Crislamismo? Ou palestinianismo
cristão?
T. A. McMahon
Sempre
que nós, cristãos bíblicos, pensamos que as coisas não poderiam, de forma
alguma, ser mais absurdas no cristianismo, precisamos nos lembrar das
Escrituras, que nos dizem que chegará o tempo em que os cristãos não
suportarão a sã doutrina, e muitos corromperão a Palavra de Deus (2Tm 4.3; 2Co
2.17; 2 Pe 3.16). O apóstolo Paulo declara a Timóteo que aqueles que trazem
tais doutrinas enganarão as pessoas, desviando-as da verdade para fábulas, ou
seja, a mitos, de sua própria invenção (2Tm 4.4; Tt 1.14). Hoje, tais
ensinamentos e práticas estão crescendo a um ritmo alucinante – práticas que
variam do absurdo patente ao pérfido, e mesmo ameaçadoramente perigoso, tanto
espiritual quanto fisicamente.
Crislamismo?
Essa tentativa de combinar o cristianismo com o islamismo em um culto comum
seria uma piada sem graça se fosse uma questão de piada, mas está longe de
sê-lo. Da forma que entendo, esse ensinamento começou como uma maneira de
ajudar a impedir o genocídio e de trazer a paz entre muçulmanos e cristãos na
África. Sem dúvida, sincero em suas preocupações, contudo sinceramente errado.
Os muçulmanos que verdadeiramente seguem o Corão, e os cristãos que crêem naquilo
que a Bíblia apresenta, consideram o crislamismo como uma contradição blasfema
de suas crenças.
Por
quê? As diferenças, que são bastante aparentes, não podem ser
reconciliadas. Alá é um deus falso, criado pelo homem, e não tem nada a ver com
o Deus da Bíblia, que enviou Seu Filho, Jesus, para pagar a penalidade total
dos pecados do mundo (Jo 3.16). Alá não tem nenhum filho e condena a todos os
que crêem que ele tem (Surah 18.4-6; 23.91). Alá é uma entidade singular (Surah
4.171); o Deus da Bíblia é um Deus Triúno: um Deus – três Pessoas. Isa (Jesus)
do Alcorão não é Deus; ele é simplesmente um profeta de Alá (4.171). O Jesus
bíblico é Deus que se fez Homem (Jo 1.14; 10.33). Alá denigre os judeus (Surah
5.59-60); Deus se refere aos filhos de Israel como “a menina dos Seus olhos”
(Dt 32.9-10). O Hadith (as palavras que Maomé supostamente recebeu de Alá)
declara que o Dia do Julgamento de Alá não virá até que as rochas e as árvores
clamem para que os muçulmanos matem os judeus que estão escondidos atrás delas
(Livro Muçulmano do Sahih 041, Número 6981-4). Isso é anti-semitismo em sua
pior forma.
Os
ensinamentos fundamentais do islamismo e do cristianismo não permitem nenhuma
concessão. Qualquer um pode certamente acreditar ou formular seja o que for que
queira sobre o islamismo ou sobre o cristianismo, mas ninguém pode tornar tais
formulações compatíveis umas com as outras com base em qualquer um dos textos
sagrados de ambos. Não obstante, esse obstáculo não está impedindo as multidões
que estão permitindo que seus desejos atropelem sua razão. Além disso, tal
irracionalidade está sendo explorada por aqueles que têm como intenção uma “Fé
Compartilhada”.
