Vladimir Putin é o líder do mundo moral
Paul
Craig Roberts
Comentário
de Julio Severo: O presente
artigo foi originalmente publicado em inglês pelo Lew Rockwell e traduzido por
Dionei Vieira especialmente para o Blog Julio Severo. Embora seja desconhecido de
muitos dos leitores do Blog Julio Severo, Rockwell é amplamente elogiado e
promovido pelo Mídia Sem Máscara, que já publicou inúmeros artigos dele. Espero
que este seja mais um deles, pela própria importância que Lew Rockwell deu ao discurso
do presidente russo Vladimir Putin. Rockwell, que é um americano libertário, é
o fundador e presidente do famoso Instituto Mises. Há pontos interessantes no
discurso de Putin. O que não aceito, porém, é a crença dele de que na Terra Prometida
deve haver dois Estados: um israelense e outro palestino. Essa
é também a política americana oficial, desde Clinton, Bush e Obama. Claro
que não aceito tal política, seja de quem vier, de Putin, Clinton, Bush ou
Obama. Israel em primeiro lugar. EUA e Rússia depois. Eu não apoiava Clinton por
ser socialista. Não apoio Obama por ser socialista. Mas eu apoiava Bush. Apesar
da horrenda postura dele sobre Israel, pelo menos ele tinha posturas contrárias
ao aborto e ao homossexualismo. Dá para se dar o mesmo tratamento para Putin. Seu
discurso contém revelações importantes.
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Vladimir Putin |
Em uma sociedade ocidental sã, as declarações de Putin
teriam sido reproduzidas na íntegra e debates seriam organizados com as
observações de especialistas, como Stephen F. Cohen. Os coros de aprovação
teriam sido ouvidos na televisão e lidos na mídia impressa. Mas, é claro, nada
disso é possível em um país cujos governantes afirmam que esse mesmo país é
"excepcional" e "indispensável" com um direito
extra-judicial de supremacia sobre o mundo. Na medida em que Washington e os
seus meios de comunicação social prostituídos estão interessados, meios de
comunicação esses chamados de imprensa prostituta ou "presstitutes" (uma
forma de junção das palavras imprensa e prostituta em inglês) pelo especialista
em tendências, Gerald Celente, onde para essa mídia não há um país que importe,
com exceção do governo dos EUA. "Ou vocês estão com os EUA ou contra os
EUA", o que significa, "vocês são vassalos dos EUA ou inimigos dos
EUA". Isso significa que o governo dos EUA declarou a Rússia, a China, a
Índia, o Brasil e outras partes da América do Sul, o Irã e a África do Sul como
sendo inimigos.
Esta é uma grande parte do mundo para um país em
falência, odiado por suas populações vassalas e muitos de seus próprios
súditos, que não ganhou a guerra, uma vez que derrotou o minúsculo Japão em
1945 pelo uso de armas nucleares, o único uso dessas armas terríveis na
história do mundo.
Como americano, tente imaginar qualquer político
americano conhecido, ou por sinal, qualquer professor das grandes universidades
de Harvard, Princeton, Yale ou Stanford que seja capaz de se dirigir a um grupo
de discussão educado com a qualidade das observações de Putin. Tente encontrar
qualquer político americano capaz de responder de forma precisa e direta às
perguntas ao invés de fazer uso de evasivas.
Ninguém pode ler as observações de Putin sem concluir
que Putin é o líder do mundo.
Na minha opinião, Putin é uma figura imponente que o
governo americano marcou para ser assassinado. A CIA vai usar algum terrorista
muçulmano que a CIA apoia dentro da Rússia. Ao contrário de um presidente americano,
que não se atreve a andar entre as pessoas abertamente, Putin não se mantém
distante do povo. Putin está à vontade com o povo russo e se mistura entre
eles. Isso faz dele um alvo fácil para a CIA usar um terrorista da Chechênia, um
homem-bomba islâmico ou de algum "louco solitário" tradicional para
assassinar Putin.
O Ocidente imoral, mau e decadente é incapaz de
produzir uma liderança da qualidade de Putin. Já tendo difamado Putin,
assassiná-lo resultará em poucos comentários na mídia ocidental.
Eis as notáveis observações de Putin:
Reunião do Clube de Discussão Internacional Valdai em
24 de outubro de 2014, em Sochi
Vladimir Putin participou da reunião plenária final da
sessão XI do Clube de Discussão Internacional Valdai. O tema do encontro é a
Ordem Mundial: Novas Regras ou um Jogo Sem Regras. Neste ano, 108
especialistas, historiadores e analistas políticos de 25 países, incluindo 62
participantes estrangeiros, participaram dos trabalhos do clube.
A reunião plenária resumiu o trabalho do clube nos
últimos três dias, que se concentraram em analisar os fatores que estão
corroendo o atual sistema de instituições e as normas do direito internacional.
DISCURSO DO PRESIDENTE DA RÚSSIA, VLADIMIR PUTIN:
Colegas, senhoras e senhores, amigos, é um prazer
recebê-los para a reunião XI do Clube de Discussão Internacional Valdai.
Foi mencionado que o clube tem novos co-organizadores
este ano. Elas incluem as organizações não-governamentais russas, grupos de
especialistas e as melhores universidades. Foi, também, levantada a ideia de
ampliar as discussões para incluir não apenas as questões relacionadas com a
própria Rússia, mas também a política mundial e a economia.
A organização e o conteúdo vão reforçar a influência
do clube como um importante fórum de discussão e de especialistas. Ao mesmo tempo,
espero que o ‘espírito de Valdai’ permaneça — essa atmosfera livre e aberta e
com a chance de expressar todos os tipos de opiniões muito diferentes e
francas.
Deixe-me dizer a este respeito que eu também não vou
desapontar vocês e vou falar diretamente e com franqueza. Algumas das coisas
que eu disser podem parecer um pouco duras demais, mas se nós não falarmos
diretamente e honestamente sobre o que realmente pensamos, então não vale a
pena nos reunirmos desta forma. Seria melhor, neste caso, apenas manter os
encontros diplomáticos, onde ninguém diz nada de verdadeiro sentido e,
recordando as palavras de um diplomata famoso, você percebe que os diplomatas
têm línguas, mas não para falar a verdade. Ficamos juntos por outras razões.
Nós nos reunimos assim para falarmos francamente um com o outro. Precisamos ser
diretos e francos, hoje, não para trocarmos farpas, mas a fim de tentar chegar
ao fundo do que está realmente acontecendo no mundo, tentar entender por que o
mundo está se tornando menos seguro e mais imprevisível e por que os riscos
estão aumentando em todos os lugares à nossa volta. A discussão de hoje tomou
lugar sob o tema: Novas Regras ou um Jogo Sem Regras. Eu acho que essa fórmula
descreve com precisão o ponto de virada histórico a que chegamos hoje e a
escolha que todos nós enfrentamos. Naturalmente, não há nada de novo na idéia
de que o mundo está mudando muito rápido. Eu sei que isso é algo que vocês têm
comentado nas discussões de hoje. Certamente é difícil não notar as
transformações dramáticas na política mundial e na economia, na vida pública e
na indústria, nas tecnologias de informação e sociais.
Deixe-me perguntar-lhes agora e peço que me perdoem se
eu acabar repetindo o que alguns dos participantes da discussão já disseram. É
praticamente impossível evitar. Vocês já realizaram discussões detalhadas, mas
vou definir o meu ponto de vista. Ele vai coincidir com a opinião dos outros participantes
em alguns pontos e divergir em outros.
Ao analisar a situação de hoje, não esqueçamos as
lições da história. Primeiramente, as mudanças na ordem mundial — e o que
estamos vendo hoje são eventos nessa escala — têm geralmente sido acompanhadas,
se não de uma guerra e conflitos mundiais, por uma cadeia de intensos conflitos
em nível local. Em segundo lugar, a política global é, acima de tudo, sobre a
liderança econômica, questões de guerra e paz e a dimensão humanitária,
incluindo os direitos humanos.
O mundo está cheio de contradições hoje. Precisamos
ser francos em perguntar uns aos outros se temos uma rede de segurança
confiável funcionando direito. Infelizmente, não há nenhuma garantia e não há
certeza de que o atual sistema de segurança global e regional é capaz de nos
proteger de convulsões. Esse sistema tornou-se seriamente enfraquecido,
fragmentado e deformado. As organizações de cooperação internacional e regional
políticas, econômicas e culturais também estão passando por momentos difíceis.
Sim, muitos dos mecanismos que temos para garantir a
ordem mundial foram criados muito tempo atrás, inclusive e, sobretudo, no
período imediatamente após a Segunda Guerra Mundial. Deixe-me enfatizar que a
solidez do sistema criado naquela época não repousou apenas no equilíbrio de
poder e os direitos dos países vencedores, mas no fato de que "os pais
fundadores" desse sistema tiveram respeito um pelo outro, não tentaram
colocar pressão sobre os outros, mas procuraram chegar a acordos.
A principal coisa é que este sistema necessita se
desenvolver, e apesar de suas várias deficiências, precisa pelo menos ser capaz
de manter os problemas atuais do mundo dentro de certos limites e regular a
intensidade da concorrência natural entre os países.
É minha convicção de que não poderíamos tomar este
mecanismo de freios e contrapesos que construímos ao longo das últimas décadas,
às vezes com tal esforço e dificuldade, e simplesmente acabar com eles sem
construir qualquer coisa em seu lugar. Caso contrário, ficaríamos sem nenhum
outro instrumento além da força bruta.
O que precisávamos fazer era realizar uma reconstrução
racional e adaptá-la às novas realidades no sistema das relações
internacionais.
Mas os Estados Unidos, tendo se declarado o vencedor
da Guerra Fria, não vê necessidade para isso. Em vez de estabelecer um novo
equilíbrio de poder, essencial para a manutenção da ordem e da estabilidade,
eles tomaram medidas que jogaram o sistema em um desequilíbrio agudo e
profundo.
