leitura da Bíblia (que é o valor principal do
protestantismo) produz mais defesa dos judeus, embora alguns judeus tenham
pensamentos diferentes. Osias Wurman, que é o cônsul honorário de Israel no Rio
de Janeiro, demonstrou
preocupação com a vitória de Donald Trump nos EUA
em 2016 — vitória que foi conseguida em
grande parte por meio dos eleitores evangélicos.
Ele
falou dessa vitória como se o aumento de conservadorismo evangélico fosse
produzir um aumento de sentimentos favoráveis ao Holocausto, quando o contrário
é verdade. Os evangélicos americanos não são a favor do Holocausto e da Inquisição.
Contudo, como judeu brasileiro Wurman perdeu uma
grande oportunidade de denunciar que está havendo um
aumento de posturas pró-Inquisição entre direitistas católicos esotéricos do
Brasil. Esses
direitistas extremistas defensores da Inquisição rejeitam a atual postura do
Vaticano contra a Inquisição e acusam
Lutero de “genocida” por suas
opiniões antijudaicas, sendo que a Inquisição representa as palavras e ações
antijudaicas do catolicismo medieval que foi uma grande influência em Lutero. Esse
direitismo pró-Inquisição tem sido totalmente rejeitado pelos evangélicos
conservadores, que se unem aos judeus na denúncia contra o Holocausto e a
Inquisição.
Seguir
o protestantismo conservador americano leva a posturas contra o Holocausto e a
Inquisição.
Seguir
o catolicismo medieval leva a posturas a favor da Inquisição, que fatalmente
leva ao Holocausto.
Lutero
seguiu os padrões europeus medievais (que eram totalmente católicos), e quando
ele verbalmente atacou os judeus ele não seguiu o exemplo de Jesus, que nunca
ensinou seus discípulos a odiar os judeus.
Jesus
orientou seus discípulos a orar e tomar cuidado. Ele disse: “Vigiai e orai,
para não cairdes em tentação. O espírito, com certeza, está preparado, mas a
carne é fraca.” (Mateus 26:41 King James Atualizada) A tentação de Lutero foi
forte e sua carne foi fraca. Ele caiu na tentação dominante de sua geração, que
era antes e depois hostil aos judeus.
Seguir
tendências sociais (todas as personalidades sociais fazem isso) e tradições
religiosas (todos os líderes religiosos fazem isso) está em conflito com
vigilância e oração.
Na
verdade, se Hitler precisasse de um exemplo religioso antijudaico contra os
judeus, ele nem precisava de Lutero, pois a Igreja Católica tinha exemplos
abundantes de vários séculos de palavras e ações contra os judeus. Tudo o que
Lutero disse contra os judeus a Inquisição já praticava em abundância.
Hitler,
que era um católico esotérico que astutamente usava imagens
esquerdistas e direitistas, usou o exemplo de Lutero porque se não houvesse esse
exemplo evangélico, só lhe restariam os abundantes exemplos católicos.
O
protestantismo de Lutero buscava se libertar das tradições católicas, e o
próprio Lutero só tinha experiência com tais tradições.
Lutero
vivia numa Europa 100 por cento católica. Todos os que ele conhecia eram
católicos. Todas as opiniões que ele ouvia eram católicas e antijudaicas.
A
geração de Lutero era antissemita. Aliás, a Europa inteira onde Lutero nasceu
era católica e antissemita.
Lutero tinha para com os judeus a mesma hostilidade de
um católico comum (desde os papas até os padres), pois ele havia sido criado
como católico. Embora ele e outros protestantes tivessem a mesma hostilidade
antijudaica dos católicos, não vimos na prática Lutero e outros protestantes
matando judeus. Eles tinham ódios ou preconceitos, mas não praticaram. Eles não
tinham inquisições contra os judeus. Eles não torturavam e matavam judeus. Da
mesma forma, os judeus tinham seus próprios ódios ou preconceitos contra os
cristãos.