Parece que a apostasia (o enfraquecimento da fé bíblica para
preparar o caminho para a religião do Anticristo) está se desenvolvendo de
maneira exponencial, e as contribuições estão sendo feitas através de uma
diversidade de intenções não-bíblicas. Uma delas, que é particularmente
agressiva tanto quanto malévola em seu ataque ao cristianismo bíblico, é
denominada “Palestinianismo Cristão” (PC). O termo foi cunhado por Paul
Wilkinson em seu livro For Zion’s Sake [Por Amor a Sião], que apresenta
as razões bíblicas pelas quais os cristãos precisam apoiar a restauração do
moderno Estado de Israel, uma empreitada conhecida como “Sionismo Cristão”. O
inimigo desse esforço se chama Palestinianismo Cristão, que inclui muito mais
do que uma preocupação a respeito da situação do chamado povo palestino.[1]
Seguem algumas citações de três fontes
anti-sionistas-cristãs que caracterizam o movimento:
É (...) uma compreensão totalmente errada da história da
salvação e uma perversão do plano de Deus que um cristão queira restabelecer
uma nação judaica como entidade política. (...) A consciência cristã sempre
discerniria qual é a vocação autêntica do povo judeu e qual é o outro lado da
moeda, ou seja, o Estado de Israel racista.[2]
Rejeitamos categoricamente as doutrinas cristãs sionistas
como sendo ensinamentos falsos que corrompem a mensagem bíblica de amor,
justiça e reconciliação. (...) Com urgência, admoestamos que o sionismo cristão
e suas alianças estão justificando a colonização, o apartheid e a construção de
um império.[3]
A visão mundial do sionismo cristão terá conseqüências
cataclísmicas para uma paz religiosamente integrada e duradoura na
Palestina/Israel.[4]
Que horror! Vemos o apartheid em Israel![5]
A
última citação em apoio à causa palestina é do arcebispo Desmond Tutu, que
iguala a condição [em Israel] a regimes de “Hitler, Mussolini, Stalin,
Pinochet, Milosevic e Idi Amin”.[5]
Em
um livrete intitulado Prophets Who Prophesy Lies in My Name – Christian
Palestinianism and the Anti-Israel Crusade [Profetas que Profetizam
Mentiras em Meu Nome – o Palestinianismo Cristão e a Cruzada Anti-Israel], Paul
Wilkinson começa citando o que o Senhor falou a Jeremias com relação àqueles
que profetizavam contrariamente à Sua Palavra: “Assim diz o Senhor dos
Exércitos: Não deis ouvido às palavras dos profetas que entre vós profetizam e
vos enchem de vãs esperanças; falam as visões do seu coração, não o que vem da
boca do Senhor. (...) Não mandei esses profetas; todavia, eles foram correndo;
não lhes falei a eles; contudo, profetizaram. (...) Eis que eu sou contra os
que profetizam sonhos mentirosos, diz o Senhor, e os contam, e com as suas mentiras
e leviandades fazem errar o meu povo” (Jr 23.16-32).
O
aspecto mais chocante do que Wilkinson descreve não é apenas o fato de que
esses “profetas” dos dias de hoje estão ensinando “que Deus rejeitou Israel e o
substituiu pela Igreja”, ou que eles estão tentando reunir forças através da
Igreja para combater Israel política, econômica e teologicamente; acontece que
muitos são líderes cristãos altamente reconhecidos, que professam ser
evangélicos, isto é, cristãos crentes na Bíblia!
Em
sua maioria, esses falsos “profetas” apresentam um verniz de ensinamentos
bíblicos, mas são raramente desafiados quando saem da linha porque o
cristianismo evangélico atual tem sido quase que desprovido de discernimento
bíblico, graças a (ou, pelo contrário, infelizmente, por causa de) décadas de
condicionamento através de táticas de mercado de busca de sensibilidade e de
crescimento de igreja. Essa abordagem para atrair os “não-igrejados” e os
não-salvos para a igreja empurrou o ensinamento bíblico para os fundos, se é que
ele foi de alguma forma implementado. A convicção do pecado e outros
ensinamentos bíblicos que podem ofender os novos freqüentadores foram
substituídos por “mensagens positivas” e entretenimento para os jovens e também
para os adultos. O emburrecimento geral e a incapacide de discernimento bíblico
foi o resultado, e o corpo de Cristo está hoje colhendo as trágicas
conseqüências.