A Guerra Fria terminou, mas não terminou com a
assinatura de um tratado de paz com acordos claros e transparentes no respeito
das regras existentes ou na criação de novas regras e normas. Isso criou a
impressão de que os chamados ‘vencedores’ na Guerra Fria tenham decidido pressionar
eventos e mudar o mundo para atender às suas próprias necessidades e
interesses. Se o atual sistema de relações internacionais, as leis
internacionais e os freios e contrapesos no lugar ficaram no caminho desses
objetivos, esse sistema foi declarado sem valor, desatualizado e em necessidad
de demolição imediata. Perdoe a analogia, mas esta é a maneira que os novos
ricos se comportam quando, de repente, acabam ficando com uma grande fortuna,
neste caso, na forma de liderança mundial e dominação. Em vez de gerenciarem
suas riquezas sabiamente, para seu próprio benefício também, é claro, eu acho
que eles cometeram muitas tolices.
Entramos
em um período de interpretações divergentes e de silêncios deliberados na
política mundial. O direito internacional foi forçado a recuar mais e mais pelo
ataque do niilismo legal. A objetividade e a justiça foram sacrificadas no
altar da conveniência política. As interpretações arbitrárias e as avaliações
tendenciosas substituíram as normas legais. Ao mesmo tempo, o controle total da
mídia global de massa tornou possível, quando desejado, retratar o branco como
preto e o preto como branco.
Em uma situação onde você teve a dominação de um país
e de seus aliados, ou de seus satélites, a busca de soluções globais, muitas
vezes, se transformou em uma tentativa de impor as suas próprias receitas
universais. As ambições desse grupo cresceram tanto que começaram a apresentar
as políticas que formaram nos seus corredores de poder como a visão de toda a
comunidade internacional. Mas este não é o caso.
A própria noção de "soberania nacional"
tornou-se um valor relativo para a maioria dos países. Em essência, o que
estava sendo proposto foi a fórmula: quanto
maior a lealdade para com o centro de poder único do mundo, maior a
legitimidade deste ou daquele regime governante.
Vamos ter uma discussão livre depois e eu estarei
feliz em responder suas perguntas e também gostaria de usar o meu direito de
fazer-lhe perguntas. Deixe alguém tentar refutar os argumentos que eu
simplesmente vou fazer durante a próxima discussão.
As
medidas tomadas contra aqueles que se recusam a se submeter são bem conhecidas
e têm sido experimentadas e testadas muitas vezes. Elas incluem o uso da força,
a pressão econômica e de propaganda, a ingerência nos assuntos internos, e
apela para uma espécie de legitimidade "supra-legal" quando eles
precisam justificar a intervenção ilegal neste ou naquele conflito ou derrubar
regimes inconvenientes. Recentemente, temos cada vez mais evidências de que a
chantagem, pura e simples, tem sido usada com relação a uma série de líderes.
Não é à toa que o "big brother" está gastando bilhões de dólares para
manter o mundo todo, incluindo seus próprios aliados mais próximos, sob
vigilância.
Vamos nos perguntar quão confortáveis estamos com
isso, o quão seguros estamos nós, o quão felizes estamos vivendo neste mundo e quão
justo e racional que ele se tornou? Será que não temos motivos reais para nos
preocuparmos, discutirmos e fazermos perguntas embaraçosas? Será que a posição excepcional dos Estados
Unidos e a forma como exercem a sua liderança realmente é uma bênção para todos
nós, e a sua intromissão em eventos em todo o mundo está trazendo a paz, a
prosperidade, o progresso, o crescimento e a democracia, e devemos talvez
apenas relaxar e desfrutar de tudo isso?
Deixe-me dizer que este não é o caso, absolutamente
não é o caso.
Uma
ditadura unilateral e a imposição de seus próprios modelos produz o resultado
oposto. Em vez de resolver os conflitos, ela leva à sua progressão, em vez de Estados
soberanos e estáveis, vemos a crescente disseminação do caos e, em vez da
democracia há o apoio de um público muito duvidoso, que vai desde neo-fascistas
declarados até radicais islâmicos.
Por
que eles apoiam essas pessoas? Eles fazem isso porque eles decidem usá-los como
instrumentos ao longo do caminho para alcançar aos seus objetivos,
mas, em seguida, queimarão seus dedos e lhes darão coices. Eu nunca paro de me
surpreender pela maneira que os nossos parceiros apenas continuam pisando no
mesmo ancinho, como dizemos aqui na Rússia, ou seja, cometem o mesmo erro vez
após vez.
No
passado, eles apoiavam os movimentos extremistas islâmicos para lutarem contra
a União Soviética. Esses grupos têm a sua experiência de batalha no Afeganistão
e mais tarde deram origem ao Talibã e à al-Qaeda. O Ocidente, se não os apoiou,
pelo menos, fechou seus olhos, e, eu diria, deu informações, apoio político e
financeiro à invasão da Rússia por “terroristas” internacionais (nós não
esquecemos isso) e pelos países da região da Ásia Central. Somente após os
ataques terroristas terríveis que foram cometidos no próprio solo americano, os
Estados Unidos acordaram para a ameaça comum do terrorismo. Deixe-me
lembrar-lhe que fomos o primeiro país a apoiar o povo americano na época, o
primeiro a reagir como amigos e parceiros sobre a terrível tragédia de 11 de
setembro.
Durante as minhas conversas com líderes americanos e
europeus, eu sempre falei sobre a necessidade de combater o terrorismo em
conjunto, como um desafio em uma escala mundial. Não podemos nos resignar e
aceitar essa ameaça, não se pode cortá-la em pedaços separados usando padrões
dúbios. Nossos parceiros expressaram um acordo mútuo, mas um pouco de tempo se
passou e nós acabamos de volta aonde começamos. Primeiro foi a operação militar
no Iraque, em seguida, na Líbia, que foi forçada ao ponto de deterioração. Por
que a Líbia foi empurrada para essa situação? Hoje é um país em perigo de desintegração
e tornou-se um campo de treinamento de terroristas.
Apenas
a atual determinação e sabedoria da liderança egípcia salvou este importante
país árabe do caos e de terem extremistas agindo de forma desenfreada. Na
Síria, tal como no passado, os Estados Unidos e seus aliados começaram a
financiar diretamente e armar os rebeldes permitindo-lhes preencherem as suas
fileiras com mercenários de vários países. Deixe-me perguntar de onde é que
estes rebeldes receberam o seu dinheiro, armas e especialistas militares? De
onde é que tudo isto vem? Como o notório ISIL [Estado Islâmico] conseguiu
tornar-se um grupo tão poderoso, essencialmente, uma força armada real? Assim
como a fontes de financiamento, hoje, o dinheiro é proveniente não apenas de
drogas, cuja produção não aumentou apenas em alguns pontos percentuais, mas
muitas vezes, desde que as forças da coalizão internacional estiveram presentes
no Afeganistão. Vocês estão cientes disto. Os terroristas estão recebendo o
dinheiro da venda de petróleo também. O petróleo é produzido em território
controlado pelos terroristas, que o vendem a preços muito abaixo do preço de
mercado, o produzem e o transportam. Mas alguém compra esse petróleo, revende-o
e lucra com isso, não pensam sobre o fato de que eles estão financiando assim os
terroristas que poderiam vir, mais cedo ou mais tarde, para seu próprio solo e
semear a destruição em seus próprios países.
De onde eles conseguem novos recrutas? No Iraque,
depois que Saddam Hussein foi derrubado, as instituições do Estado, incluindo o
exército, ficaram em ruínas. Nós dissemos na época, tenha muito, muito cuidado.
Vocês estão dirigindo as pessoas para as ruas e o que elas vão fazer lá? Não se
esqueçam (legitimamente ou não) de que elas estavam na liderança de uma grande
potência regional, e agora no que os transformaram?
Qual foi o resultado? Dezenas de milhares de soldados,
policiais e ex-militantes do Partido Baath foram levados para as ruas e hoje se
juntaram às fileiras dos rebeldes. Talvez isso explique por que o grupo Estado
Islâmico acabou sendo tão eficaz? Em termos militares, ele está agindo de forma
muito eficaz e tem algumas pessoas muito profissionais. A Rússia advertiu, repetidamente, sobre os perigos das ações militares
unilaterais, intervindo nos assuntos internos de Estados soberanos e flertando
com extremistas e radicais. Nós insistimos em ter os grupos que lutam contra o
governo sírio central, acima de tudo, o Estado Islâmico, incluído nas listas de
organizações terroristas. Mas será que vimos algum resultado? Recorremos em vão.
Nós,
às vezes, temos a impressão de que os nossos colegas e amigos estão lutando
constantemente as conseqüências de suas próprias políticas, jogam todo o seu
esforço em enfrentar os riscos que eles próprios criaram, e pagam um preço cada
vez maior.
Colegas, este período de dominação unipolar demonstrou
de forma convincente que ter apenas um centro de poder não faz os processos
globais mais gerenciáveis. Pelo contrário, este tipo de construção instável
demonstrou sua incapacidade para combater as ameaças reais, como os conflitos
regionais, o terrorismo, o tráfico de drogas, o fanatismo religioso, o
chauvinismo e o neo-nazismo. Ao mesmo tempo, ele abriu um largo caminho para o
orgulho nacional inflado, a manipulação da opinião pública e deixando o forte
intimidar e reprimir ao fraco.
Essencialmente, o mundo unipolar é simplesmente um
meio de justificar a ditadura sobre as pessoas e os países. O mundo unipolar
acabou por se tornar muito desconfortável, pesado e incontrolável, um fardo,
mesmo para o líder auto-proclamado. Comentários nesta mesma linha foram feitos
aqui antes e eu concordo plenamente com isso. É por isso que vemos tentativas
nesta nova etapa histórica para recriar a aparência de um mundo quase bipolar,
como um modelo conveniente para perpetuar a liderança americana. Não importa
quem tome o lugar do centro do mal na propaganda americana, o antigo lugar da
URSS, como o principal adversário. Poderia ser o Irã, como um país que pretende
adquirir tecnologia nuclear, a China como a maior economia do mundo ou a
Rússia, como uma superpotência nuclear.