Quem
quer que condene Lutero por suas palavras contra os judeus inevitavelmente tem
de condenar o papa e toda a Igreja Católica daquela época não só por suas
palavras, mas também por suas ações, especialmente a Inquisição, contra os
judeus.
Um
seguidor de Jesus teria pelos judeus o amor que Jesus tinha, e inicialmente
Lutero tinha esse amor, pois ele desejava a conversão deles. Mas quando ficou
velho e doente, ele mudou de ideia. E a ideia dele se tornou repugnante e
odiosa contra os judeus, alegadamente porque ele leu escritos blasfemos de
judeus contra Jesus Cristo e os cristãos. Contudo, Hyatt deixa claro
que antes de morrer, Lutero voltou à sua atitude mais conciliatória para com os
judeus.
Um
cristão jamais pode se guiar por ódio. Foi exatamente o ódio aos judeus que
sustentou a Inquisição, que saqueava, torturava e matava judeus.
Se
Lutero tinha como justificativa para seu ódio antijudaico livros judaicos contra
Jesus Cristo, hoje outros encontrariam como justificativa o fato de que Karl
Marx era judeu e que Genrikh Yagoda, judeu que fundou e dirigiu a NKVD
(sucessora da KGB), foi, de acordo com um escritor judeu no jornal israelense Ynetnews,
“o maior assassino judeu do século XX.”
Aliás,
em sua estridente propaganda contra o marxismo, Hitler e Henry Ford, o maior magnata americano daquela
época, odiavam o marxismo soviético
pelo fato de que os judeus eram majoritariamente socialistas na Alemanha e
também pelo fato de que eles ocupavam posições proeminentes de liderança na
União Soviética.
Seja
como for, o Lutero velho e doente que escreveu um livro contra os judeus
cometeu um pecado grave. Discordo totalmente de todas as ideias loucas dele do
Lutero velho e doente contra os judeus.
No
entanto, precisamos ser justos e também discordar das ideias e palavras loucas
dos judeus contra Jesus Cristo e os cristãos.
O Talmude judaico e a literatura rabínica são
totalmente contra os cristãos, tratando-os de forma desprezível. O Talmude pode
ser o equivalente judaico do livro de Lutero, mas foi escrito muito antes.
Aliás, o Talmude é muito mais nocivo, pois embora nenhum luterano e nenhum evangélico
coloque o livro antijudaico de Lutero em pé de igualdade com a Bíblia, os
judeus religiosos colocam o Talmude num patamar muito próximo de suas
Escrituras Sagradas (que é o Antigo Testamento dos cristãos).
Enquanto nenhuma igreja evangélica tem em seu templo o
livro antijudaico de Lutero nem o lê do púlpito, as sinagogas têm o Talmude e o
leem junto com as Escrituras.
De
acordo com o livro “Jesus in the Talmud” (Jesus no Talmude), escrito por Peter
Schäfer, publicado pela Princeton University Press (Editora da Universidade
Princeton) em 2007, o Talmude e a literatura rabínica tratam Jesus como um bruxo
depravado filho de uma prostituta.
Citando
o Talmude, Schäfer disse: “A mais bizarra de todas as histórias acerca de Jesus
é aquela que conta como Jesus está no inferno junto com Tito e Balaão, arqui-inimigos
notórios do povo judeu… O destino de Jesus consiste em sentar-se para sempre em
cima de excremento fervendo” (página 13).
Schäfer
disse que, de acordo com o Talmude, Maria, “Depois que foi expulsa por seu
marido e enquanto estava vagando de uma maneira vergonhosa, ela secretamente
deu à luz Jesus. E… porque ele [Jesus] era pobre, ele se empregou como
trabalhador no Egito, e tentou certos poderes de bruxaria dos quais os egípcios
se orgulham; ele voltou cheio de presunção, por causa desses poderes, e por
causa deles se deu o título de Deus” (página 19).