Por
exemplo, Wilkinson apresenta uma litania de erros bíblicos ensinados por
aqueles que promovem o palestinianismo cristão, que deveriam ser facilmente
reconhecidos e rejeitados por todos os crentes:
Todos os elementos básicos da escatologia sionista cristã
são invertidos, de forma que a Bíblia é vista como sendo cristã, não judaica; a
terra da Bíblia como sendo a Palestina, não Israel; o Filho de Deus como sendo
um palestino, não um judeu; o Holocausto visto como ressentimento, não
relembrado; 1948 sendo uma catástrofe, não um milagre; os judeus como sendo
ocupantes ilegais, não proprietários de direito; e a profecia bíblica sendo um
manifesto moral, e não um sinal da Segunda Vinda.[6]
Nem
todos os líderes cristãos que apóiam o palestinianismo cristão defenderiam
todas essas crenças acima mencionadas, mas todos eles o promovem de forma geral
e em oposição ao que a Bíblia declara profeticamente. O cabeça não-oficial
desse movimento é um sacerdote anglicano chamado Stephen Sizer, cuja igreja é
membro da Aliança Evangélica e da Associação Willow Creek de Igrejas. (Lynne
Hybels, a esposa do pastor da Igreja Comunidade Willow Creek, é patrocinadora
de Sizer. Ela rejeita o moderno Estado de Israel como sendo o cumprimento de
profecia.) O primeiro livro de Sizer, Christian Zionism: Road Map to
Armageddon? [Sionismo Cristão: o Mapa Para o Armagedom?] recebeu inúmeros
endossos de líderes evangélicos. Wilkinson observa que os resenhistas elogiaram
o livro como sendo “o mais importante e o mais abrangente sobre o assunto até
hoje”, e “o tratamento erudito para contrapor-se ao bando fanático por
profecias” (itálico acrescentado), condenando o sionismo cristão como
“pernicioso”, uma “ameaça totalmente não-bíblica”, “uma força poderosa que
encoraja a destruição de milhões de pessoas”, e “um dos movimentos mais
perigosos e heréticos do mundo, que insufla o conflito árabe-israelense”.[7]
Sizer
resume suas crenças apresentadas em Christian Zionism [Sionismo
Cristão]:
Em toda a história só houve um único povo de Deus: “a
Igreja”. Todas as alianças bíblicas estão incluídas na aliança da graça. O povo
judeu, como uma nação étnica, cumpriu seu papel na história, que foi o de
preparar o caminho para a Igreja/o Cristianismo. A Igreja é o novo Israel,
ampliado por Cristo para abranger todos os povos.
O
segundo livro de Sizer, Zion’s Christian Soldiers? [Soldados Cristãos de
Sião?] contém um sermão do erudito evangélico John Stott, que caracteriza o
sionismo cristão como “biblicamente um anátema à fé cristã”.
Embora
os livros de Sizer sejam apenas uns poucos dentre os proliferantes títulos que
fazem oposição a Israel, ao sionismo e ao sionismo cristão, eles são um sinal
que revela as crenças daqueles evangélicos altamente influentes que endossaram
sua posição e seus escritos. Quem são eles? Hank Hanegraaff é conhecido por
milhares de evangélicos como o chefe do ministério apologético bíblico
Christian Research Institute [Instituto Cristão de Pesquisas] e apresentador do
programa de rádio chamado Bible Answer Man [O Homem da Resposta
Bíblica]. Ele escreve:
O [livro] Christian Zionism [Sionismo Cristão] de
Sizer demonstra dramaticamente como um movimento religioso politizado, com um
pedigree dúbio, é a prescrição para o desastre. De caricaturar os árabes até
catalisar o Armagedom, as crenças e os comportamentos sionistas cristãos são a
antítese do cristianismo bíblico.[8]
A
perspectiva de Hanegraaff não é recente, de maneira
nenhuma. Anteriormente ele associou-se a D. James Kennedy, da Igreja
Presbiteriana Coral Ridge. A escatologia do seminário dessa igreja estava sendo
demonstrada claramente, em 2002, quando o corpo docente, juntamente com seu
fundador, líder, presidente e professor de Evangelismo (Kennedy), apresentaram
“Uma Carta Aberta aos Evangélicos e a Outras Partes Interessadas: O Povo de
Deus, a Terra de Israel, e a Imparcialidade do Evangelho”. Essa declaração
negava que os descendentes físicos de Abraão, Isaque e Jacó (isto é, os judeus)
tivessem quaisquer bênçãos ou lugar especial nas profecias, quanto mais
qualquer reivindicação sobre a terra de Israel. Ela foi inicialmente assinada
por 71 líderes evangélicos, dentre os quais R. C. Sproul e Michael S. Horton. O
documento declara:
Seção VI:
As promessas de herança que Deus deu a Abraão (...) não se aplicam a qualquer
grupo étnico específico, mas à Igreja de Jesus Cristo, o verdadeiro Israel.
(...) Seção IX: O direito de posse de qualquer grupo étnico ou religioso
ao território no Oriente Médio, chamado a “Terra Santa”, não encontra apoio nas
Escrituras. Na verdade, as promessas de terra específicas para Israel
(significando a Igreja) no Antigo Testamento foram cumpridas no governo de
Josué.