Hoje, estamos vendo novos esforços para fragmentar o
mundo, desenhar novas linhas divisórias, colocando juntas coligações
construídas não para coisa alguma, mas contra alguém, qualquer um, criam a
imagem de um inimigo, como foi o caso durante os anos da Guerra Fria, e obtêm o
direito a essa liderança, ou ditadura, se desejar. A situação foi apresentada
desta forma durante a Guerra Fria. Todos nós entendemos isso e sabemos disso.
Os Estados Unidos sempre disseram aos seus aliados: "Nós temos um inimigo comum, um inimigo terrível, o centro do mal, e
estamos aqui para defender vocês, nossos aliados, deste inimigo, e por isso
temos o direito de mandarmos em toda a parte, forçá-los a sacrificarem os seus
interesses políticos e econômicos e pagarem a sua parte dos custos para esta
defesa coletiva, mas vamos ser os únicos responsáveis por tudo isso, é claro".
Em suma, vemos hoje tentativas em um mundo novo e que está mudando para
reproduzir os modelos familiares de gestão global, e tudo isso, de modo a
garantir a posição excepcional dos EUA e colher os dividendos políticos e
econômicos.
Mas estas tentativas estão cada vez mais divorciadas
da realidade e estão em contradição com a diversidade do mundo. Passos deste
tipo inevitavelmente criam confrontos e contramedidas e têm o efeito oposto aos
objetivos esperados. Nós vemos o que acontece quando a política,
precipitadamente, começa a se intrometer na economia e na lógica das decisões
racionais e dá lugar à lógica do confronto que só irá prejudicar as suas próprias
posições e interesses econômicos, incluindo os interesses das empresas
nacionais.
Os projetos econômicos conjuntos e os investimentos
mútuos objetivam-se a aproximar os países e a ajudar a suavizar os problemas
atuais nas relações entre os Estados. Mas hoje, a comunidade empresarial global
enfrenta uma pressão sem precedentes dos governos ocidentais. Que negócio,
oportunidade econômica e pragmatismo, de que podemos falar quando ouvimos
palavras de ordem como "a pátria está em perigo", "o mundo livre
está sob ameaça" e "a democracia está em perigo"? Dessa forma
todo mundo precisa se mobilizar. Isto é o que uma política verdadeira de
mobilização se parece.
Sanções já estão a minar as bases do comércio mundial,
as regras da OMC e o princípio da inviolabilidade da propriedade privada. Eles
estão lidando com um duro golpe para o modelo neoliberal de globalização com
base em mercados, à liberdade e à concorrência, o que, deixe-me notar, é um
modelo que tem beneficiado principalmente e precisamente os países ocidentais.
E agora eles correm o risco de perderem a confiança como os líderes da
globalização. Temos que nos perguntar, por que isso era necessário? Afinal de
contas, a prosperidade dos Estados Unidos repousa em grande parte na confiança
dos investidores e detentores de dólares e dos títulos norte-americanos. Essa
confiança está claramente sendo minada e os sinais de decepção com os frutos da
globalização são visíveis agora em muitos países. O bem conhecido precedente de
Chipre e as sanções politicamente motivadas apenas fortaleceram a tendência de
tentar reforçar a soberania econômica e financeira dos países ou dos seus
grupos regionais no desejo de encontrarem formas de se protegerem contra os
riscos de pressão externa. Nós já vemos
que cada vez mais países estão procurando maneiras de tornarem-se menos
dependentes do dólar e estão criando sistemas financeiros alternativos de
pagamentos e de moedas de reserva. Eu acho que os nossos amigos americanos
estão, pura e simplesmente, cortando o galho em que eles estão sentados. Você
não podem misturar a política e a economia, mas isso é o que está acontecendo
agora. Eu sempre pensei, e ainda penso hoje, que as sanções politicamente
motivadas foram um erro que vão prejudicar a todos, mas tenho a certeza de que
vamos voltar a este assunto mais tarde.
Sabemos como estas decisões foram tomadas e quem
estava aplicando a pressão. Mas deixe-me salientar que a Rússia não vai ficar
sobressaltada, ofendida ou irá implorar à porta de ninguém. A Rússia é um país autossuficiente.
Vamos trabalhar dentro do ambiente econômico externo que tem tomado forma, desenvolver
a produção e a tecnologia nacional e agir com mais determinação para realizar a
transformação. A pressão de fora, como tem sido o caso em ocasiões anteriores,
só vai consolidar a nossa sociedade, nos manter alerta e fazer-nos concentrar
em nossas principais metas de desenvolvimento.
É claro que as sanções são um obstáculo. Eles estão
tentando nos machucar através dessas sanções, bloquear o nosso desenvolvimento
e nos empurrar para o isolamento político, econômico e cultural, forçar-nos ao
atraso em outras palavras. Mas deixe-me dizer mais uma vez que o mundo é um
lugar muito diferente hoje. Nós não temos nenhuma intenção de nos fecharmos
para qualquer um e escolher algum tipo de caminho de desenvolvimento fechado,
tentando viver em uma autarquia. Estamos sempre abertos ao diálogo, inclusive
em normalizar nossas relações econômicas e políticas. Contamos aqui com a
abordagem pragmática e a posição das comunidades de negócios nos países
líderes.
Alguns estão dizendo hoje que a Rússia está
supostamente virando as costas à Europa — tais palavras foram provavelmente
faladas aqui também durante as discussões — e está à procura de novos parceiros
de negócios, sobretudo na Ásia. Deixe-me dizer que este não é absolutamente o
caso. Nossa política ativa na região da Ásia-Pacífico não começou ontem e não
em resposta a sanções, mas é uma política que estamos seguindo por muitos anos.
Como muitos outros países, incluindo os países ocidentais, vimos que a Ásia
está desempenhando um papel cada vez maior no mundo, na economia e na política
e simplesmente não tem como nos darmos ao luxo de ignorar estes
desenvolvimentos.
Deixe-me dizer, mais uma vez, que todo mundo está
fazendo isso, e vamos fazê-lo também, além do mais, uma grande parte do nosso
país está geograficamente na Ásia. Por que não devemos fazer uso das nossas
vantagens competitivas nessa área? Seria extremamente míope não fazê-lo.
O desenvolvimento dos laços econômicos com esses
países e a execução de projetos de integração conjuntos também criam grandes
incentivos para o nosso desenvolvimento interno. As tendências demográficas,
econômicas e culturais de hoje, sugerem todas, que a dependência de uma única
superpotência vai objetivamente diminuir. Isso é algo que os especialistas
europeus e americanos têm falado e escrito também. Talvez os desenvolvimentos
na política global irão espelhar os desenvolvimentos que estamos vendo na
economia global, ou seja, a concorrência intensiva por nichos específicos e as
mudanças frequentes de líderes em áreas específicas. Isso é perfeitamente
possível.
Não há dúvida de que os fatores humanitários, tais
como educação, ciência, saúde e cultura estão desempenhando um papel mais
importante na competição global. Isso também tem um grande impacto sobre as
relações internacionais, inclusive porque esse recurso de "poder
suave" dependerá, em grande medida, de conquistas reais no desenvolvimento
do capital humano, em vez de truques sofisticados de propaganda. Ao mesmo
tempo, a formação de um chamado, mundo policêntrico (eu também gostaria de
chamar a atenção para isso, colegas), por si só não melhora a estabilidade; na
verdade, é mais provável que seja o oposto. A meta de atingir o equilíbrio global
está se transformando em um quebra-cabeça bastante difícil, uma equação com
muitas incógnitas.
Então, o que nos aguarda, se nós escolhemos não viver
pelas regras — mesmo que possam ser rigorosas e inconvenientes —, mas sim viver
sem quaisquer regras? E esse cenário é perfeitamente possível; não podemos
descartá-lo, dadas as tensões na situação global. Muitas previsões já podem ser
feitas, tendo em conta as tendências atuais e, infelizmente, elas não são
otimistas. Se não criarmos um sistema claro de compromissos e acordos mútuos,
se não construirmos os mecanismos de gestão e resolução de situações de crise,
os sintomas da anarquia mundial inevitavelmente crescerão. Hoje, já vemos um
forte aumento da probabilidade de ocorrência de um conjunto de conflitos
violentos com participação, seja direta ou indireta, de grandes potências
mundiais. E os fatores de risco incluem não apenas os conflitos multinacionais
tradicionais, mas também a instabilidade interna em Estados separados,
especialmente quando falamos de nações localizadas nas intersecções dos
principais interesses geopolíticos dos Estados, ou nos limites culturais,
históricos e econômicos de continentes civilizacionais.
A Ucrânia, que eu tenho certeza que foi longamente
discutida e que vamos discutir um pouco mais, é um dos exemplos de tais tipos
de conflitos que afetam o equilíbrio do poder internacional e eu acho que
certamente não será o último. A partir daqui emana a próxima ameaça real de
destruir o atual sistema de acordos de controle de armas. E esse processo
perigoso foi lançado pelos Estados Unidos da América quando se retirou
unilateralmente do Tratado de Mísseis Anti-Balísticos, em 2002, e, em seguida,
configurar e continuar atualmente em prosseguir ativamente na criação de seu
sistema de defesa antimísseis global.
Colegas, amigos, quero salientar que nós não começamos
isso. Mais uma vez, estamos escorregando para os momentos em que, em vez de ser
o equilíbrio de interesses e garantias mútuas, é o medo e o saldo da destruição
mútua que impedem as nações de se envolverem em conflitos diretos. Na ausência
de instrumentos jurídicos e políticos, os armamentos estão novamente se
tornando o ponto focal da agenda global; eles são usados onde quer que seja e
contudo, sem quaisquer sanções do Conselho de Segurança da ONU. E se o Conselho
de Segurança se recusa a produzir tais decisões, então ele é imediatamente
declarado como sendo um instrumento ultrapassado e ineficaz.