O
Talmude, de acordo com Schäfer, disse: “Os seguidores de Jesus, que afirmam ser
o novo sal da terra, não são nada mais que a placenta pós-parto da prole
imaginada da mula, uma ficção de uma ficção” (página 24).
Enquanto
os protestantes em geral e os luteranos em particular rejeitam as opiniões
antijudaicas de Lutero, os judeus religiosos não fazem nenhum esforço para
rejeitar o Talmude anticristão.
Contudo, as palavras loucas do Talmude contra os
cristãos e as palavras loucas de Lutero contra os judeus estão apenas no campo
das ideias. Se fossem implementadas, se os luteranos tivessem agido como
Genrikh Yagoda, seria repugnante. Daí, mesmo defendendo Lutero e os judeus, não
concordo com eles em tudo, por causa de suas ideias loucas uns contra os
outros.
A
Inquisição, é claro, foi pior, pois foi a implementação de ideias loucas. Por
isso, sou contra a Inquisição e louvo o histórico notável dos Estados Unidos no
combate à propaganda pró-Inquisição.
Não
há, no luteranismo e no protestantismo, uma tradição de Inquisição de tortura e
morte contra os judeus, embora haja o livro de Lutero, o qual tem antijudaísmo
em palavras. No catolicismo há em palavras e ações, e a Inquisição é uma das
grandes provas inegáveis.
O
protestantismo produziu os Estados Unidos, que se tornaram o maior abrigo de
judeus que o mundo já viu. E o Brasil, o maior país católico do mundo, tem um
histórico de Inquisição, que torturou e matou muitos judeus brasileiros. Aliás,
os primeiros judeus de Nova Iorque no século XVII eram brasileiros que haviam
fugido da Inquisição no Brasil. O primeiro cemitério judaico de Nova Iorque é
composto desses judeus brasileiros perseguidos pela Inquisição.
A
proposta original de Lutero era valorizar a Bíblia acima de tudo. Os Estados
Unidos fizeram exatamente isso. O fruto protestante nos EUA não foi só um amor
cultural imenso pela Bíblia, mas também uma tolerância aos judeus nunca antes
vista.
Os
EUA, que foram fundados por uma população 98 por cento de protestantes,
seguiram a Bíblia, como Lutero indicou, mas não seguiram os pecados antijudaicos
de Lutero.
Com
suas imperfeições, pecados e até opiniões pesadas, Lutero buscava muitas vezes
apontar para Cristo. Se um evangélico colocar Lutero acima de Jesus, ele não
será melhor do que os papas a quem Lutero criticava.
O
evangélico verdadeiro deve imitar Jesus e o Evangelho, não Lutero e outros
homens. Se ele imitar Lutero, ele falará muitos palavrões, pois esse era um dos
pecados de Lutero. E ele imitará a postura insana de Lutero contra os judeus,
postura totalmente imitada dos costumes católicos comuns de sua época.
Evangélico
que imita os pecados, a boca suja e as opiniões pesadas de Lutero não é seguidor
de Jesus.
No
ano passado, a Igreja Luterana da Noruega denunciou os escritos
antijudaicos de Lutero. Mais igrejas da Reforma precisam seguir o exemplo da
Igreja Luterana da Noruega.
Lutero
deu um bom exemplo ao denunciar a corrupção da hierarquia da Igreja Católica,
que tem trabalhado para consertar alguns desses problemas. Mas ele acabou
imitando um dos piores pecados da Igreja Católica. Agora, seguindo o exemplo
dele mesmo de dar preeminência à Bíblia, as igrejas da Reforma têm a obrigação
moral e espiritual de denunciar as opiniões antijudaicais que se apossaram de
um Lutero velho e doente.
Contudo,
o bom fruto permanente de Lutero é muito melhor do que seu livro anti-judaico
momentâneo: Por causa de Lutero, os EUA nasceram protestantes e se tornaram o
melhor amigo e refúgio dos judeus e Israel.
Outro
bom fruto foi o Rev. Richard Wurmbrand, um pastor judeu luterano que escreveu
vários livros contra o comunismo.
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