Gilbert
Bilezikian foi um dos fundadores (com Bill Hybels) da Igreja Comunidade Willow
Creek. Este é seu endosso do livro de Sizer:
Algumas teologias, que fazem Israel central aos propósitos
de Deus e aos processos da história, reduzem a Igreja ao status de concubina,
enquanto que Israel se torna a Noiva. O trabalho de Sizer fornece um lembrete
oportuno de que, de acordo com o Novo Testamento, o povo de Deus deve ser
identificado com base na graça, e não na raça.[9]
Tony
Campolo é um famoso pastor batista, palestrante em conferências de jovens
evangélicos, e professor de sociologia na Universidade Eastern, na
Pennsylvania. Ele enaltece
o livro de Sizer:
Um levantamento abrangente que descreve como os cristãos
abraçaram uma perspectiva teológica que encoraja a justiça para os judeus, mas
também levou a opressão ao povo palestino e extrema hostilidade entre cristãos
e muçulmanos no mundo todo.[10]
Em
outro lugar, ele escreve:
As ameaças mais sérias ao bem-estar dos palestinos em geral,
e aos palestinos cristãos em particular, vêm não dos judeus, mas dos cristãos
sionistas aqui nos Estados Unidos. Com essa teologia, chamada
“Dispensacionalismo”, eles argumentam que, de acordo com sua interpretação de
Gênesis 15.18-21, a Terra Santa deveria pertencer exclusivamente aos
judeus. Eles contendem que toda essa terra foi prometida à descendência
de Abraão...
Brian McLaren, o escritor mais influente do Movimento da
Igreja Emergente, cuja origem é com os Plymouth Brethren (Igreja dos Irmãos), obviamente
abandonou a fé de seus primeiros dias, à medida que declara que existe uma
necessidade de confrontar as teologias terríveis,
mortais, distorcidas, no entanto, populares, associadas com o sionismo cristão
e com o dispensacionalismo determinista, [que] usa um cenário falsificado de
fim do mundo para criar um tipo de desejo mortal pela Terceira Guerra Mundial,
que – a menos que seja mais robustamente confrontado por nós – poderia
facilmente criar uma profecia que se cumpriria a si mesma.[11]
O ex-presidente Jimmy Carter pode parecer fora de lugar
dentre os teólogos evangélicos aqui apresentados como defensores do
Palestinianismo Cristão, mas este não é o caso. O livro que ele escreveu, Palestine: Peace Not Apartheid
[Palestina: Paz, Não Apartheid], incorpora tudo o que os acima mencionados
reivindicam, em sua oposição a Israel e à Palavra de Deus. Além disso, ele terá
a oportunidade de espalhar suas crenças espúrias entre ainda mais evangélicos,
uma vez que recentemente assinou um acordo para escrever mais três livros para
a editora evangélica Zondervan.
Esses falsos ensinamentos não são nem obscuros nem novos.
Homens como Agostinho (354-430 d.C.), Martim Lutero (1483-1546), e João Calvino
(1509-1564) fizeram substanciais contribuições a tais crenças não-bíblicas. O
que é novo é a incrível velocidade com a qual eles estão sendo recebidos.
Quando os discípulos perguntaram a Jesus sobre os dias anteriores à Sua vinda,
Ele os caracterizou como um tempo de grande engano (Mt 24). É exatamente o que
estamos vendo em nossos dias, e, portanto, precisamos atender às Suas palavras.
A advertência de Paulo aos anciãos de Éfeso (At 20.28-31) também se aplica
aqui: “Atendei por vós e por todo o rebanho
sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos, para pastoreardes a igreja
de Deus, a qual ele comprou com o seu próprio sangue. Eu sei que, depois da
minha partida, entre vós penetrarão lobos vorazes, que não pouparão o rebanho.
E que, dentre vós mesmos, se levantarão homens falando coisas pervertidas para
arrastar os discípulos atrás deles. Portanto, vigiai, lembrando-vos de que, por
três anos, noite e dia, não cessei de admoestar, com lágrimas a cada um”. A principal medida preventiva contra ser pego no crescente engano
de nossos dias é uma vida disciplinada estudando e vivendo a Palavra de Deus.
Senhor, ajuda-nos nesse propósito. (T. A. McMahon – www.thebereancall.org – http://www.beth-shalom.com.br)
Notas:
- Dave Hunt, O
Dia do Juízo.
- The Institute for Palestine Studies [Instituto de
Estudos Palestinos], 1970.
- “The Jewish Declaration on Christian Zionism”, [A
Declaração Judaica Sobre o Sionismo Cristão], 2006.
- General Assembly of the Church of Scotland
[Assembléia Geral da Igreja da Escócia], 2007.
- Tutu, Prefácio, Speaking the Truth [Falando a Verdade], Michael
Prior, ed., 2005.
- Wilkinson, Prophets
[Profetas], p. 51.
- Prophets, p. 10.
- Prophets, p.11.
- Prophets, p.11.
- Prophets, p. 11.
- Prophets, p. 42.
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