Muitas nações não veem quaisquer outras formas de
garantir a sua soberania, que não seja obtendo as suas próprias bombas. Isso é
extremamente perigoso. Nós insistimos em negociações contínuas; não somos
apenas a favor de negociações, mas insistimos em continuar as negociações para
reduzir os arsenais nucleares. Quanto menos armas nucleares tivermos no mundo,
melhor. E estamos prontos para as mais sérias e concretas discussões sobre o
desarmamento nuclear — mas apenas discussões sérias, sem quaisquer padrões
dúbios.
O que quero dizer? Hoje, muitos tipos de armamentos de
alta precisão já estão perto de serem armas de destruição em massa em termos de
suas capacidades e no caso da renúncia total das armas nucleares ou da redução
radical do potencial nuclear, as nações que são líderes na criação e produção
de sistemas de alta precisão terão uma vantagem militar clara. A paridade
estratégica será interrompida e isso provavelmente trará desestabilização. O
uso do, assim chamado, primeiro ataque global preventivo pode tornar-se
tentador. Em suma, os riscos não diminuem, mas se intensificam.
A próxima ameaça óbvia é a nova escalada de conflitos
étnicos, religiosos e sociais. Tais conflitos são perigosos, não só em si, mas
também porque eles criam zonas de anarquia, ilegalidade e caos ao seu redor,
locais que são confortáveis para os terroristas e os criminosos, onde a
pirataria, o tráfico de pessoas e o tráfico de drogas florescem.
Aliás,
no momento, os nossos colegas tentam gerir de alguma forma esses processos,
utilizam conflitos regionais e desenham ‘revoluções coloridas’ para atender aos
seus interesses, mas o gênio escapou da garrafa. Parece que os próprios pais da
teoria do caos controlado não sabem o que fazer com ele; há desordem em suas
fileiras.
Seguimos de perto as discussões de ambos, tanto pela
elite dominante quanto pela comunidade de especialistas. Basta olhar para as
manchetes da imprensa ocidental ao longo do último ano. As mesmas pessoas são
chamadas de combatentes pela democracia e, em seguida, de islâmicos; primeiro
eles escrevem sobre revoluções e, em seguida, os chamam de motins e revoltas. O
resultado é óbvio: a expansão do caos global.
Colegas, dada a situação global, é hora de começar a
chegar a um acordo sobre as coisas fundamentais. Isso é extremamente importante
e necessário; isso é muito melhor do que voltar para os nossos próprios cantos.
Quanto mais nós enfrentamos problemas comuns, mais nos encontramos no mesmo
barco, por assim dizer. E o caminho lógico para sair disso está na cooperação
entre as nações, sociedades, na busca de respostas coletivas aos desafios cada
vez maiores, e na gestão de risco comum. Reconheço que alguns dos nossos
parceiros, por algum motivo, lembram-se disso apenas quando convém aos seus
interesses.
A experiência prática mostra que as respostas
conjuntas para os desafios nem sempre são uma panaceia; e precisamos entender
isso. Além disso, na maioria dos casos, eles são de difícil acesso; não é fácil
superar as diferenças de interesses nacionais, a subjetividade de diferentes
abordagens, especialmente quando se trata de nações com diferentes tradições
culturais e históricas. No entanto, temos exemplos em que, tendo objetivos
comuns e agindo com base nos mesmos critérios, juntos, alcançaram o sucesso
real.
Deixe-me lembrá-lo sobre como resolver o problema das
armas químicas na Síria, assim como o diálogo substantivo sobre o programa
nuclear iraniano, bem como o nosso trabalho sobre as questões da Coreia do
Norte, que também tem alguns resultados positivos. Por que não podemos usar
essa experiência no futuro para resolver os desafios locais e globais?
O que poderia ser a base jurídica, política e
econômica para uma nova ordem mundial que permita a estabilidade e segurança,
sem deixar de incentivar a competição saudável, não permitindo a formação de
novos monopólios que dificultem o desenvolvimento? É improvável que alguém
poderia fornecer agora soluções prontas, absolutamente completas. Vamos
precisar de um extenso trabalho com a participação de uma ampla gama de
governos, de empresas globais, da sociedade civil e das tribunas de especialistas,
tais como as nossas.
No entanto, é óbvio que o sucesso e os resultados
reais só são possíveis se os participantes principais nos assuntos
internacionais puderem concordar com a harmonização de interesses básicos,
sobre uma razoável autocontenção e definir o exemplo de liderança positiva e
responsável. Devemos identificar claramente onde as ações unilaterais acabam e
nós precisamos aplicar mecanismos multilaterais e, como parte da melhoria da
eficácia do direito internacional, temos de resolver o dilema entre as ações
pela comunidade internacional para garantir a segurança e os direitos humanos e
o princípio da soberania nacional e a não-ingerência nos assuntos internos de
qualquer Estado.
Essas mesmas colisões cada vez mais levam a uma
interferência externa arbitrária nos processos internos complexos e, uma e
outra vez, eles provocam conflitos perigosos entre os protagonistas globais principais.
A questão da manutenção da soberania torna-se quase primordial na manutenção e
no reforço da estabilidade global.
Claramente, a discussão dos critérios para o uso de
força externa é extremamente difícil; é praticamente impossível separá-lo dos
interesses das nações em particular. No entanto, é muito mais perigoso quando
não há acordos que são claros para todos, quando não há condições claras
definidas para uma interferência necessária e legal.
Vou acrescentar que as relações internacionais devem
ser baseadas no direito internacional, que devem descansar em princípios
morais, como a justiça, a igualdade e a verdade. Talvez o mais importante é o
respeito pelos próprios parceiros e os seus interesses. Essa é uma fórmula
óbvia, mas simplesmente segui-la poderia mudar radicalmente a situação global.
Estou certo de que, se houver uma vontade, podemos
restaurar a eficácia do sistema de instituições regionais e internacionais. Nós
nem sequer precisamos construir algo novo, a partir do zero; isto não é uma
"mata virgem", especialmente visto que as instituições criadas após a
Segunda Guerra Mundial são bastante universais e podem receber uma modernização
substancial, adequada para gerir a situação atual.
Isto é verdade na melhoria do trabalho da ONU, cujo
papel central é insubstituível, assim como a OSCE que, ao longo de 40 anos, tem
provado ser um mecanismo necessário para garantir a segurança e a cooperação na
região Euro-Atlântica. Devo dizer que, mesmo agora, na tentativa de resolver a
crise no sudeste da Ucrânia, a OSCE tem um papel muito positivo.
À luz das mudanças fundamentais no ambiente
internacional, o aumento da incontrolabilidade e várias ameaças, precisamos de
um novo consenso global de forças responsáveis. Não se trata de alguns negócios
locais ou de uma divisão de esferas de influência no espírito da diplomacia
clássica, ou da dominação global completa de alguém. Eu acho que precisamos de
uma nova versão de interdependência. Não devemos ter medo disso. Pelo
contrário, esse é um bom instrumento para harmonizar as posições.
Isto é particularmente relevante dado o fortalecimento
e crescimento de determinadas regiões do planeta, processo que objetiva
requerer a institucionalização desses novos polos, criando poderosas
organizações regionais e na elaboração de regras para a sua interação. A
cooperação entre esses centros poderia seriamente adicionar estabilidade na
segurança global, na política e na economia. Mas, a fim de estabelecer esse
diálogo, é preciso proceder a partir do pressuposto de que todos os centros
regionais e os projetos de integração que se formam em torno deles precisam ter
igualdade de direitos para o desenvolvimento, de modo que eles possam
complementar-se e ninguém possa forçá-los ao conflito ou a uma oposição
artificialmente. Tais ações destrutivas iriam quebrar os laços entre os Estados
e os próprios Estados seriam submetidos a extrema dificuldade, ou talvez até
mesmo a destruição total.
Gostaria de lembrá-lo de eventos do ano passado. Temos
dito aos nossos parceiros americanos e europeus que as precipitadas decisões de
bastidores, por exemplo, sobre a associação da Ucrânia com a União Europeia, estão
repletas de riscos graves para a economia. Nós nem sequer dissemos alguma coisa
sobre política; falamos apenas sobre a economia, dizendo que tais passos,
feitos sem quaisquer acordos prévios, tocariam nos interesses de muitos outros
países, incluindo a Rússia como o principal parceiro comercial da Ucrânia, e
que uma ampla discussão dessas questões era necessário. Aliás, a este respeito,
eu vou lembrá-los que, por exemplo, as negociações sobre a adesão da Rússia à
OMC durou 19 anos. Este foi um trabalho muito difícil e um certo consenso foi
alcançado.
Por que eu estou trazendo isso? Porque na
implementação do projeto de associação da Ucrânia, os nossos parceiros viriam
até nós com os seus produtos e serviços através da “porta de serviço”, por
assim dizer, e nós não concordamos com isso, ninguém nos perguntou sobre isso.
Tivemos discussões sobre todos os temas relacionados com a associação da
Ucrânia com a União Europeia, discussões persistentes, mas quero destacar que
isso foi feito de uma forma totalmente civilizada, indicando os possíveis
problemas, mostrando o raciocínio óbvio e os argumentos. Ninguém queria
ouvir-nos e ninguém queria falar. Eles simplesmente nos disseram: isso não é do
seu interesse, ponto final, fim da discussão. Em vez de um abrangente — e eu
insisto — diálogo civilizado, tudo se resumia a uma derrubada do governo; o que
mergulhou o país no caos, em um colapso econômico e social, em uma guerra civil
com enormes baixas.
Por quê? Quando pergunto a meus colegas porque, eles
já não têm uma resposta; ninguém diz nada. É isso aí. Todo mundo está no
prejuízo, dizendo que apenas aconteceu desse jeito. Essas ações não deveriam
ter sido incentivadas — não teriam funcionado. Afinal de contas (e eu já falei
sobre isso), o ex-presidente ucraniano Yanukovych assinou tudo, concordou com
tudo. Por que fazer isso? O que eles queriam dizer? O que é isso, uma forma
civilizada de resolver os problemas? Aparentemente, aqueles que constantemente
despejam juntos as novas ‘revoluções coloridas’ consideram-se ‘artistas brilhantes’
e simplesmente não podem parar.
Estou certo de que o trabalho das associações
integradas, a cooperação das estruturas regionais, devem ser construídas em uma
base clara e transparente; o processo de formação da União Econômica da Eurásia
é um bom exemplo desse tipo de transparência. Os Estados que fazem parte desse
projeto informaram os seus parceiros de seus planos com antecedência,
especificando os parâmetros de nossa associação, os princípios de seu trabalho,
que correspondem plenamente com as regras da Organização Mundial do Comércio.
Vou acrescentar que nós poderíamos também ter saudado o
início de um diálogo concreto entre a Eurásia e a União Europeia. Aliás, eles
quase que completamente nos negaram a isto também, e também não está clara a razão
— o que é tão assustador sobre isso?
E, claro, com esse trabalho em conjunto, poderíamos
pensar que nós precisamos nos comprometer em dialogar (eu falei sobre isso
muitas vezes e tenho ouvido o acordo de muitos dos nossos parceiros ocidentais,
pelo menos na Europa) sobre a necessidade de criar um espaço comum para a
cooperação econômica e humanitária que se estenda por todo o caminho, desde o
Atlântico até o Oceano Pacífico.
Colegas, a Rússia fez a sua escolha. Nossas
prioridades são melhorar ainda mais as nossas instituições democráticas e de
economia aberta, acelerar o desenvolvimento interno, tendo em conta todas as
tendências modernas positivas no mundo e a
consolidação da sociedade baseada em valores tradicionais e no patriotismo.
Temos uma agenda positiva, pacífica e orientada para a
integração; estamos trabalhando ativamente com os nossos colegas da União
Econômica Euroasiática, da Organização de Cooperação de Xangai, BRICS e outros
parceiros. Essa agenda tem como objetivo desenvolver os laços entre os
governos, não os dissociando. Nós não estamos planejando remendar quaisquer
blocos ou se envolver em uma troca de golpes.
Os
argumentos e as declarações de que a Rússia está tentando estabelecer algum
tipo de império, de violação da soberania de seus vizinhos, são infundadas.
A Rússia não precisa de nenhum tipo de lugar especial, exclusivo do mundo — eu
quero enfatizar isso. Embora respeitando os interesses dos outros, simplesmente
queremos que os nossos próprios interesses sejam levados em conta e que a nossa
posição seja respeitada. Nós estamos bem conscientes de que o mundo entrou em
uma era de mudanças e transformações globais, quando todos nós precisamos de um
determinado grau de cautela e a capacidade de evitar medidas impensadas. Nos
anos após a Guerra Fria, os participantes na política mundial perderam um pouco
dessas qualidades. Agora, é preciso lembrar-se delas. Caso contrário, as
esperanças de um desenvolvimento pacífico e estável será uma ilusão perigosa,
enquanto que o tumulto de hoje vai simplesmente servir como um prelúdio para o
colapso da ordem mundial.
Sim, claro, eu já disse que a construção de uma ordem
mundial mais estável é uma tarefa difícil. Estamos falando de um trabalho longo
e difícil. Fomos capazes de desenvolver regras para interação após a Segunda
Guerra Mundial, e fomos capazes de chegar a um acordo em Helsinque, nos anos
1970. Nosso dever comum é resolver esse desafio fundamental neste novo estágio
de desenvolvimento.
Muito obrigado pela sua atenção.
VLADIMIR
PUTIN (comentando sobre as declarações do ex-primeiro-ministro da França,
Dominique de Villepin e do ex-chanceler Federal da Áustria, Wolfgang
Schuessel):
Eu gostaria de começar por dizer que, no geral, eu
concordo com o que tanto Wolfgang quanto Dominique disseram. Apoio plenamente
tudo o que eles disseram. No entanto, existem algumas coisas que eu gostaria de
esclarecer.
Acredito que Dominique referiu-se à crise ucraniana
como a razão para a deterioração nas relações internacionais. Naturalmente,
esta crise é uma causa, mas esta não é a causa principal. A crise na Ucrânia é,
em si, um resultado de um desequilíbrio nas relações internacionais. Eu já
disse no meu discurso porque isso está acontecendo, e os meus colegas também já
o mencionaram. Eu posso acrescentar a isto, se necessário. No entanto,
principalmente este é o resultado do desequilíbrio nas relações internacionais.
Quanto às questões mencionadas por Wolfgang, vamos
voltar a elas: vamos falar sobre as eleições, se necessário, e sobre a oferta
de recursos energéticos para a Ucrânia e Europa. Entretanto, eu gostaria de dar
resposta à frase: "Wolfgang é um otimista, enquanto a vida é mais difícil
para os pessimistas". Eu já mencionei a velha piada que temos sobre um
pessimista e um otimista, mas não posso deixar de falar de novo. Temos esta
piada muito velha sobre um pessimista e um otimista: um pessimista bebe seu
conhaque e diz: “Tem cheiro de percevejos”, enquanto um otimista pega um
percevejo, o esmaga, então cheira e diz: “Tem um leve cheiro de conhaque”.
Eu preferiria ser o pessimista que bebe conhaque do
que o otimista que cheira percevejos. (Risos) Embora pareça que os otimistas
têm um melhor momento, o nosso objetivo comum é viver uma vida decente (sem
abusar do álcool). Para isso, é preciso evitar as crises, lidar em conjunto com
todos os desafios e ameaças e construir tais relações na arena global que nos
ajudariam a alcançar estes objetivos.
Mais tarde eu estarei pronto para responder a algumas
das outras coisas que mencionei aqui. Obrigado.
JORNALISTA
BRITÂNICO SEUMAS MILNE (traduzido do russo):
Eu gostaria de fazer uma pergunta duas-em-um.
Em primeiro lugar, Sr. Presidente, o senhor acredita
que as ações da Rússia na Ucrânia e na Criméia ao longo dos últimos meses foram
uma reação às regras que estão sendo quebradas e são um exemplo de
gerenciamento de um Estado sem regras? E a outra questão é: será que a Rússia
vê essas violações globais de regras como um sinal para mudar a sua posição? Já
foi dito aqui que, ultimamente, a Rússia não pode conduzir a situação global
existente; no entanto, ela está demonstrando as qualidades de um líder. Como
você responderia a isto?
VLADIMIR
PUTIN:
Eu gostaria de pedir-lhe para reformular a segunda parte da sua pergunta, por
favor. Qual, exatamente, é a sua segunda pergunta?
SEUMAS
MILNE (traduzido do russo): Foi dito aqui que a Rússia não pode lutar por
posições de liderança no mundo, considerando os resultados do colapso da União
Soviética. No entanto, ela pode influenciar quem será o líder. É possível que a
Rússia poderia alterar a sua posição, mudar seu foco, como você mencionou, em
relação ao Oriente Médio e às questões relacionadas com o programa nuclear do
Irã?
VLADIMIR
PUTIN:
A Rússia nunca alterou a sua posição. Somos um país com um foco tradicional na
cooperação e na busca de soluções conjuntas. Isto é a primeira. A segunda. Não
temos quaisquer pretensões de liderança mundial. A ideia de que a Rússia está
buscando algum tipo de exclusividade é falsa; eu disse isso no meu discurso.
Nós não estamos exigindo um lugar ao sol; estamos simplesmente partindo do
pressuposto de que todos os participantes nas relações internacionais devem
respeitar os interesses de cada um. Estamos prontos para respeitar os
interesses dos nossos parceiros, mas esperamos o mesmo respeito para com os
nossos interesses.
Nós não mudamos nossa atitude para com a situação no
Oriente Médio, com o programa nuclear iraniano, com o conflito norte-coreano,
com a luta contra o terrorismo e a criminalidade em geral, bem como com o
tráfico de drogas. Nós nunca mudamos nenhuma das nossas prioridades, mesmo sob
a pressão de ações hostis por parte dos nossos parceiros ocidentais, que são
liderados, muito obviamente neste caso, pelos Estados Unidos. Nós nem sequer
mudamos os termos das sanções.
No entanto, também aqui tudo tem os seus limites. Eu
procedo a partir da ideia de que pode ser possível que as circunstâncias
externas possam nos obrigar a alterar algumas das nossas posições, mas até
agora não houve quaisquer situações extremas desse tipo e não temos nenhuma
intenção de mudar nada. Este é o primeiro ponto.
O segundo ponto tem a ver com as nossas ações na
Criméia. Tenho falado sobre isso em diversas ocasiões, mas se for necessário,
posso repeti-la. Esta é a parte 2 do artigo 1º da Carta das Nações Unidas — o
direito das nações à autodeterminação. Já foi tudo escrito, e não simplesmente
como o direito à autodeterminação, mas como o objetivo das Nações Unidas. Leia
o artigo com atenção.
Eu não entendo por que as pessoas que vivem na Criméia
não têm esse direito, assim como as pessoas que vivem, digamos, no Kosovo. Isto
também foi mencionado aqui. Por que é que em um caso o branco é branco,
enquanto em outro o mesmo é chamado de preto? Nós nunca vamos concordar com
esse absurdo. Essa é uma coisa. A outra coisa muito importante é algo que
ninguém menciona, então eu gostaria de chamar a atenção para ela. O que
aconteceu na Criméia? Em primeiro lugar, houve essa derrubada anti-Estado em
Kiev. O que quer que qualquer um diga, eu acho isso óbvio — houve uma tomada armada
do poder.
Em muitas partes do mundo, as pessoas saudaram isto,
não percebendo aonde isso poderia levar, enquanto que em algumas regiões as
pessoas estavam com medo de que o poder foi tomado pelos extremistas, por
nacionalistas e direitistas, incluindo neonazistas. As pessoas temiam por seu
futuro e pelas suas famílias e reagiram conforme seu medo. Na Criméia, as
pessoas realizaram um referendo.
Gostaria de chamar a atenção para isso. Não foi por
acaso que, na Rússia, afirmamos que houve um referendo. A decisão de realizar o
referendo foi feita pela autoridade legítima da Criméia — seu Parlamento,
eleito há alguns anos, nos termos da legislação ucraniana antes de todos estes
graves acontecimentos. Este órgão legítimo da autoridade declarou um referendo
e, em seguida, com base em seus resultados, eles adotaram uma declaração de
independência, assim como Kosovo fez, e virou-se para a Federação Russa com um
pedido para aceitar a Criméia no Estado russo.
Você
sabe, o que quer que qualquer um possa dizer e, não importa quão duro eles
tentem cavar alguma coisa, isso seria muito difícil, considerando a linguagem
da decisão judicial das Nações Unidas, que afirma claramente (como aplicado ao
precedente do Kosovo) que a decisão sobre a autodeterminação não requer a
aprovação da autoridade suprema de um país.
Nesse contexto, eu sempre lembro do que os sábios do
passado disseram. Você pode se lembrar do maravilhoso ditado: O que quer que
seja permitido a Júpiter, ao Touro não o é.
Não podemos concordar com tal abordagem. Ao touro pode
não ser permitido alguma coisa, mas o urso não vai sequer se preocupar em pedir
permissão. Aqui, o consideramos o dono da floresta, e eu tenho certeza que ele
não tem a intenção de mudar-se para qualquer outra zona climática — não vai ser
confortável lá. No entanto, ele não vai deixar qualquer um tomar a sua floresta
também. Eu acredito que isto é claro.
Quais são os problemas da ordem mundial atual? Vamos
ser francos sobre isso, todos nós somos especialistas aqui. Nós falamos e
falamos, somos como os diplomatas. O que aconteceu no mundo? Costumava haver um
sistema bipolar. Com o colapso da União Soviética, o poder chamado União
Soviética deixou de existir. Todas as regras que regem as relações
internacionais após a Segunda Guerra Mundial foram projetadas para um mundo
bipolar. É verdade, a União Soviética era referida como “o Alto Volta com
mísseis”. Talvez por isso havia um monte de mísseis. Além disso, tivemos
políticos brilhantes tais como Nikita Khrushchev, que martelou a mesa com o
sapato na ONU. E o mundo inteiro, principalmente os Estados Unidos, e a OTAN
pensaram: este Nikita é melhor deixá-lo sozinho, ele pode simplesmente ir e
disparar um míssil, eles têm muitos deles, devemos mostrar que é melhor ter um
pouco de respeito por eles.
Agora
que a União Soviética se foi, qual é a situação e quais são as tentações? Não
há necessidade de se levar em conta a opinião da Rússia, é muito dependente,
ela passou por uma transformação durante o colapso da União Soviética, e nós podemos
fazer o que quisermos, ignorando todas as regras e regulamentos.
Isto é exatamente o que está acontecendo. Dominique
aqui mencionou o Iraque, a Líbia, o Afeganistão e a Iugoslávia antes disso.
Isso foi realmente monobrado tudo dentro do âmbito do direito internacional?
Não nos digam esses contos-de-fadas.
Isso
significa que alguns podem ignorar tudo, enquanto que nós não podemos proteger
os interesses da população de língua russa e da população russa da Criméia.
Isso não vai acontecer.
Eu gostaria que todos entendessem isso. Nós precisamos
nos livrar dessa tentação de tentar organizar o mundo ao seu gosto, e criar um
sistema equilibrado de interesses e relações que há muito tem sido prescrito no
mundo, nós só temos que mostrar algum respeito.
Como eu já disse, nós entendemos que o mundo mudou, e
nós estamos prontos para dar atenção a ele e ajustar o sistema de acordo, mas
nós nunca vamos permitir que ninguém ignore completamente os nossos interesses.
A
Rússia visa algum papel de liderança? Nós não precisamos ser uma superpotência;
isso apenas seria uma carga extra para nós. Já mencionei a floresta: ela é
imensa, ilimitada, e apenas para desenvolver os nossos próprios territórios nós
precisamos de muito tempo, energia e recursos.
Não temos necessidade de se envolver nas coisas, de
ordenar outros ao nosso redor, mas queremos que os outros fiquem fora dos
nossos assuntos e que parem de fingir que governam o mundo. Isso é tudo. Se há
uma área em que a Rússia poderia ser um líder — é em afirmar as normas da lei
internacional.
PERGUNTA
DE JORNALISTA: O processo de
paz entre palestinos e israelenses desabou completamente. Os Estados Unidos
nunca deixaram o grupo trabalhar corretamente. Ao mesmo tempo, o crescimento
dos assentamentos israelenses ilegais nos territórios ocupados torna impossível
a criação de um Estado palestino. Temos recentemente testemunhado um ataque
muito grave à Faixa de Gaza. Qual é a atitude da Rússia a esta situação tensa
no Oriente Médio? E o que você acha dos desenvolvimentos na Síria? Uma observação
para o senhor Villepin também. Você falou de humilhação. O que pode ser mais
humilhante do que a ocupação que a Palestina tem vindo a registrar todos esses
anos?
VLADIMIR
PUTIN: A respeito da Palestina e do conflito Israelense. É
fácil para mim falar sobre isso, porque, em primeiro lugar, eu tenho que dizer
e eu acredito que todos podem ver que as nossas relações com Israel se
transformaram seriamente na década passada. Refiro-me ao fato de que um grande
número de pessoas da antiga União Soviética vive em Israel e não podemos ficar
indiferentes à sua sorte. Ao mesmo tempo, temos relações tradicionais com o
mundo árabe, especificamente com a Palestina. Além disso, a União Soviética, e
a Rússia é seu sucessor legal, reconheceu o Estado palestino. Nós não estamos
mudando nada aqui.
Finalmente, em relação aos assentamentos. Partilhamos
da opinião dos principais participantes nas relações internacionais.
Consideramos isso um erro. Eu já disse isso aos nossos parceiros israelitas. Eu
acredito que este é um obstáculo para as relações normais e eu espero
fortemente que a prática em si será interrompida e todo o processo de uma
solução pacífica irá retornar ao seu curso legal com base no acordo.
Nós procedemos a partir do fato de que esse conflito
no Oriente Médio é uma das principais causas de desestabilização não só na
região, mas também no mundo em geral. A humilhação de quaisquer pessoas que
vivem na área, ou em qualquer outro lugar no mundo é claramente uma fonte de
desestabilização e deve ser feito de fora. Naturalmente, isso deve ser feito
usando de tais meios e medidas que seriam aceitáveis para todos os
participantes do processo e para todos os que vivem na área. Este é um processo
muito complicado, mas a Rússia está pronta para usar todos os meios que possui
para este assentamento, incluindo as suas boas relações com as partes
envolvidas neste conflito.
DIRETOR
DO CENTRO DE ESTUDOS DE CONFLITO E POLÍTICA DE KIEV, MIKHAIL POGREBINSKY: Senhor
Presidente, eu vim da Ucrânia. Pela primeira vez em 70 anos, ela está passando
por tempos muito difíceis. A minha pergunta tem a ver com a possibilidade de um
acordo. Neste contexto, gostaria de voltar na história. Você mencionou que
houve um momento em que um formato trilateral estava sob consideração:
Rússia-Ucrânia-Europa. Naquela época, a Europa não concordava com ele, depois
que uma série de trágicos acontecimentos ocorreram, incluindo a perda da
Criméia, a morte de milhares de pessoas e assim por diante.
Recentemente, a Europa juntamente com a Ucrânia e a
Rússia concordaram que este formato é possível afinal de contas; além disso, a
resolução correspondente foi aprovada. Naquele momento, havia a esperança de
que a Rússia, juntamente com a Europa e a Ucrânia conseguiriam chegar a um
acordo e poderia se tornar a restaurar a paz na Ucrânia. O que aconteceu
depois? O que aconteceu entre Moscou e Bruxelas, Moscou e Berlim — por que
agora a situação parece completamente insana? Não está claro aonde isso pode
levar. O que você acha que aconteceu para a Europa?
VLADIMIR
PUTIN: Você sabe, o que aconteceu pode ser descrito como
nada aconteceu. Acordos foram alcançados, mas nenhum dos lados o cumpriu na
íntegra. No entanto, o cumprimento integral por ambos os lados pode ser
impossível.
Por exemplo, unidades do exército ucraniano deveriam
deixar determinados locais onde eles estavam estacionados antes dos acordos de
Minsk, enquanto a milícia do exército deveria deixar certos assentamentos que
eles estavam guardando antes desses acordos. No entanto, nem o exército
ucraniano retirou-se dos locais que eles deveriam deixar, nem a milícia do
exército retirou-se dos assentamentos de onde tinham de sair, referindo-se, e
eu vou ser franco agora — para o fato de que suas famílias permaneciam lá (eu
quero dizer a milícia) e temiam pela sua segurança. Suas famílias, suas esposas
e filhos vivem lá. Este é um fator humanitário sério.
Estamos prontos para fazer todos os esforços para
garantir a implementação dos acordos de Minsk. Eu gostaria de aproveitar a sua
pergunta para salientar a posição da Rússia: somos a favor do cumprimento
integral dos acordos de Minsk por ambos os lados.
Qual é o problema? Em minha opinião, o principal
problema é que não vemos o desejo, por parte dos nossos parceiros em Kiev,
principalmente das autoridades, para resolver o problema das relações com a
sudeste do país de forma pacífica, através de negociações. Continuamos vendo a
mesma coisa de várias formas: supressão pela força. Tudo começou com Maidan,
quando decidiram suprimir Yanukovych pela força. Eles conseguiram e levantaram
esta onda de nacionalismo e então tudo se transformou em alguns batalhões
nacionalistas.
Quando as pessoas no sudeste da Ucrânia não gostaram,
eles tentaram eleger seus próprios grupos de governo e de gestão e eles foram
presos e levados para a prisão em Kiev, durante a noite. Então, quando as
pessoas viram que isso aconteceu e levou às armas, em vez de pararem e,
finalmente, recorrerem ao diálogo pacífico, enviaram tropas para lá, com
tanques e aviões.
Aliás, a comunidade global se mantém em silêncio, como
se ela não visse nada disso, como se não existisse tal coisa como “o uso
desproporcional da força”. Eles, de repente, se esqueceram de tudo. Lembro-me
de todo o frenesi em torno de quando tivemos uma situação complicada no
Cáucaso. Eu ouvia uma única e a mesma coisa todos os dias. Não há mais tais
palavras hoje, não mais “o uso desproporcional da força”. E isso é assim,
enquanto que as bombas de fragmentação, e até mesmo armas táticas, estão sendo
usadas.
Você veja, sob estas circunstâncias, é muito difícil
para nós, na Rússia, organizar o trabalho com as pessoas no sudeste da Ucrânia
de uma maneira que iria levá-los a cumprirem integralmente a todos os acordos.
Eles continuam dizendo também que as autoridades de Kiev não cumprem integralmente
os acordos. Entretanto, não há outra maneira. Eu gostaria de salientar que
somos a favor da plena implementação dos acordos por ambas as partes, e a coisa
mais importante que eu quero dizer — e eu quero que todo mundo ouça isso — se,
Deus nos livre, qualquer um está tentado novamente a usar a força para a
resolução definitiva da situação no sudeste da Ucrânia, isso irá levar a
situação para um impasse total.
Em minha opinião, ainda há uma chance de se chegar a
um acordo. Sim, Wolfgang falou sobre isso, eu o entendi. Ele falou sobre as
próximas eleições na Ucrânia e no sudeste do país. Nós sabemos e estamos
constantemente discutindo isso. Ainda esta manhã, tive outra conversa com a
chanceler da Alemanha sobre o assunto. Os acordos de Minsk não estipulam que as
eleições no sudeste devam ser realizadas em coordenação com a legislação
ucraniana, e não sob a lei ucraniana, mas em coordenação com ela.
Isso foi feito de propósito, porque ninguém no sudeste
quer realizar eleições em conformidade com a lei ucraniana. Por que? Como isso
pode ser feito, quando estão atirando todos os dias, pessoas são mortas em
ambos os lados e eles têm que realizar eleições sob a lei ucraniana? A guerra
deve finalmente parar e as tropas devem ser retiradas. Entende? Quando isto for
alcançado, podemos começar a considerar qualquer tipo de aproximação ou de
cooperação. Até que isso aconteça, é difícil falar sobre qualquer outra coisa.
Falaram da data das eleições, no sudeste, mas poucos
sabem que houve um acordo de que as eleições no sudeste da Ucrânia devam ser
realizadas em 3 de novembro. Mais tarde, a data foi alterada na lei
correspondente, sem consultar ninguém, sem consultar o sudeste. As eleições
foram marcadas para 7 de dezembro, mas ninguém falou com eles. Portanto, as pessoas
no sudeste dizem: “Veja, eles estão nos enganando de novo e isso vai ser sempre
assim”.
Você pode discutir sobre isso como você quiser. A
coisa mais importante é parar imediatamente a guerra e mover as tropas para
longe. Se a Ucrânia quer manter a sua integridade territorial, e isso é algo
que queremos também, eles precisam entender que não há sentido em defender
alguma aldeia ou outra – isso não faz sentido. A ideia é parar com o
derramamento de sangue e começar um diálogo normal, para construir relações com
base neste diálogo e restaurar pelo menos algum tipo de comunicação,
principalmente na economia e, gradualmente, as outras coisas se seguirão. Eu
acredito que isto é o que deve ser alcançado em primeiro lugar e, então,
podemos seguir em frente.
PROFESSOR
DE CIÊNCIA POLÍTICA, DIRETOR DO CENTRO DE GOVERNANÇA E POLÍTICAS PÚBLICAS DA
UNIVERSIDADE DE CARLETON (OTTAWA), PIOTR DUTKIEWICZ:
Senhor Presidente, se eu puder gostaria de voltar à questão da Criméia, porque
é de importância fundamental, tanto para o Oriente quanto para o Ocidente. Eu
gostaria de pedir-lhe para nos dar a sua imagem dos eventos que levam a ele,
especificamente, por que você tomou essa decisão. Seria possível fazer as
coisas de uma forma diferente? Como você fez isso? Há detalhes importantes —
como a Rússia fez isso dentro da Criméia. Por fim, como você vê as
consequências desta decisão para a Rússia, para a Ucrânia, para a Europa e para
a ordem mundial normativa? Estou perguntando isso porque eu acredito que
milhões de pessoas gostariam de ouvir a sua reconstrução pessoal desses eventos
e do jeito que você tomou a decisão.
VLADIMIR
PUTIN: Eu não sei quantas vezes eu já falei sobre isso, mas
vou fazê-lo novamente. Em 21 de fevereiro, Viktor Yanukovych assinou os
documentos conhecidos com a oposição. Os Ministros dos Relações Exteriores de
três países europeus assinaram seus nomes sob este acordo como garantidores da
sua implementação.
Na noite de 21 de fevereiro, o presidente Obama me
chamou e discutimos estas questões e como iríamos ajudar na implementação
desses acordos. A Rússia se comprometia com certas obrigações. Ouvi dizer que o
meu colega americano também estava pronto para realizar algumas obrigações.
Esta foi a noite do dia 21. No mesmo dia, o presidente Yanukovych me ligou para
dizer que assinou o acordo, a situação se estabilizou e ele estava indo para
uma conferência em Kharkov. Eu não vou esconder o fato de que eu expressei a
minha preocupação: como era possível deixar a capital nesta situação. Ele
respondeu que achava que era possível porque havia o documento assinado com a
oposição e estava garantida por ministros das Relações Exteriores dos países
europeus.
Eu vou lhe dizer mais, eu lhe disse que não tinha
certeza de que tudo ficaria bem, mas era ele que tinha de decidir. Ele era o
presidente, ele conhecia a situação, e ele sabia melhor o que fazer. “Em todo
caso, eu não acho que você deva retirar as forças policiais de Kiev”, eu disse
a ele. Ele disse que entendia. Em seguida, ele saiu e deu ordens para retirar
todas as tropas policiais de Kiev. Bela jogada, é claro.
Nós todos sabemos o que aconteceu em Kiev. No dia
seguinte, apesar de todas as nossas conversas telefônicas, apesar das
assinaturas dos ministros das Relações Exteriores, assim que Yanukovych deixou
Kiev, seu governo foi tomado pela força, juntamente com o prédio do governo. No
mesmo dia, eles dispararam contra o cortejo do Procurador-Geral da Ucrânia,
ferindo um dos guardas de segurança.
Yanukovych me ligou e disse que gostaria de nos
reunirmos para conversar sobre isso. Eu concordei. Eventualmente, nós
combinamos de nos encontrar em Rostov, porque era mais perto e ele não queria
ir muito longe. Eu estava pronto para voar para Rostov. No entanto,
descobriu-se que ele não conseguiria nem chegar até lá. Eles já estavam
começando a usar a força contra ele, segurando-o sob a mira de uma arma. Eles
não estavam muito certos para onde ir.
Eu não vou esconder isso; nós o ajudamos a chegar na
Criméia, onde permaneceu por alguns dias. Isso quando a Criméia ainda fazia
parte da Ucrânia. No entanto, a situação em Kiev foi se desenvolvendo muito
rapidamente e violentamente, nós sabemos o que aconteceu, embora o público em
geral não saiba — pessoas foram mortas, elas foram queimadas vivas lá. Eles
vieram para o escritório do Partido das Regiões, apreenderam os trabalhadores
técnicos e os mataram, queimaram-nos vivos no porão. Nestas circunstâncias, não
havia nenhuma maneira de que ele pudesse voltar para Kiev. Todo mundo
esqueceu-se dos acordos com a oposição, assinados pelos ministros de Relações
Exteriores e de nossas conversas telefônicas. Sim, eu vou lhe dizer francamente
que ele nos pediu para ajudá-lo a chegar à Rússia, o que nós fizemos. Isso foi
tudo.
Vendo esses acontecimentos, as pessoas na Criméia
levantaram quase que imediatamente os braços e pediram-nos ajuda na organização
dos eventos que pretendiam realizar. Vou ser franco; usamos nossas Forças
Armadas para bloquear as unidades ucranianas estacionadas na Criméia, mas não
forçamos ninguém a participar das eleições. Isso é impossível, são todos
adultos e você entende isso. Como poderíamos fazer isso? Conduzir as pessoas
aos locais de votação sob a mira de uma arma?
As pessoas foram votar como se fosse uma festa, todo
mundo sabe disso, e todos eles votaram, até mesmo os tártaros da Criméia. Havia
menos tártaros da Criméia, mas a votação global foi elevada. Enquanto o comparecimento
na Criméia, em geral, foi de cerca de 96 ou 94 por cento, um número menor de
tártaros da Criméia apareceu. No entanto 97 por cento deles votaram “sim”. Por
quê? Porque aqueles que não queriam não foram aos locais de votação, e aqueles
que tinham votado “sim” foram.
Já falei do lado legal da questão. O Parlamento da
Criméia se reuniu e votou a favor do referendo. Aqui, novamente, como alguém
poderia dizer que várias dezenas de pessoas foram arrastadas para o parlamento
para votar? Isso nunca aconteceu e era impossível: se alguém não quer votar
eles iriam entrar em um trem ou avião, ou em seu carro e iriam embora.
Todos eles vieram e votaram a favor do referendo e, em
seguida, as pessoas vieram e votaram a favor da adesão à Rússia, isso é tudo.
Como isto irá influenciar as relações internacionais? Nós podemos ver o que
está acontecendo; no entanto, se nós nos abstivermos de utilizar os chamados
padrões dúbios e aceitarmos que todas as pessoas têm direitos iguais, isso não
teria qualquer influência. Temos de admitir o direito daqueles povos à
autodeterminação.
Traduzido por Dionei Vieira
do artigo do Lew Rockwell: Vladimir Putin Is The Leader Of the Moral World
Fonte:
www.juliosevero.com
Leitura
recomendada:
15 comentários :
Não vou entrar nos meandros da informação e desinformação, pois é um universo grande demais para mim. Mas muitos direitistas acusam a grande mídia do Brasil de ser esquerdista. No mesmo tom de voz imperiosa, acusam Putin de ser comunista. Mas, fato interessante, quando Putin aprova uma lei que proíbe a propaganda homossexual para crianças na Rússia, a suposta aliada dele no Brasil — a grande mídia — parte para o ataque. A direita? Fica quietinha. Quando Putin reanexa a Crimeia, a grande mídia brasileira, acusada de ser eterna cúmplice de comunistas, parte para o ataque a Putin, juntando-se assim a uma direita brasileira que muitas vezes confunde a época, achando que estamos na guerra fira, ou confude o país, achando que temos a obrigação de lutar até morrer pelo ultra-nacionalismo americano. Putin fez esse discurso, com o qual não concordo em certos pontos, mas fui democrático o suficiente para publicar sua tradução, que havia sido solicitada por mim. A Folha de S. Paulo, o Estado de S. Paulo, a TV, Globo e todos os grandes e até pequenos meios de comunicação do Brasil não publicaram. A grande mídia do Brasil é tão comunista que na hora de lidar com Putin e a Crimeia, prefere se juntar à direita para atacar Putin, considerado por essa mesma direita como um imperador comunista. Fica então a questão: a grande mídia brasileira não publicou o discurso de Putin porque é comunista e não viu comunismo no discurso dele. A direita basileira não publicou porque é anticomunista e só viu comunismo no discurso dele. Essa discordância parece o quadro do pessimista, que ao ver um copo de água pela metade, diz que o copo está quase vazio. Já o otimista diz que está quase cheio. Estou com o otimista.
Puxa, Júlio, que tiro certeiro! Certíssimo, pois tanto a imprensa esquerdopata quanto a direitona censuraram TOTALMENTE este discurso. Parabéns por dar informações a nos que nenhum dos dois lados aceita.
O que estaria por trás da censura dos dois lados?
Angelo.
Senhor Severiano: a nossa teologia reforma aponta bem cristalinamente a Igreja Católica e a Igreja Ortoxoxa Russa como apóstatas. Porém o senhor insiste em banalizar o passado macabro de ambas para valorizar exclusivamente suas posturas morais da atualidade. E daí se a Igreja Católica é contra o aborto e a homossexualidade? E daí se a Igreja Ortodoxa tem a mesma postura conservadora? Ambas não deixam de ser apóstatas e um passado encharcado de sangue. O senhor peca ao não levar em conta que por trás do suposto conservadorismo de ambas está o próprio Satanás. O verdadeiro conservadorismo vem dos reformados. Pense nisto, senhor severo, antes de dizer bobagens.
Thiago
Os reformados são o primor do conservadorismo nos dias de hoje?
Faz-me rir!
Já foram... Mas o fermento do pecado e das doutrinas humanistas gnósticas levedaram a massa.
Quem mais apoia o gayzismo, aborto, feminismo, e a maçonaria do que as Igrejas Reformadas?
Se isso for conservadorismo, Deus me livre de ser um conservador!
Os três ramos do cristianismo fermentaram com doutrinas de homens.
É preciso nos voltarmos ao fundamentalismo cristão (pentecostal ou não). Queimemos os livros desses teólogos se contradizem diante das Escrituras.
A ficha está caindo para mim. Hoje o Congresso dos EUA aprovou novas sanções contra a Rússia por causa da Ucrânia, isto é, conservadores e esquerdistas dos EUA se uniram contra a Rússia. Isto prova que o nacionalismo deles está acima de esquerda e direita. Quem foi o inteligente que disse que a esquerda é pró-Rússia e a direita é contra? A questão contra a Rússia não é ideológica; é nacionalista.
Ainda que Putin tenha boa vontade, os EUA tem poder. Quem manda neste mundo é quem tem poder, minha gente!
Procurei o discurso do Putin na Folha de São Paulo, na revista Veja, no Estado de São Paulo e outras. Nada encontrei. NADA!! Censura?
Eu particularmente não tenho nada contra o putin e muito menos contra a rússia. Mas, na minha humilde opinião, é preciso levar em conta a história do conservador putin, o oficial graduado da KGB, hoje FSB (que nunca o deixou de ser, pois só se sai de uma instituição dessas morto). Enfim, apresentar-se como o paladino da moralidade e com as melhores atitudes conservadoras, após ter despejado toneladas de lixo relativista e subvertido o território inimigo sempre foi o trabalho dos comunistas. Esta é e sempre foi a função precípua da KGB. Putin está certíssimo neste seu belo discurso ao criticar o "niilismo legal" e as políticas autoritárias e irracionais definidas no "centro de poder único do mundo", subjulgando culturas, povos e nações inteiras aos desmandos de uma "elite iluminada" cínica, fria e que se auto-outorga o papel de conduzir os rumos da humanidade. Qualquer imbecil sabe que o país que hoje mais difunde estas pautas consideradas "progressistas" para o resto do mundo, de fato são os EUA. Este é o preço de se ter promovido a liberdade sem limites e a democracia à qualquer custo. A democracia dá voz à quem não merece falar, dá ouvidos ao que não merece ser escutado e abre espaços ao que merece ser desprezado. As sociedades mais livres e abertas ao multiculturalismo são aquelas mais propensas à serem infiltradas e implodidas desde dentro. À medida que as diferenças raciais vão sendo eliminadas, mais grupos e culturas vão sendo aderidas, quanto mais se fala em igualdade, de "generos" e de oportunidades, mais o ódio e a maldita "luta de classes" se fazem presentes no seio da sociedade. Em todo o ocidente é assim. Enfim... Marx, gramsci, escola de frankfurt... Muito desse lixo ignorado por putin, deu origem, foi criado ou tem ligações com a revolução russa ou qualquer outra. O discurso mais parece o brinde da ascensão do todo poderoso, moral império eurasiano e suas colônias latinas, e à queda da américa imoral, niilista, ateísta e relativista.
Seu erro fatal, anônimo, é achar que os EUA eram puros e santos e que foi preciso uma União Soviética para contaminar os EUA. Mas, de acordo com os fatos, antes do nascimento da União Soviética, o relativismo moral já estava muito maduro na capital dos EUA. Confira: http://juliosevero.blogspot.com/2014/11/washington-dc-capital-do-governo.html
Sobre quem influenciou quem, não dá para aceitar uma versão de mão única. Mas de novo os fatos apontam que banqueiros americanos foram fundamentais no financiamento da União Soviética. Russos judeus, que queriam se livrar do czar que os perseguia, conseguiram o apoio desses banqueiros para financiar o nascimento da União Soviética. Confira: http://juliosevero.blogspot.com/2014/12/questoes-judaicas-um-esclarecimento-aos.html
Sobre império eurasiano, confira este texto que mostra que um dos grandes aliados islâmicos dos EUA quer criar um império eurasiano: http://juliosevero.blogspot.com/2014/11/ameaca-turca-se-erguendo-aliado-dos-eua.html
Apontar então que a Rússia, que é territorialmente o maior país do mundo desde os czares, quer um império e ao mesmo tempo esconder as pretensões da Turquia é vigarice profissional.
Bush foi diretor da CIA que, como se sabe, matava pessoas já desde o seu nascimento. Mas não vi você reclamar disso. Em matéria de serviço secreto, Putin e Bush têm seus segredos. Mesmo assim, apoiei Bush.
Por último, na luta contra a União Soviética (que banqueiros americanos ajudaram a financiar), os EUA criaram e financiaram as maiores organizações terroristas islâmicas da atualidade. Confira: http://juliosevero.blogspot.com/2014/11/obama-usando-experiencia-marxista-para.html
A União Soviética era uma ameaça? Sem dúvida. O papel dos EUA era inocente? De forma alguma, nem antes nem depois.
Gosto do teu blog pela riqueza de informações. Você é original e fala o que ninguém fala. Vá em frente, jovem!
Quer dizer que existe uma disputa entre E.U.A., Rússia e Túrquia para criar um império eurasiano?
Arnaldo
Se não fosse este blog o discurso fascinante do putin nunca teria chegado ao público nosso. Acompanho pelo sítio Mídia Sem Mascara os trabalhos de Lee Rockwel. Não é surpresa p saber que ele divulgou o discurso em inglês. Lee é um homem destemido. Não sou fã do putin, mas a fala do russo me apresentou um homem que toda a imprensa –direita e esquerda– prefere não mostrar.Parabéns ao Lee e ao Severo por este discurso.
Falando de Mídia Sem Mascara, eu costumava comentar lá quando o espaço de comentários existia. Já por muitos anos, a maioria dos comentaristas era católica e fazia defesa ferrenha de três posturas: a) ataque aos protestantes por tópicos insignificantes. Onde não havia tema religioso, eles enfiavam e brigavam.
b) manutenção da Igreja Católica Romana em estado absoluto de incriticabilidade.
c) igual manutenção de incriticabilidade para os EUA, com exceção de figuras como Obama e outros.
c) a demonizaão dos russos.
O que colhi da experiência foi: os comentaristas católicos são antiprotestantes, ou anti-evangélicos, como queira. São anti-russos possivelmente pelo fato iluminado pelo senhor Júlio semanas atrás de que Igreja Católica tem um confronte de quase mil anos com a Igreja Ortodoxa Russa.
O intrigante é que os comentaristas católicos tratam os EUA de hoje como se o Vaticano tivesse, espiritualmente, feito dos EUA a sua sede. No século XIX e começo do século passado, co s católicos atacavam os EUA protestante com unhas e dentes. Porém com a catolização cresente dos EUA os sentimentos se inverteram e hoje em dia os ataques se dirigem aos russos.
Os EUA se tornaram um Vaticano não oficial? A Rússia de hoje é os EUA de ontem, na mira católica?
DANIEL
ADIÇÃO: Lembre-mo-nos de que com a dominação de comentaristas católicas briguentos e hostis a evangélicos, o Mídia Sem Màcara cortou totalmente seu espaço de comentários, se livrando da pecha de site beato católico. Era impossível comentar ali sem ser trucidado por fanáticos católicos.
DANIEL
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